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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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empenhar a palavra e cumpri-la contra todas as adversida<strong>de</strong>s – sendo, então, o senhor do<br />

próprio livre-arbítrio, o animal capaz <strong>de</strong> fazer promessas, enfim o homem responsável, que<br />

explicitamos anteriormente. Sempre que intentarmos conceber o nobre <strong>de</strong> Nietzsche,<br />

<strong>de</strong>vemos ter em mente essa sua força da vonta<strong>de</strong>, o seu caráter duro e orgulhoso.<br />

Uma outra característica muito <strong>de</strong>stacada e apreciada por Nietzsche, e que em tudo se<br />

conecta a essa dureza e domínio <strong>de</strong> si, seria a arte da veneração: “São os po<strong>de</strong>rosos que<br />

enten<strong>de</strong>m <strong>de</strong> venerar, esta é sua arte, o reino da sua invenção”. Essa arte se expressaria no<br />

respeito à ida<strong>de</strong> e origem, bem como na fé e no preconceito em favor dos ancestrais e<br />

contra os vindouros (BM §260). Ora, naturalmente essa reverência dos nobres para com<br />

seus ancestrais configura-se, como mencionamos acima, tanto como uma forma <strong>de</strong> venerar<br />

a si, quanto como uma expressão (talvez a maior <strong>de</strong>las) da plenitu<strong>de</strong>, da gratidão pelo<br />

profundo orgulho do que se é:<br />

“Mas o que significa louvar? Uma espécie <strong>de</strong> compensação em relação a<br />

um benefício recebido, uma restituição, um testemunho do nosso po<strong>de</strong>r –<br />

pois quem louva diz sim, ajuíza, avalia, julga: atribui-se o direito <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r dizer sim, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r honrar... O sentimento <strong>de</strong> vida e felicida<strong>de</strong><br />

também é um elevado sentimento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r: é a partir <strong>de</strong>le que o homem<br />

louva” (VP §775).<br />

Além disso, observemos também que nesse ato <strong>de</strong> veneração aos antepassados revela-se<br />

que a hierarquia herdada ainda se mantém coesa, que a direção outrora tomada, apesar <strong>de</strong><br />

potencializada, ainda persiste.<br />

A coesão das partes e, conseqüentemente, força que caracteriza o nobre se revela não<br />

apenas na sua moral, hábitos e características psicológicas, mas também na sua<br />

constituição física. Para Nietzsche, o juízo <strong>de</strong> valor cavalheiresco-aristocrático (outra<br />

expressão para <strong>de</strong>signar a moral dos senhores) “tem como pressuposto uma constituição<br />

física po<strong>de</strong>rosa, uma saú<strong>de</strong> florescente, rica, até mesmo transbordante, juntamente com<br />

aquilo que serve à sua conservação: guerra, aventura, caça, dança, torneios e tudo o que<br />

envolve uma ativida<strong>de</strong> robusta livre e contente” (GM I, §7). Ora, aqui chegamos a um<br />

importante momento da nossa argumentação. Pois diante <strong>de</strong> tudo o que foi dito, po<strong>de</strong>mos<br />

perceber que esses homens nobres, que esses “bem nascidos” eram não só felizes e plenos<br />

– “Em primeiro plano está a sensação <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que quer transbordar, a<br />

felicida<strong>de</strong> da tensão elevada, a consciência <strong>de</strong> uma riqueza que gostaria <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r e<br />

presentear – também o nobre ajuda o infeliz, mas não ou quase não por compaixão, antes<br />

por um ímpeto gerado pela abundância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r” (BM §260) – mas também, e é aqui que<br />

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