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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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“Os pontos altos da cultura e da <strong>civilização</strong> são diferentes [...]. Os<br />

gran<strong>de</strong>s momentos da cultura foram sempre, dito moralmente, tempos <strong>de</strong><br />

corrupção; por outro lado, foram as épocas da domesticação animalesca<br />

do homem, voluntária e forçada (“<strong>civilização</strong>”) os tempos <strong>de</strong> intolerância<br />

com as naturezas mais espirituais e ousadas” (VP §121).<br />

Ao lado <strong>de</strong>ssa afirmação, porém, <strong>de</strong>vemos colocar uma advertência feita pelo filósofo, que<br />

se refere, justamente, à diferença entre o “afrouxamento” que resultou na aristocracia e o<br />

“afrouxamento” das culturas tardias – que vem a marginalizar o tipo nobre. Pois enquanto<br />

aquele se revela como criação/aprimoramento da cultura, esse se revela como<br />

autodissolução, como o ápice <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>generação moral, cultural, civilizatória:<br />

“Contra o que advirto: [...] os meios da <strong>civilização</strong> que <strong>de</strong>sagregam e levam<br />

necessariamente à déca<strong>de</strong>nce não <strong>de</strong>vem ser confundidos com a cultura” (VP §122).<br />

Fixando-nos, então, na questão do aprimoramento do homem, não pensemos que esse<br />

aprimoramento se daria nos limites <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado povo, ou seja, exclusivamente a<br />

partir dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos legisladores. Nos termos postos por Nietzsche, a formação <strong>de</strong><br />

uma estirpe superior só se faz possível através do domínio <strong>de</strong> uma raça, <strong>de</strong> um povo sobre<br />

outro. Desse modo, se vamos pensar na formação <strong>de</strong> uma estirpe superior, <strong>de</strong> uma nobreza,<br />

temos <strong>de</strong> pensar, necessariamente, na escravização <strong>de</strong> um outro povo. Para Nietzsche, a<br />

escravização é a base necessária para a produção <strong>de</strong> um tipo superior (VP §859).<br />

O fato <strong>de</strong> a nobreza não se originar no interior <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado povo, melhor<br />

dizendo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado clã – já que, em se tratando <strong>de</strong>sse estágio, os indivíduos <strong>de</strong><br />

uma comunida<strong>de</strong> estariam ligados por um ancestral em comum – se <strong>de</strong>ve ao sentimento <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong> entre os seus membros, sentimento, que como sabemos, foi <strong>de</strong>senvolvido durante<br />

o processo <strong>de</strong> formação do clã. E esse sentimento não admite a escravização entre os seus<br />

membros; não há distância valorativa entre eles. Lembremos que os homens pertencentes a<br />

uma estirpe se conformaram em “homem”, mais precisamente, em um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong><br />

“homem”, conjuntamente, através da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> dos costumes – o elemento configurador<br />

do sentimento <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>. Nesse sentido, é importante atentarmos para o fato <strong>de</strong> que,<br />

durante essa autoformação, os hábitos e objetos que conservavam o todo, ao mesmo tempo<br />

em que formavam os indivíduos, foram valorados positivamente, tornando-se, portanto os<br />

valores em si: “Está no instinto <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> (estirpe, linhagem, rebanho, comuna)<br />

experimentar como valiosos em si os estados e os <strong>de</strong>sejos aos quais ela <strong>de</strong>ve a sua<br />

conservação [...] – e, por conseguinte, reprimir tudo o que estorva ou contradiz os<br />

mesmos” (VP §216). Na medida em que o indivíduo representa a comunida<strong>de</strong> em sua<br />

pessoa, o seu orgulho próprio confun<strong>de</strong>-se com o orgulho do todo.<br />

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