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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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conservação e crescimento <strong>de</strong> um indivíduo, comunida<strong>de</strong>, raça, igreja, fé (VP §259) –,<br />

então a legitimida<strong>de</strong> da nossa moral socrático-cristã fica seriamente prejudicada – uma vez<br />

que tal legitimida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> justamente na crença acerca da sua universalida<strong>de</strong> e<br />

necessida<strong>de</strong>. Como bem afirma Giacoia, essa incondicionalida<strong>de</strong> absoluta reivindicada<br />

pela moral dominante se estabelece abstratamente através dos vínculos que alega ter com a<br />

racionalida<strong>de</strong> e com a verda<strong>de</strong>: “'Não há nenhuma outra moral além <strong>de</strong> mim'; isso equivale<br />

à afirmação: em mim está contido o núcleo racional, portanto, verda<strong>de</strong>iro, <strong>de</strong> toda<br />

<strong>moralida<strong>de</strong></strong>, que compete à filosofia apreen<strong>de</strong>r conceitualmente e explicitar. [...] Essa é a<br />

insidiosa cumplicida<strong>de</strong> metafísica entre <strong>moralida<strong>de</strong></strong> e verda<strong>de</strong>, que faz com que uma forma<br />

<strong>de</strong> moral se institua como a verda<strong>de</strong>ira moral” (GIACOIA, 2008, p.193).<br />

Curiosamente, essa pretensão ao universal não é algo que, para Nietzsche, esteja<br />

presente apenas na moral ascética, a dominante. É certo que essa moral, como nenhuma<br />

outra, levou tal pretensão às últimas conseqüências, tendo em vista que a sua sustentação<br />

encontra-se justamente na comprovação – seja através da fé (religião), seja através da<br />

racionalida<strong>de</strong> (filosofia) – <strong>de</strong>ssa pretensão. Ainda que a comprovação abstrata seja algo <strong>de</strong><br />

fundamental para a moral ascética, para Nietzsche, faz parte do caráter geral da moral que,<br />

quando internalizada, a sua proveniência – imposições coercitivas para a homogeneização<br />

dos indivíduos – seja esquecida e que, assim, seus valores sejam consi<strong>de</strong>rados como a<br />

única realida<strong>de</strong> possível:<br />

“Uma moral, um modo <strong>de</strong> viver comprovado por longa experiência e<br />

teste, vem à consciência, por fim, como lei, como dominante [...]: ela se<br />

torna honorável, inatacável, verda<strong>de</strong>ira; pertence ao seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

o fato <strong>de</strong> que sua proveniência seja esquecida... É um sinal <strong>de</strong> que ela<br />

tornou-se senhora” (VP §514).<br />

Não é difícil, após tudo o que foi dito, compreen<strong>de</strong>r o porquê <strong>de</strong>sse esquecimento. O<br />

fato <strong>de</strong> a moral expressar as condições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado homem ou grupo <strong>de</strong><br />

homens significa que o mundo se apresenta unicamente por meio <strong>de</strong>la, que, sob os seus<br />

critérios, e somente sob os seus critérios, faz-se visível: “Magnitu<strong>de</strong> das estimações<br />

morais: elas tomam parte em praticamente todas as intuições sensíveis. Por meio <strong>de</strong>la o<br />

mundo apresenta-se-nos colorido” (VP §260). Contudo, a partir do momento em que<br />

comparemos as diferentes morais, e é isso o que Nietzsche preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar, os seus<br />

valores se apresentam como perspectivos, circunscritos e, assim, <strong>de</strong> acordo com a<br />

pretensão inerente a toda moral (a da sua universalida<strong>de</strong>), falsos e, portanto, imorais: “na<br />

comparação dos valores revela-se que coisas contraditórias já contaram como valiosas, que<br />

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