moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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prematuramente, a comunida<strong>de</strong> do seu perecimento 37 .<br />
De acordo com as consi<strong>de</strong>rações prece<strong>de</strong>ntes, o meio, quando hostil às condições <strong>de</strong><br />
conservação e crescimento, dá ensejo, sob risco <strong>de</strong> morte, ao <strong>de</strong>senvolvimento da força e<br />
da coesão entre as partes, e, já quando fértil, seguro e abundante, dá ensejo à variabilida<strong>de</strong>,<br />
promovendo, com isso, a complexida<strong>de</strong>. No terceiro capítulo, veremos que o meio também<br />
po<strong>de</strong> vir a ensejar a <strong>de</strong>bilitação <strong>de</strong> tipos antes bem constituídos e mesmo a <strong>de</strong>generescência<br />
dos homens superiores. Embora as consi<strong>de</strong>rações presentes pareçam suficientes para<br />
<strong>de</strong>cidirmo-nos pela relevância da influência do meio na formação <strong>de</strong> um tipo, tenhamos em<br />
mente que esse “ensejar” não <strong>de</strong>ve ser entendido como algo <strong>de</strong> necessário, já que, em<br />
gran<strong>de</strong> medida, tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da força interna do grupo em questão, que é sempre<br />
incalculável 38 . Tal pon<strong>de</strong>ração nos indica que nem todos os grupos <strong>de</strong> homens que<br />
estiveram sob condições <strong>de</strong>sfavoráveis vieram a conformar tipos fortes e sólidos. Bem<br />
verda<strong>de</strong>, seguindo a lógica nietzschiana <strong>de</strong> natureza como laboratório experimental,<br />
po<strong>de</strong>mos mesmo afirmar que a maioria simplesmente sucumbiu – não conformando tipo<br />
algum. Já no que se refere ao outro caso, abundância <strong>de</strong> vida e conseqüente riqueza <strong>de</strong><br />
tipos, embora tampouco conforme uma necessida<strong>de</strong>, parece ser algo <strong>de</strong> mais ordinário, ao<br />
menos <strong>de</strong> acordo com o referido aforismo: “Das experiências <strong>de</strong> criadores se sabe que,<br />
inversamente, as espécies favorecidas com alimentação abundante e cuidado extra, logo<br />
propen<strong>de</strong>m fortemente à variação do tipo e são ricas em prodígios e monstruosida<strong>de</strong>s”<br />
[grifo nosso] (BM §262).<br />
Dito sem meias palavras, acreditamos que se <strong>de</strong>ixarmo-nos guiar pelo caráter<br />
relacional da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência, a interação entre meio e interiorida<strong>de</strong> parece ser o mais<br />
admissível. Bem verda<strong>de</strong>, essa contraposição excessiva à influência do meio, parece ser<br />
mais uma tentativa <strong>de</strong> negação da concepção darwinista, que Nietzsche consi<strong>de</strong>rava uma<br />
expressão dos valores ascéticos – tendo em vista, a sua ênfase na conservação –, do que<br />
uma negação da idéia da influência do meio – que, <strong>de</strong> qualquer sorte, é posta por Nietzsche<br />
em limites mais restritos. Em posse <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, longe <strong>de</strong> chegar a um equilíbrio<br />
entre essas duas perspectivas, concluímos por concebê-las como mais um ponto <strong>de</strong> tensão<br />
da filosofia nietzschiana.<br />
37 Notemos que as consi<strong>de</strong>rações feitas nesse parágrafo e no que lhe é prece<strong>de</strong>nte são <strong>de</strong>rivações, em um<br />
plano mais <strong>de</strong>talhado, das feitas no item anterior referentes à complexida<strong>de</strong> e coesão.<br />
38 O meio não só interfere na formação <strong>de</strong> um tipo, como parece ser, para o filósofo, fundamental para o<br />
fortalecimento ou enfraquecimento <strong>de</strong> um tipo já constituído. Isso significa que, por exemplo, um homem<br />
com uma <strong>de</strong>terminada compleição orgânica po<strong>de</strong> vir a sucumbir, uma vez que se encontre em um clima<br />
ou disponha <strong>de</strong> uma alimentação ou ambiente cultural que vá <strong>de</strong> encontro às suas condições <strong>de</strong><br />
conservação e crescimento. No Capítulo II, isso se fará claro.<br />
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