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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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<strong>de</strong>bilitada sob a influência da déca<strong>de</strong>nce, e assim, “nunca se age mais rápida e cegamente<br />

do que quando absolutamente não se <strong>de</strong>veria reagir”: “A vonta<strong>de</strong> é fraca: e a receita para<br />

prevenir coisas tolas seria ter uma vonta<strong>de</strong> forte e não fazer nada... Contradictio... Uma<br />

espécie <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>struição, o instinto <strong>de</strong> conservação está comprometido... A <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong><br />

prejudica a si mesma... esse é o tipo <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce...” (VP §45).<br />

Sob a égi<strong>de</strong> da déca<strong>de</strong>nce, então, toda conduta individual e coletiva dirige-se para o<br />

aniquilamento. Nesse sentido, os caluniadores e os <strong>de</strong>struidores encontram espaço; o vício,<br />

o estado doentio, a criminalida<strong>de</strong>, o histerismo, o alcoolismo, o pessimismo, o anarquismo<br />

e a libertinagem se propagam <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>sbragada. Estas práticas déca<strong>de</strong>nts – que<br />

po<strong>de</strong>m ser resumidas como um seguir sem freios <strong>de</strong>sejos monstruosos – <strong>de</strong>bilitam ainda<br />

mais o já <strong>de</strong>bilitado homem déca<strong>de</strong>nt, substituindo, paulatinamente, a excitabilida<strong>de</strong>, por<br />

um profundo esgotamento, cansaço e <strong>de</strong>sgosto com a vida. E aqui, presenciamos, então, o<br />

ciclo vicioso da <strong><strong>de</strong>cadência</strong>: quanto mais o corpo e a cultura <strong>de</strong>smoronam, mais os<br />

indivíduos procuram ativamente os meios <strong>de</strong> acelerar esse <strong>de</strong>smoronamento e, enfim,<br />

aniquilarem-se por completo.<br />

Frente ao que está sendo dito, po<strong>de</strong>mos já compreen<strong>de</strong>r a fórmula da déca<strong>de</strong>nce<br />

anunciada por Nietzsche: “A prepon<strong>de</strong>rância dos sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprazer sobre os<br />

sentimentos <strong>de</strong> prazer [...] transmite a fórmula da déca<strong>de</strong>nce” (AC §15). Ora, para o<br />

homem <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, prazer e <strong>de</strong>sprazer se convertem em um problema <strong>de</strong> primeira<br />

magnitu<strong>de</strong> (VP §43). Contudo, só para o homem déca<strong>de</strong>nt, pois caso ele estivesse disposto<br />

<strong>de</strong> acordo com a morfologia da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência, os sentimentos <strong>de</strong> prazer e <strong>de</strong>sprazer<br />

seriam simples fenômenos secundários. O homem saudável não tem como meta a busca do<br />

prazer e o afastamento do <strong>de</strong>sprazer: o que ele busca, o que ele quer é mais potência. Desta<br />

aspiração por um plus <strong>de</strong> potência fazem parte tanto o prazer quanto o <strong>de</strong>sprazer. O<br />

<strong>de</strong>sprazer, concebido por Nietzsche como obstáculo ao sentimento <strong>de</strong> potência, à<br />

ampliação da potência constitui-se como um fato normal, como o ingrediente normal <strong>de</strong><br />

todo fenômeno orgânico. O homem saudável não evita o <strong>de</strong>sprazer, ao contrário, tem<br />

contínua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le; afinal, qualquer vitória, qualquer sentimento <strong>de</strong> prazer,<br />

qualquer acontecimento pressupõe uma resistência vencida. Ao opor-se à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

potência, o <strong>de</strong>sprazer se converte para o homem são em estímulo, <strong>de</strong>safio. Para o homem<br />

déca<strong>de</strong>nt, porém, não é possível assimilar o <strong>de</strong>sprazer como estímulo – este homem, por<br />

ser incapaz <strong>de</strong> resistência, tem no <strong>de</strong>sprazer uma profunda diminuição e <strong>de</strong>pressão da sua<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência. Para esses dois tipos, também o prazer consiste em sentimentos bem<br />

distintos: ao saudável, prazer significa vitória, sobreposição aos obstáculos; ao déca<strong>de</strong>nt,<br />

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