moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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“Eu vi por primeiro a verda<strong>de</strong>ira oposição – o instinto que <strong>de</strong>genera, que<br />
se volta contra a vida com subterrânea avi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> vingança (o<br />
cristianismo, a filosofia <strong>de</strong> Schopenhauer, em certo sentido a filosofia <strong>de</strong><br />
Platão, o i<strong>de</strong>alismo inteiro como formas típicas) e uma fórmula <strong>de</strong><br />
afirmação suprema nascida da abundância, da superabundância, um dizer<br />
Sim sem reservas [...] Não há que <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar nada do que existe, nada<br />
é dispensável – os aspectos da existência rejeitados pelos cristãos e outros<br />
niilistas têm inclusive uma posição infinitamente mais elevada na<br />
disposição dos valores do que aquilo que o instinto <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce pô<strong>de</strong><br />
abonar, achar bom” (EC, “O Nascimento da Tragédia” §2).<br />
Nietzsche atribui aos nobres uma série <strong>de</strong> características, muitas das quais ele<br />
fundamenta através <strong>de</strong> estudos etimológicos. Como não parece relevante para a<br />
compreensão do tema aqui proposto, reproduzir as hipóteses etimológicas <strong>de</strong> Nietzsche,<br />
concentrar-nos-emos tão-somente em explicitar quais seriam essas características e <strong>de</strong> que<br />
modo elas se relacionariam ao tipo nobre.<br />
Primeiramente, atentemos para o fato <strong>de</strong> que essas qualida<strong>de</strong>s estão diretamente<br />
relacionadas à noção <strong>de</strong> força, seja no sentido do homem como um todo (o homem<br />
agressivo), seja no sentido do homem como parte (homem como expressão <strong>de</strong> uma<br />
hierarquia coesa). Desse modo, no primeiro sentido teríamos: a coragem, o caráter<br />
guerreiro e a “jovialida<strong>de</strong>” no prazer <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir; e, no segundo: a dureza,o domínio sobre<br />
si e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter uma <strong>de</strong>terminada vonta<strong>de</strong> ao longo <strong>de</strong> muito tempo.<br />
Apesar do primeiro grupo <strong>de</strong> características ser absolutamente indispensável, como<br />
vimos, para a compreensão do tipo nobre, são as três últimas as mais reverenciadas por<br />
Nietzsche. Ora, caso remetamos esses dois grupos aos antípodas Apolo e Dioniso, veremos<br />
que enquanto as primeiras características po<strong>de</strong>m ser compreendidas como características<br />
dionisíacas, as últimas e mais reverenciadas se revelam francamente apolíneas – e aqui<br />
retornamos à nossa recorrente discussão. Não querendo, porém, <strong>de</strong>morarmo-nos nela – já<br />
que, pelos limites <strong>de</strong>sse trabalho, tomamo-la por insolúvel –, o fato é que essas<br />
potencialida<strong>de</strong>s mais aclamadas só são possíveis na medida em que o homem tenha os seus<br />
canais <strong>de</strong> extravasamento <strong>de</strong> forças, que possa retornar, vez por outra que seja, à “inocente<br />
consciência <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> rapina”, enfim, na medida em que as potencialida<strong>de</strong>s dionisíacas<br />
se façam possíveis e exeqüíveis. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, porém, da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses dois<br />
pólos, interessa-nos perceber que o nobre seria para Nietzsche – e justamente <strong>de</strong>vido a<br />
essas potencialida<strong>de</strong>s (dita por nós) apolíneas –, o resultado bem sucedido do processo<br />
iniciado pela <strong>moralida<strong>de</strong></strong> dos costumes. O nobre ao configurar-se como um indivíduo bem<br />
coeso, no qual a hierarquia tem as suas partes fortemente interconectadas, revela-se como o<br />
indivíduo que, livre das amarras dos costumes, é capaz <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer a si mesmo, <strong>de</strong><br />
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