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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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muitas tábuas <strong>de</strong> valores já existiram (e que, portanto, nada é válido 'em si mesmo')”<br />

(i<strong>de</strong>m).<br />

O caráter perspectivo dos valores traz à tona a concepção <strong>de</strong> que o mundo é<br />

interpretável <strong>de</strong> diversas maneiras, não possuindo, portanto nenhum sentido “atrás <strong>de</strong> si”,<br />

mas inúmeros sentidos (VP §339). Dado que o mundo não possui um cerne oculto, uma<br />

verda<strong>de</strong> “além-mundo” a ser <strong>de</strong>scoberta, ocorre que, para Nietzsche, o mundo – aqui no<br />

sentido <strong>de</strong> existência – é, do ponto <strong>de</strong> vista da <strong>moralida<strong>de</strong></strong>, falso. Ora, observemos que<br />

essa falsida<strong>de</strong> e i<strong>moralida<strong>de</strong></strong> conferida ao mundo não estão dispostas <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>preciá-lo<br />

e tampouco <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>preciar a <strong>moralida<strong>de</strong></strong> em geral. O fato <strong>de</strong> o mundo que nos diz<br />

respeito não ser nenhum “fato”, “mas sim uma invenção e arredondamento em cima <strong>de</strong><br />

uma magra soma <strong>de</strong> observações” (VP §616), não <strong>de</strong>ve, então, ser tomado como motivo<br />

para <strong>de</strong>scrença ou para a adoção <strong>de</strong> uma postura cética para com o problema da moral.<br />

Na filosofia nietzschiana, a não formulação <strong>de</strong> hipóteses ou a abstinência face ao<br />

problema da moral, atitu<strong>de</strong>s que configurariam o cético, são compreendidas como<br />

expressões <strong>de</strong> certa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> da vonta<strong>de</strong> 50 :<br />

“lhes agrada festejar sua virtu<strong>de</strong> como uma nobre abstinência, ao dizer<br />

como Montaigne, por exemplo: 'que sei eu?'. Ou como Sócrates: 'eu sei<br />

que nada sei'. Ou: 'aqui não me atrevo, nenhuma porta se abre'. Ou: 'se<br />

uma porta se abrisse, por que entrar logo?'. Ou: 'para que servem as<br />

hipóteses apressadas?. Não formular hipóteses po<strong>de</strong>ria muito bem ser<br />

parte do gosto. Vocês precisam absolutamente endireitar o que é torto? E<br />

tapar cada buraco com uma estopa? Isso não po<strong>de</strong> esperar? O tempo não<br />

po<strong>de</strong> esperar? [...]'” (BM §208).<br />

O indivíduo cético, ao não conseguir afirmar sua interpretação, não consegue afirmar a sua<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência, o que equivale a dizer que não consegue afirmar-se enquanto vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> potência: “Pois o cético, essa criatura <strong>de</strong>licada, apavora-se facilmente; sua consciência é<br />

treinada para estremecer e sentir como que uma mordida face a qualquer Não e mesmo<br />

Sim duro e <strong>de</strong>cidido. Sim! e Não! – isto repugna a sua moral” (BM §208).<br />

Face a essas consi<strong>de</strong>rações po<strong>de</strong>mos observar que o fato <strong>de</strong> a genealogia nietzschiana<br />

partir <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong>terminado, para ten<strong>de</strong>nciosamente vir a se apropriar dos fatos <strong>de</strong><br />

50 Naturalmente, não existe uma vonta<strong>de</strong> débil ou uma vonta<strong>de</strong> forte a caracterizar um homem, mas uma<br />

espécie <strong>de</strong> resultante do conjunto <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> potência que po<strong>de</strong> ser compreendido como vonta<strong>de</strong> débil<br />

ou como vonta<strong>de</strong> forte. Nesse sentido, vejamos a seguinte citação: “Debilida<strong>de</strong> da vonta<strong>de</strong>: tal é uma<br />

metáfora que po<strong>de</strong> induzir ao erro. [...] A multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impulsos, a falta <strong>de</strong> um sistema que os<br />

articule tem como resultado 'vonta<strong>de</strong> fraca'; a coor<strong>de</strong>nação dos mesmos sob o predomínio <strong>de</strong> um único<br />

impulso tem como resultado 'vonta<strong>de</strong> forte'; – no primeiro caso há oscilação e falta <strong>de</strong> peso; no último,<br />

precisão e clareza na direção” (VP §46).<br />

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