moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>nominá-lo meu a priori – tanto minha curiosida<strong>de</strong> quanto a<br />
minha suspeita <strong>de</strong>veriam logo <strong>de</strong>ter-se na questão <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se originam<br />
verda<strong>de</strong>iramente nosso bem e nosso mal” (GM “Prólogo” §3).<br />
Apesar <strong>de</strong> não ser o nosso propósito tecer as possíveis relações entre o “homem<br />
Nietzsche” e a “filosofia nietzschiana”, em alguma medida isso se faz inevitável, uma vez<br />
que queiramos contemplar, com proprieda<strong>de</strong>, o problema da moral tal como o “filósofo” o<br />
concebeu. Primeiramente, atentemos para o fato <strong>de</strong> que a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> trazer, para o âmago<br />
do seu pensamento, características pessoais – que englobam tanto a sua experiência<br />
vivencial, quanto a sua constituição psicológica e fisiológica – não se configura como uma<br />
justificação <strong>de</strong> cunho subjetivista, e, muito menos, como um mero exibicionismo. Longe<br />
disso, é algo que condiz diretamente com as suas concepções filosóficas.<br />
Para Nietzsche, o homem é, necessariamente, o “animal avaliador”, o animal que é<br />
conformado não só por um corpo, mas também por uma moral. Certamente, em tempos<br />
remotos, não era possível colocar-se <strong>de</strong> maneira pessoal em relação à moral. E isso não só<br />
por conta da opressão imposta nesses tempos remotos, mas também por que essa<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar-se pessoalmente ante a moral é um fruto tardio, já que pressupõe<br />
justamente a autonomia que mencionamos acima. Além disso, na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> – período<br />
no qual Nietzsche está situado –, as imposições coercitivas da moral tornaram-se mais<br />
“frouxas” – entrando mesmo em colapso. Nessas condições, um posicionamento crítico e<br />
pessoal 46 , perante a moral, faz-se não só possível como é absolutamente necessário, uma<br />
vez que questionemos em alguma medida a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta. Dito isso, po<strong>de</strong>mos<br />
vislumbrar o porquê do estranhamento do filósofo ante a constatação da total<br />
impessoalida<strong>de</strong> com que o problema da moral continuava a ser tratado, isto é, ante a total<br />
aceitação que, a seu ver, invariavelmente se encontrava presente nas investigações<br />
(inclusive as mais ilustres) acerca da moral:<br />
“Como po<strong>de</strong> suce<strong>de</strong>r, então, que eu ainda não tenha encontrado ninguém,<br />
nem mesmo em livros, que tomasse tal posição pessoal ante a moral, que<br />
conhecesse a moral como problema e este problema como sua aflição,<br />
volúpia, paixão pessoal? Evi<strong>de</strong>ntemente, até agora a moral não foi<br />
problema; mas sim aquilo que os homens entravam <strong>de</strong> acordo, após toda<br />
<strong>de</strong>sconfiança, <strong>de</strong>savença, contradição, o sagrado local da paz, em que os<br />
pensadores <strong>de</strong>scansavam <strong>de</strong> si próprios, respiravam, readquiriam forças”<br />
(GC §345).<br />
46<br />
Neste caso específico, por “pessoal” <strong>de</strong>vemos compreen<strong>de</strong>r aquilo que é próprio e que, assim, ten<strong>de</strong> a ir<br />
contra a comunida<strong>de</strong>.<br />
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