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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s que o compõem. Quanto mais vonta<strong>de</strong>s compuserem um ente, mais<br />

complexo ele será. A partir disso, po<strong>de</strong>mos dizer que um ente complexo só se forma<br />

quando as vonta<strong>de</strong>s nele dominantes possuem uma gran<strong>de</strong> força <strong>de</strong> domínio e plasmação –<br />

afinal, caso assim não fosse, não ser-lhes-ia possível submeter um sem-número <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong>s. Quando o número <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s a conformar um ente é muito gran<strong>de</strong>, ocorrerá,<br />

inevitavelmente, <strong>de</strong> o direcionamento imposto pelas vonta<strong>de</strong>s dominantes se ramificar<br />

(“arruinar”) em um sem-número <strong>de</strong> especializações e subespecializações. Isso significa que<br />

em uma estrutura complexa, teremos algo como diversos núcleos que, embora<br />

subordinados a um mesmo po<strong>de</strong>r e interconectados entre si, conformam diferentes áreas ou<br />

funções, regendo-se, portanto, <strong>de</strong> diferentes modos 27 .<br />

Nesse sentido, Olivier afirma que a incessante formação <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong>, tal como<br />

Nietzsche preten<strong>de</strong>, acaba por dar lugar a uma <strong>de</strong>-formação: no processo <strong>de</strong> uma formação<br />

(Gestaltung) excessiva toda forma <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> é quebrada recorrentemente para que sejam<br />

formadas novas e mais exuberantes unida<strong>de</strong>s – e daí a todo percussor no po<strong>de</strong>r (a vonta<strong>de</strong><br />

dominante) ser vítima da sua superpotencialização (OLIVIER, 2003, p.132). Por outro<br />

lado, porém, essa crescente potencialização e, por conseguinte, crescente complexida<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong>m vir a comprometer a conservação do todo, já que ela aumenta as dificulda<strong>de</strong>s em<br />

garantir a manutenção da unida<strong>de</strong> da estrutura, em outras palavras, a coesão das suas<br />

múltiplas partes 28 .<br />

A coesão da multiplicida<strong>de</strong> constituinte <strong>de</strong> uma estrutura é <strong>de</strong> suma importância, já<br />

que, como vimos, é justamente o que possibilita à estrutura que se disponha enquanto um,<br />

que se comporte enquanto uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência (complexa). Quanto mais vigorosa for<br />

a coesão, a harmonia entre o “comandar” e o “obe<strong>de</strong>cer”, mais forte será a estrutura, ou<br />

seja, maior será a força com a qual o ente voltará a sua se<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio contra aquilo que<br />

lhe é estranho, “exterior” – os outros entes.<br />

Ora, observemos que a conexão, por nós proposta, entre complexida<strong>de</strong> e coesão abriga<br />

diretamente relacionadas às questões da complexida<strong>de</strong> e coesão, acreditamos que as consi<strong>de</strong>rações a<br />

seguir po<strong>de</strong>m, em gran<strong>de</strong> parte, ser aplicadas às <strong>de</strong>mais estruturas complexas.<br />

27 Como exemplo interessante, pensemos nos diferentes órgãos e funções vitais <strong>de</strong> um dado organismo ou<br />

nos diversos aspectos referentes a uma cultura.<br />

28 Certamente, como já o dissemos, todo ente, seja ele mais ou menos complexo, terá, em algum momento,<br />

a sua conservação comprometida <strong>de</strong> modo a ser-lhe impossível evitar o perecimento. Tudo que nasce,<br />

perece, tudo que surge, <strong>de</strong>sfaz-se – isso é algo <strong>de</strong> absolutamente necessário para Nietzsche. A própria<br />

vida orgânica, sendo concebida pelo filósofo como uma forma <strong>de</strong> ampliação da potência, tem na morte,<br />

na <strong>de</strong>sagregação das partes, a contrapartida do seu crescimento: a divisão <strong>de</strong> trabalho presente nos<br />

organismos traz consigo, inevitavelmente, “uma atrofia e um enfraquecimento das partes, e finalmente a<br />

morte para o todo” (VP §678). Bem verda<strong>de</strong>, o processo <strong>de</strong> perecimento (<strong>de</strong>sagregação das partes, retorno<br />

ao caos) é inevitável a todos os entes, mas o risco que um ente complexo corre é o <strong>de</strong>, digamos, entrar<br />

precocemente e <strong>de</strong> maneira irrevogável neste processo – algo como um envelhecer prematuro.<br />

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