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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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Com o que foi dito, po<strong>de</strong>mos perceber a singularida<strong>de</strong> com a qual Nietzsche<br />

compreen<strong>de</strong> a noção <strong>de</strong> hereditarieda<strong>de</strong> – e isso a ponto <strong>de</strong> ele afirmar que a<br />

hereditarieda<strong>de</strong>, como é ordinariamente compreendida, é um falso conceito. Sua postura é<br />

tão radical que, para ele, as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um indivíduo não são proporcionais ao que este<br />

fez, sacrificou ou sofreu por elas. Devem ser consi<strong>de</strong>radas a partir da sua história familiar,<br />

na qual iremos achar a história <strong>de</strong> um tremendo estoque e acumulação capital <strong>de</strong> força<br />

possibilitados através <strong>de</strong> todos os tipos <strong>de</strong> renúncia, luta e trabalho. Para o filósofo, todas<br />

as gran<strong>de</strong>s potencialida<strong>de</strong>s e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um homem não surgiram simplesmente, como<br />

um milagre ou presente dos céus, antes foram minuciosamente pagas pelos seus<br />

antepassados: “Os antepassados <strong>de</strong> um homem pagaram o preço pelo que ele é” (VP §969).<br />

Na posse <strong>de</strong>ssas informações, fica bastante claro porque para Nietzsche é impossível<br />

que um homem “não tenha no corpo as características e predileções <strong>de</strong> seus pais e<br />

ancestrais: mesmo que as evidências provem o contrário”. Em geral, como po<strong>de</strong>mos<br />

presumir a partir do parágrafo anterior, ele concebe essas características como in<strong>de</strong>léveis:<br />

“Não se po<strong>de</strong> extinguir da alma <strong>de</strong> um homem aquilo que seus ancestrais fizeram com<br />

maior prazer e constância [...] e com a ajuda da melhor educação e cultura não se consegue<br />

mais que enganar a respeito <strong>de</strong>ssa herança” (BM §264). Todavia como em se tratando <strong>de</strong><br />

Nietzsche as posturas dificilmente são <strong>de</strong>finitivas, ele admite, em não tão raros momentos,<br />

que as características <strong>de</strong> um tipo sejam passíveis <strong>de</strong> serem transformadas e fortalecidas –<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja proposta, e imposta, ao longo <strong>de</strong> algumas gerações, uma rígida e renovada<br />

disciplina: “ascetismo e puritanismo são meios <strong>de</strong> educação e enobrecimento quase<br />

indispensáveis, quando uma raça preten<strong>de</strong> triunfar <strong>de</strong> sua origem plebéia e ascen<strong>de</strong>r ao<br />

domínio no futuro” 40 (BM §61).<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações mais flexíveis, a inegável questão é que o<br />

filósofo, atribui, sim, gran<strong>de</strong> importância à genealogia <strong>de</strong> um homem, e, portanto, à raça da<br />

qual um homem provém. Afinal, para Nietzsche, as raças são valorativamente <strong>de</strong>siguais, já<br />

que há raças mais fortes e mais fracas, o que, dito <strong>de</strong> uma maneira mais direta, significa<br />

que há raças superiores e inferiores – e aqui po<strong>de</strong>ríamos afirmar a presença <strong>de</strong> posturas<br />

com tonalida<strong>de</strong>s racistas no pensamento nietzschiano. Sob essa perspectiva é que<br />

Nietzsche, ao <strong>de</strong>preciar os alemães, aqueles seus contemporâneos, reivindica para si uma<br />

ascendência que <strong>de</strong> acordo com pesquisas genealógicas mais recentes é absolutamente<br />

improce<strong>de</strong>nte (EC, nota <strong>de</strong> Paulo César <strong>de</strong> Souza, p.122): “meus antepassados eram nobres<br />

40 Não intentemos compreen<strong>de</strong>r essa citação para além do propósito pelo qual ela foi citada, já que há neste<br />

trecho termos que ainda não foram explicitados por nós.<br />

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