moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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como por exemplo, um estômago divino: mas compreen<strong>de</strong>r os seus<br />
pensamentos como 'inspirados', suas apreciações <strong>de</strong> valor como<br />
'insufladas por um <strong>de</strong>us', seus instintos como ativida<strong>de</strong> penumbrosa: para<br />
esse pendor e gosto do homem há testemunhos em toda humanida<strong>de</strong>”<br />
(VP §659).<br />
Mesmos os “órgãos e sentidos do conhecimento” teriam se <strong>de</strong>senvolvido com referência às<br />
condições <strong>de</strong> conservação e crescimento (VP §507), ou seja, a partir <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s<br />
biológicas. Com isso, todas as consi<strong>de</strong>rações acerca da verda<strong>de</strong>, da moral, da existência<br />
são ressigificadas por Nietzsche – e isso, como já o po<strong>de</strong>mos perceber, sob diversas<br />
perspectivas. Para o filósofo, se esse “mais universal e mais básico instinto presente em<br />
todo atuar e <strong>de</strong>sejar” (a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência), foi o que justamente permaneceu mais oculto<br />
e <strong>de</strong>sconhecido – a ponto <strong>de</strong> toda uma <strong>civilização</strong>, a oci<strong>de</strong>ntal, ter sido construída em cima<br />
do seu mal-entendido – isso se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que “ in praxi, nós sempre seguimos o seu<br />
mandamento, porque nós somos esse mandamento” (VP §675).<br />
3. Crescimento versus conservação<br />
Boa parte da argumentação do item anterior foi <strong>de</strong>senvolvida no sentido <strong>de</strong> mostrar<br />
como todo e qualquer ente é formado a partir do domínio das vonta<strong>de</strong>s mais fortes – sejam<br />
essas complexas (outros entes) ou não (vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> potência elementares) – por sobre as<br />
mais fracas. Apesar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarmos que essa questão foi suficientemente exposta, cabenos<br />
ainda tecer algumas elucidações sobre ela, afinal, a conformação <strong>de</strong> um ente não <strong>de</strong>ve<br />
e nem po<strong>de</strong> ser compreendida como uma mera conseqüência da luta entre as vonta<strong>de</strong>s, ou,<br />
ainda, como o fim último <strong>de</strong>ssa. A formação <strong>de</strong> um ente, ou melhor, <strong>de</strong> um complexo <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r – expressão mais ajustada à compreensão nietzschiana <strong>de</strong> “ente” – é o meio <strong>de</strong> a<br />
busca por potência ampliar os seus domínios e as proporções <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r envolvidas numa<br />
luta.<br />
Com a formação dos complexos, as vonta<strong>de</strong>s ampliam a sua potência e o alcance do<br />
seu domínio para além <strong>de</strong> si mesmas – sendo isso o que, <strong>de</strong> fato, configura o sentido da<br />
“unida<strong>de</strong>”. A formação dos complexos potencializa a luta. Retomando o que foi dito acerca<br />
dos instintos com relação aos homens e dos homens com relação às civilizações, não é<br />
difícil perceber que na luta que se estabelece entre os homens (hierarquia entre instintos)<br />
há muito mais po<strong>de</strong>r envolvido do que na luta que se estabelece entre os instintos – e mais<br />
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