moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
tratando <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> domínio, a resistência das vonta<strong>de</strong>s subjugadas nunca é<br />
completamente eliminada – como nos diz Nietzsche, “há no mandar, um reconhecimento<br />
<strong>de</strong> que o po<strong>de</strong>r absoluto do opositor não está vencido, não está incorporado” (i<strong>de</strong>m). Sendo<br />
o “comandar” e o “obe<strong>de</strong>cer”, as formas do jogo da luta, temos que hierarquia e luta estão<br />
completamente imbricadas – elas conformam a dynamis da existência. Um ente nunca é<br />
algo <strong>de</strong> estanque ou <strong>de</strong>finitivo: está sempre vindo-a-ser, está sempre sob a tensão <strong>de</strong> que a<br />
força (ou partido <strong>de</strong> forças) dominante continue a exercer o seu domínio.<br />
Se uma vonta<strong>de</strong> se configura a partir das relações estabelecidas – que, como vimos,<br />
são relações hierarquizadas –, cada uma <strong>de</strong>las tem a sua potência e, conseqüentemente, a<br />
sua posição hierárquica <strong>de</strong>terminadas através <strong>de</strong>ssas relações – “A medida <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong>termina que essência tem outra medida <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r: sob que forma, domínio e coação esse<br />
ser atua ou resiste” (VP §568). Frente a isso, po<strong>de</strong>mos perceber que numa estrutura<br />
hierarquizada, cada vonta<strong>de</strong> assume certa perspectiva para com o todo, sendo essa<br />
perspectiva o que a particulariza. Ao mesmo tempo em que as vonta<strong>de</strong>s, estejam no<br />
comando ou não, assemelham-se por serem “<strong>de</strong>senfreada ambição por domínio”, elas se<br />
diferenciam por ocuparem diferentes perspectivas em um complexo <strong>de</strong> domínio: “cada<br />
centro <strong>de</strong> força tem a sua perspectiva para todo o resto, isto é, sua espécie <strong>de</strong> ação, sua<br />
espécie <strong>de</strong> resistência” (VP §567).<br />
O fato <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong>/força po<strong>de</strong>r ocupar diferentes posições numa dada estrutura não<br />
significa que haja diferentes tipos <strong>de</strong> forças. No plano do mais elementar, uma força é<br />
busca por manutenção e ampliação <strong>de</strong> domínio, e nada mais. O fato <strong>de</strong> ela conseguir ou<br />
não se impor sobre as <strong>de</strong>mais, não se refere a variações no seu caráter, mas exclusivamente<br />
ao maior ou menor vigor para o domínio. Não é assim, porém, que pensa Deleuze. Para<br />
ele, “as forças inferiores <strong>de</strong>finem-se como reativas” e as forças superiores como ativas<br />
(DELEUZE, 1976, pp. 33-4). Ora, primeiramente atentemos para que, na filosofia<br />
nietzschiana, não há forças inferiores e superiores no sentido que Deleuze sugere – para<br />
ele, as forças reativas cuidariam das funções menores e as ativas das maiores. O que há são<br />
simplesmente forças mais fortes e forças mais fracas.<br />
Dito <strong>de</strong> modo bastante direto, acreditamos que essa compreensão acerca <strong>de</strong> uma<br />
tipologia das forças <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma transposição equivocada das características referentes<br />
aos entes complexos, mais propriamente o homem, para as forças elementares. Pois, <strong>de</strong><br />
fato existe, na filosofia nietzschiana, o homem ativo, que é superior (o nobre) e o homem<br />
reativo, que é inferior (o escravo). Deleuze toma, portanto, as características referentes ao<br />
homem nobre e as atribui às forças que comandam, e <strong>de</strong> modo correlato, toma as<br />
30