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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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Deixada <strong>de</strong> lado a questão referente à influência do meio, percebamos que, a todo<br />

momento, estamos relacionando a formação <strong>de</strong> um tipo à continuida<strong>de</strong> (moral e<br />

comportamental) entre diferentes gerações. Ora, percebamos que se estamos falando <strong>de</strong><br />

gerações, inevitavelmente, estamos falando <strong>de</strong> reprodução e, assim, <strong>de</strong> hereditarieda<strong>de</strong>, ou<br />

seja, da transmissão <strong>de</strong> uma herança não só moral – e, portanto, civilizatória-cultural –,<br />

mas <strong>de</strong> uma transmissão <strong>de</strong> caracteres fisiológicos. Dito isso, dá-se que o conceito <strong>de</strong> raça<br />

está, invariavelmente, relacionado ao conceito <strong>de</strong> tipo na acepção aqui utilizada 39 .<br />

A concepção exposta acima <strong>de</strong>ve ser compreendida com cautela, pois há um gran<strong>de</strong><br />

receio, por parte <strong>de</strong> alguns intérpretes – tais como Kaufmann, Tongeren e Schank –, acerca<br />

dos possíveis entendimentos da noção <strong>de</strong> raça na filosofia nietzschiana – principalmente<br />

quando esta é associada à biologia e áreas afins. Esse receio está relacionado à in<strong>de</strong>vida<br />

apropriação nazista das idéias <strong>de</strong> Nietzsche, ou seja, o que esses intérpretes temem é que a<br />

associação entre raça e biologia conduza ao entendimento <strong>de</strong> que o racismo nazista está<br />

presente nas concepções nietzschianas. Ora, advogamos aqui – sem gran<strong>de</strong>s justificativas,<br />

já que esse <strong>de</strong>licado assunto não faz muito parte do nosso tema – que o filósofo não<br />

concebia, tal como pretendiam os nazistas, que os alemães conformavam alguma espécie<br />

<strong>de</strong> raça superior. Isso não significa, porém, que o filósofo não tinha concepções que<br />

po<strong>de</strong>riam ser ditas racistas – como é o <strong>de</strong>fendido pelos intérpretes mencionados. Como é<br />

comum quando tratamos <strong>de</strong> filósofos, o racismo <strong>de</strong> Nietzsche, bem como a relação por ele<br />

traçada entre raça e fisiologia, são-lhe peculiares – o que significa que não po<strong>de</strong>m ser<br />

traduzidas, ao menos não completamente, pelo modo <strong>de</strong> compreensão comum na sua<br />

época.<br />

Os conceitos <strong>de</strong> raça, estirpe, linhagem são, <strong>de</strong> ordinário, quase que exclusivamente<br />

associados a aspectos biológicos. Na filosofia nietzschiana, porém, eles estão tanto<br />

relacionados ao plano biológico quanto ao moral e social. Tongeren, ainda que tomado<br />

pelo pathos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r Nietzsche da apropriação nazista, até admite a relação entre raça e<br />

biologia, mas a relega para um plano secundário: “as características das raças são mais<br />

sociais e culturais do que biológicas” (TONGEREN, 2003, p. 205). O motivo mais<br />

relevante, dado por ele, para explicar essa posição secundária concentra-se no fato <strong>de</strong> a<br />

noção <strong>de</strong> biologia em Nietzsche, mais propriamente a <strong>de</strong> fisiologia, não estar disposta a<br />

39 A noção <strong>de</strong> tipo no seu sentido mais estrito, também está relacionada à <strong>de</strong> raça. Contudo somente quando<br />

os termos nobre e escravos estão postos no seu sentido histórico e não no seu sentido psicológico. Pois,<br />

como <strong>de</strong>talharemos melhor adiante, os termos nobre e escravo po<strong>de</strong>m ser entendidos em duas acepções:<br />

como posições sociais – e portanto fisiológicas, culturais e morais – o que remonta a tempos arcaicos;<br />

como quanto estruturas psicológicas, o que remonta ao homem individual in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da época<br />

em que ele se encontre.<br />

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