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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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utilida<strong>de</strong> à estrutura. Para o filósofo, as vonta<strong>de</strong>s simplesmente ampliam o seu domínio e,<br />

se, do “material parcialmente <strong>de</strong>svencilhado”, surgem novas formas e novas utilida<strong>de</strong>s, não<br />

é porque ele foi <strong>de</strong>svencilhado com vistas a esse fim. No longo tempo durante o qual uma<br />

proprieda<strong>de</strong> se forma, ela não assegura a estrutura e tampouco lhe é útil – po<strong>de</strong>ndo, com<br />

isso, ser repelida ou mesmo aniquilada. A sua durabilida<strong>de</strong>, porém, será prova <strong>de</strong> que<br />

incorporou-se ao todo, <strong>de</strong> que moldou-se <strong>de</strong> maneira a ser útil ao todo – “pois na luta das<br />

partes, uma nova forma não permaneceria muito tempo sem uma utilida<strong>de</strong> parcial” (VP<br />

§647).<br />

Toda essa compreensão está estritamente relacionada à concepção <strong>de</strong> natureza como<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência. Não há um telos que guie as vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> modo que elas conformem<br />

tais ou quais estruturas. Caso aceitássemos isso, teríamos <strong>de</strong> admitir a natureza (ou Deus)<br />

enquanto sujeito que, com o intuito <strong>de</strong> conformar uma <strong>de</strong>terminada estrutura, legislaria<br />

racionalmente sobre o modo <strong>de</strong> interação das forças. E, <strong>de</strong> acordo com Staten, seria<br />

justamente a essa idéia, a <strong>de</strong> um propósito <strong>de</strong> evolução conscientemente imaginado e<br />

tencionado (seja lá por qual entida<strong>de</strong>) que Nietzsche mais radicalmente se oporia, mais<br />

radicalmente até do que á idéia <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> (STATEN, 2006, p.568). De qualquer modo,<br />

porém, na filosofia nietzschiana, não é admitida a existência <strong>de</strong> uma regra a priori fixada<br />

pela natureza, o que significa que não há objetivo a atingir ou meta a alcançar; “a vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> potência é <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> qualquer caráter teleológico – assim como a luta que se<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia pelo fato <strong>de</strong> ela exercer-se” (MARTON, 1990, p. 39).<br />

Nietzsche nega a compreensão <strong>de</strong> natureza como uma marcha rumo ao progresso, ao<br />

mesmo tempo em que adota a idéia <strong>de</strong> natureza como “tremendo laboratório experimental”<br />

– no qual as vonta<strong>de</strong>s se coadunam sem premeditação ou <strong>de</strong>svios, <strong>de</strong> maneira livre, sem<br />

constrangimentos. Observemos que essa não-premeditação conferida à natureza, permite<br />

que o filósofo possa justificar “cientificamente” o seu <strong>de</strong>sapreço <strong>de</strong>dicado à maioria.<br />

Afinal, não é <strong>de</strong> estranhar que <strong>de</strong>sse espontâneo “arranjo” entre as vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> potência<br />

sejam originados um sem-número <strong>de</strong> fracassos e aberrações – em contraposição a uns<br />

poucos e raros sucessos 20 (VP §90).<br />

Diferentemente <strong>de</strong> Darwin e Spencer, que compreen<strong>de</strong>riam a evolução sob a<br />

perspectiva da espécie, Nietzsche estabelece como o ponto central da evolução não a<br />

20 As informações contidas nesse parágrafo indicam que nem sempre o po<strong>de</strong>r das partes dominantes é<br />

suficiente para conter, <strong>de</strong> maneira satisfatória, a resistência das partes não-dominantes. Essa não<br />

contenção, como também já po<strong>de</strong>mos antever, sendo o mais comum, culmina em um sem-número <strong>de</strong><br />

estruturas mal-formadas. Adiante, tais consi<strong>de</strong>rações serão aplicadas para uma diferenciação entre os<br />

homens.<br />

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