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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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do que nessas duas, na luta que se estabelece entre as civilizações (hierarquia entre os<br />

homens). Se a dynamis da existência é dada pelo “jogo” entre luta e conformação <strong>de</strong><br />

hierarquia, é natural, uma vez que esse “jogo” é movido pela ambição por domínio, que<br />

essa luta e hierarquia assumam proporções <strong>de</strong> domínio cada vez maiores.<br />

Além <strong>de</strong>ssa “potencialização” luta-hierarquia, o estabelecimento <strong>de</strong> um complexo é,<br />

em certa medida, o que possibilita a preservação das vonta<strong>de</strong>s que o constituem – mas, isso<br />

sim, é mera conseqüência. Lembremos do que foi dito acerca dos homens e das<br />

civilizações. A formação <strong>de</strong> uma <strong>civilização</strong>, tal como o dissemos, propicia ao homem<br />

tanto o domínio sobre si (hierarquização dos instintos), como o domínio sobre aquilo que o<br />

cerca (hierarquização entre os homens). O homem, ao conformar uma organização social<br />

garante como conseqüência do aumento do seu po<strong>de</strong>r, a sua preservação. Frente a isso,<br />

po<strong>de</strong>mos afirmar que com a conformação <strong>de</strong> uma estrutura, a potência <strong>de</strong> diversas<br />

vonta<strong>de</strong>s – em especial, as dominantes que são as que impõem formas 18 –, ao invés <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sperdiçadas em pequenos combates, são economizadas – e daí que com a formação <strong>de</strong><br />

uma <strong>civilização</strong>, dá-se a preservação do homem (ele não se <strong>de</strong>sperdiça). Como nos diz<br />

Nietzsche, “não apenas energia constante: mas sim máxima economia <strong>de</strong> consumo: <strong>de</strong><br />

modo que o querer tornar-se mais forte a partir <strong>de</strong> cada centro <strong>de</strong> força seja a única<br />

realida<strong>de</strong>” (VP §689).<br />

Se a conservação das partes é mera conseqüência da formação do todo, ou seja, do<br />

aumento da potência, po<strong>de</strong>mos concluir que as condições <strong>de</strong> conservação são secundárias<br />

às <strong>de</strong> crescimento. Apesar <strong>de</strong>, em alguns momentos do texto, termos afirmado – utilizando<br />

uma expressão do próprio Nietzsche – que tal ou qual proprieda<strong>de</strong> é propícia ou expressa<br />

as condições <strong>de</strong> conservação e crescimento <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado complexo, a<br />

autoconservação está, na filosofia nietzschiana, bem longe <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada o impulso<br />

car<strong>de</strong>al ou um dos impulsos car<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> um ser. Para Nietzsche, a autoconservação é uma<br />

ativida<strong>de</strong> secundária, e portanto insuficiente para explicar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um<br />

organismo individual ou da espécie como um todo.<br />

Percebamos que essa oposição à conservação como impulso cardinal vai diretamente<br />

contra a concepção darwinista. De acordo com Gregory Moore, Nietzsche, leal à tradição<br />

18 Dizer que a formação do todo possibilita a conservação das partes, não significa que cada uma das partes,<br />

em específico, conservam-se. Bem verda<strong>de</strong>, em toda formação há o sacrifício <strong>de</strong> inúmeras partes, ou<br />

melhor, da maioria das partes. Contudo, caso não houvesse a formação do todo, o <strong>de</strong>sperdício seria geral<br />

e, assim, nada seria conformado, haveria apenas o caos. Daí, então, a afirmarmos que a conformação do<br />

todo possibilita a conservação das partes – sobretudo das partes dominantes, que são as que importam<br />

para Nietzsche: “O fenômeno fundamental: inúmeros indivíduos sacrificados por causa <strong>de</strong> poucos: para<br />

viabilizar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses” (VP §679).<br />

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