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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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vitalista da ciência alemã, a<strong>de</strong>riu à concepção <strong>de</strong> que a engrenagem da evolução estaria não<br />

na maior ou menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação aos fatores externos, mas sim em um diretivo<br />

interno, uma espécie <strong>de</strong> força interna transformadora (Bildungstrieb) 19 (MOORE, 2006, p.<br />

519). Ora, se em posse <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações nos remetermos ao processo <strong>de</strong> hominização<br />

explicitado no item 1, veremos a coerência das idéias nietzschianas. Pois lá fica bastante<br />

claro que não foram os perigos do meio, (como preten<strong>de</strong>m alguns intérpretes) que<br />

conduziram o antece<strong>de</strong>nte do homem a se agregar e, assim, a se conformar em homem,<br />

mas sim a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> economia para a ampliação da potência. Ao invés <strong>de</strong> enfatizar a<br />

relação entre o organismo e o meio, Nietzsche localiza o “primeiro motor da evolução” na<br />

força criativa inerente à natureza – a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência (MOORE, 2006, p. 520).<br />

Uma outra contraposição à noção <strong>de</strong> conservação como impulso cardinal, residiria no<br />

fato <strong>de</strong> que, para Nietzsche, nem sempre aquilo que promove o crescimento <strong>de</strong> um ente é<br />

propício à sua conservação. Tomando o protoplasma como parâmetro, Nietzsche assegura<br />

que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoconservação a sua ativida<strong>de</strong> mais básica e<br />

original, tendo em vista que ele absorve insensatamente muito mais do que exigiria a sua<br />

conservação – <strong>de</strong> modo que não se conserva com isso, mas se arruína (VP §651). A ruína<br />

<strong>de</strong> uma estrutura – outra expressão para <strong>de</strong>signar um ente, um complexo – não significa<br />

necessariamente, porém, o seu aniquilamento. A criação, especialização e engendramento<br />

são conseqüências da incapacida<strong>de</strong> da estrutura <strong>de</strong> assimilar o material apreendido.<br />

Retornando ao caso do protoplasma, Nietzsche afirma que a sua divisão ocorre quando o<br />

seu po<strong>de</strong>r não é suficiente para dominar o que foi apropriado – e daí, a curiosamente<br />

afirmar que “a reprodução é conseqüência <strong>de</strong> uma impotência” (VP §654). Em outros<br />

casos, porém, a ligação entre o material <strong>de</strong>svencilhado e a estrutura que lhe <strong>de</strong>u origem não<br />

é completamente abandonada – o que, ao longo do tempo, po<strong>de</strong> vir a culminar com<br />

transformação <strong>de</strong>sse “material não completamente <strong>de</strong>svencilhado” em uma nova<br />

proprieda<strong>de</strong>, em uma especialização da estrutura. Com isso, já po<strong>de</strong>mos antever o porquê<br />

<strong>de</strong>, para Nietzsche, o crescimento e a exuberância andarem tão próximos ao aniquilamento<br />

e à <strong>de</strong>struição. Tão próximos que, em um dado momento, será impossível à estrutura<br />

processar a potência acumulada – por mais que ela crie e se especialize não escapará do<br />

seu aniquilamento efetivo.<br />

Nietzsche não concebe, então, o surgimento <strong>de</strong> uma nova proprieda<strong>de</strong> a partir da sua<br />

19 Ainda <strong>de</strong> acordo com Moore, a noção <strong>de</strong> Bildungstrieb foi, bem verda<strong>de</strong>, “ressucitada” pelos biólogos<br />

alemãs do século <strong>de</strong>zenove como um contramovimento à, para eles, “sintomática” concepção inglesa <strong>de</strong><br />

seleção natural.<br />

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