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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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um paradoxo. Pois ao mesmo tempo em que esses dois elementos são indícios <strong>de</strong> uma<br />

maior força, eles se inviabilizam mutuamente (mas não <strong>de</strong> maneira necessária), tornandose<br />

assim também um indício <strong>de</strong> fraqueza – embora o termo fraqueza não se aplique da<br />

mesma maneira nos dois casos. Um ente complexo cujas partes não se encontrem lá muito<br />

coesas, possui, como vimos, um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> apropriação-criação, mas, por outro lado,<br />

po<strong>de</strong> vir a sucumbir com certa facilida<strong>de</strong>, já que, estando a sua inteireza comprometida (a<br />

forma da sua criação crescente em multiplicida<strong>de</strong>), gran<strong>de</strong> será o <strong>de</strong>sgaste interno, e assim,<br />

gran<strong>de</strong> a sua fragilida<strong>de</strong> quando tiver <strong>de</strong> resistir contra aquilo que se lhe opuser. E, <strong>de</strong><br />

acordo com Nietzsche, não são poucas as forças que se contrapõem a um ente complexo,<br />

pois a sua rica e múltipla formação o coloca quase sempre em choque com a or<strong>de</strong>m<br />

vigente, com o que há <strong>de</strong> mediano – que está sempre em maior número (adiante<br />

<strong>de</strong>senvolveremos o porquê disso). Além do mais, observemos que essa expansão inerente a<br />

todo ente complexo, po<strong>de</strong>rá, em um dado momento, <strong>de</strong>senvolver-se a tal ponto que lhe será<br />

impossível conter a sua apropriação-criação – e isso in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da resistência<br />

imposta pelo meio.<br />

Já um ente cujas partes estejam bem coesas encontrará a força justamente na sua<br />

“inteireza”: sendo gran<strong>de</strong> a harmonia entre a parte que comanda e a que obe<strong>de</strong>ce, e, assim,<br />

pequeno o <strong>de</strong>sgaste interno, este ente terá a cumplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticamente todas as suas<br />

partes constituintes quando voltar-se contra o que exteriormente se lhe interpõe. Contudo,<br />

essa inteireza po<strong>de</strong> se tornar por <strong>de</strong>mais rígida 29 , e assim pequena será a sua capacida<strong>de</strong><br />

para a (auto)criação e plasmação e, <strong>de</strong>sse modo, po<strong>de</strong> vir a sucumbir com a mais simples<br />

mudança. Integrida<strong>de</strong> e rigi<strong>de</strong>z constituem, portanto, dois lados <strong>de</strong> uma mesma moeda e,<br />

enquanto um expressa força e abundância <strong>de</strong> vida, o outro expressa <strong>de</strong>créscimo, pois para<br />

Nietzsche, não é sintoma <strong>de</strong> força uma estrutura que se conserve às custas <strong>de</strong> qualquer<br />

tentativa <strong>de</strong> superação ou auto-criação – mesmo que nesta tentativa resida a sua própria<br />

<strong>de</strong>rrocada.<br />

A partir <strong>de</strong> agora, conforme o enunciado no item 2, encerraremos as nossas<br />

consi<strong>de</strong>rações especificamente referentes ao “plano ontológico”. Decerto, essas<br />

consi<strong>de</strong>rações po<strong>de</strong>riam esten<strong>de</strong>r-se, já que Nietzsche, sobretudo nas suas anotações,<br />

<strong>de</strong>teve-se com bastante afinco em afirmar a noção <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência como a<br />

29 Essa rigi<strong>de</strong>z po<strong>de</strong>, por exemplo, acompanhar a senilida<strong>de</strong> da estrutura, quando ela já sem forças para<br />

apropriar-se <strong>de</strong> mais potência, converte toda a sua energia para cristalizar o já apreendido.<br />

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