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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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valor entre um e outro homem, e que necessita <strong>de</strong> escravidão em algum sentido” (VP<br />

§660).<br />

Observemos que Nietzsche compreen<strong>de</strong> as condições para o aperfeiçoamento do<br />

homem <strong>de</strong> modo radicalmente oposto à moral dominante (que no Oci<strong>de</strong>nte seria a<br />

socrático-cristã), mas absolutamente coerente à sua doutrina da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência:<br />

“Conclusão sobre o <strong>de</strong>senvolvimento da humanida<strong>de</strong>: o aperfeiçoamento consiste na<br />

produção <strong>de</strong> indivíduos po<strong>de</strong>rosos, para os quais a maior massa possível <strong>de</strong>ve ser<br />

instrumento (e <strong>de</strong>veras o instrumento mais inteligente e mais móvel)” (i<strong>de</strong>m). Para o<br />

filósofo é inerente à maior força, e portanto ao homem mais forte, dominar e se apropriar<br />

da potência daquilo que lhe é mais fraco, e portanto do homem mais fraco. Dessa maneira,<br />

em condições primitivas, se <strong>de</strong>terminados homens vão ser explorados, violentados, enfim<br />

se vão ter toda a sua potência utilizada para a elevação <strong>de</strong> um outro, bem, isso, para<br />

Nietzsche, é algo que faz parte do caráter da vida e que, justamente por isso, <strong>de</strong>ve ser<br />

afirmado, se a vida é para ser afirmada. O fato <strong>de</strong> a moral dominante conceber essa<br />

característica como algo mau, errado, imoral é porque, dito <strong>de</strong> maneira bastante sucinta,<br />

esta nega a vida – e pior nega uma característica que também a constitui. Ancorado na sua<br />

doutrina da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência, Nietzsche se põe livre da concepção <strong>de</strong> que todos os<br />

homens, que todas as vidas humanas são valiosas: o valor, ao residir na ampliação da<br />

potência, resi<strong>de</strong> exclusivamente no homem forte; o fraco é meio, serve apenas como massa<br />

para a ampliação da potência do mais forte. De acordo com essa concepção, faz-se não só<br />

admissível, mas mesmo absolutamente necessário que “inúmeros indivíduos [sejam]<br />

sacrificados por causa <strong>de</strong> poucos: para viabilizar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les” (VP § 679).<br />

Diante <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, julgamos oportuno retornar à discussão acerca do<br />

racismo em Nietzsche. Pois o racismo nietzschiano não consiste em nada mais do que foi<br />

até aqui explicitado. Para Nietzsche, há (em especial nos períodos arcaicos) raças mais<br />

fortes e raças mais fracas, sendo o domínio e a exploração das mais fracas algo <strong>de</strong><br />

completamente natural às mais fortes. Todavia, dado o caráter eternamente mutante da<br />

existência, uma raça não é sempre forte ou fraca – lembremo-nos que na filosofia<br />

nietzschiana não são admitidas realida<strong>de</strong>s imutáveis, nem regularida<strong>de</strong>s eternas. Sendo<br />

tudo <strong>de</strong>vir, sendo as organizações sociais dotadas <strong>de</strong> um ciclo fisiológico, como veremos<br />

mais especificamente no item a seguir, não faz sentido em falar <strong>de</strong> uma raça que é<br />

soberana “em-si”. Nietzsche, portanto, a nosso ver, <strong>de</strong> fato valoriza a questão da raça –<br />

sendo, portanto, um racista –, mas não <strong>de</strong> modo a especificar, a <strong>de</strong>terminar quais raças<br />

seriam universalmente superiores ou inferiores. Nesse sentido, concordamos com Bornedal<br />

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