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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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inevitável – tal como a morte nos seres vivos. De acordo com a filosofia nietzschiana,<br />

porém – sendo isso o que a noção <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce vem firmar –, o perecimento, isto é, a<br />

<strong>de</strong>sestruturação absoluta da hierarquia, é um fenômeno necessário a todas as formações <strong>de</strong><br />

domínio: toda formação hierárquica tem o seu fim, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu grau <strong>de</strong><br />

complexida<strong>de</strong>. Um homem morre, uma pedra se <strong>de</strong>compõe, uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>genera. Não<br />

há escapatória, não há meios <strong>de</strong> suprimir esse fenômeno: perecer é algo tão necessário<br />

como o <strong>de</strong>sabrochamento e progresso da vida – e, assim, alerta o filósofo: “a razão exige<br />

que lhes <strong>de</strong>ixemos seus direitos” (VP §40).<br />

Em posse <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, po<strong>de</strong>mos já vislumbrar que a noção <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce<br />

reafirma a concepção da <strong>civilização</strong> como uma formação natural, dotada <strong>de</strong> um ciclo vital.<br />

Do mesmo modo que o filósofo concebe “que todo homem que não morre muito cedo<br />

representa [a déca<strong>de</strong>nce] em quase todos os sentidos” – tendo em vista que “durante a<br />

meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> quase toda vida humana o homem é déca<strong>de</strong>nt” (VP §864) –, ele concebe que<br />

“nenhuma socieda<strong>de</strong> é livre para permanecer jovem” e, que, assim, mesmo na sua melhor<br />

força tem <strong>de</strong> formar lixo e <strong>de</strong>tritos, aproximando-se, com isso, inevitavelmente, da sua<br />

<strong>de</strong>rrocada (VP §40).<br />

Ora, <strong>de</strong> acordo com Nietzsche, não apenas os elementos e práticas <strong>de</strong>generantes<br />

acompanham a socieda<strong>de</strong> na sua juventu<strong>de</strong> – ou “melhor força” (lembremo-nos das<br />

reflexões acerca do “afrouxamento da moral”) –, como são uma conseqüência necessária<br />

<strong>de</strong> todo e qualquer “acréscimo <strong>de</strong> vida”: “Quanto mais enérgica e ousadamente proce<strong>de</strong> [a<br />

socieda<strong>de</strong>], tanto mais rica se torna em malfadados, malformados, tanto mais próxima está<br />

da sua <strong>de</strong>rrocada” (i<strong>de</strong>m). Nesse sentido é que, para o filósofo, cada movimento frutífero e<br />

potente da humanida<strong>de</strong> cria consigo, ao mesmo tempo, um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>generescência<br />

– e daí “o vício, a doença, o crime, a prostituição”, bem como o sofrer e os sintomas do<br />

sucumbir pertencerem aos tempos <strong>de</strong> imensos adiantamentos (VP §112). Contudo, é<br />

somente a partir do momento em que esses elementos e práticas predominam, que temos<br />

não a causa, mas a indicação <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce, <strong>de</strong> morte da <strong>civilização</strong> em<br />

questão tenha se iniciado.<br />

Algumas <strong>de</strong>finições diretas são dadas à déca<strong>de</strong>nce (CW §7; AC §15; VP §40, 41) e<br />

todas elas revelam <strong>de</strong> maneira mais ou menos precisa o caminho para compreen<strong>de</strong>r esse<br />

conceito nietzschiano. A déca<strong>de</strong>nce se configura como um processo contínuo e inevitável<br />

<strong>de</strong> caotização da hierarquia conformadora <strong>de</strong> uma estrutura – o que significa que ela <strong>de</strong>ve<br />

sempre ser entendida sob os parâmetros da doutrina da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência. Vejamos uma<br />

citação na qual a concepção <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce como processo <strong>de</strong> caotização está muito bem<br />

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