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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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uma qualida<strong>de</strong>: “A qualida<strong>de</strong> 'vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r' não é um Um efetivo; esse Um nem<br />

subsiste <strong>de</strong> alguma maneira para si, nem sequer é 'fundamento do ser' (Seinsgrund)”<br />

(MÜLLER-LAUTER, 1997, pp.83-5) 12 .<br />

A noção <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência traz para o “existir” um caráter dinâmico e relacional.<br />

Para Nietzsche, a força/vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência é um <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar-se, um efetivar-se que só se<br />

estabelece na relação com outras forças/vonta<strong>de</strong>s. Certamente esta relação é, <strong>de</strong> modo<br />

necessário, uma relação <strong>de</strong> embate: “uma força só se efetiva face a resistências, e por isso<br />

procura o que fatalmente lhe resiste” (VP §656) 13 . Diante <strong>de</strong>ssa consi<strong>de</strong>ração, po<strong>de</strong>mos<br />

perceber mais claramente porque o caráter combativo <strong>de</strong>scrito no item anterior faz parte do<br />

caráter da própria existência: a inerência entre combativida<strong>de</strong> e força é dada nas próprias<br />

condições em que o filósofo admite o existir da força mesma: “Querendo-vir-a-ser-maisforte,<br />

a força esbarra em outras que a ela resistem; é inevitável a luta – por mais potência”<br />

(MARTON, 1990, p. 55).<br />

O “querer-po<strong>de</strong>r”, o “querer-vir-a-ser-mais-forte expresso pela vonta<strong>de</strong> não é apenas<br />

<strong>de</strong>sejar, aspirar, exigir, mas também e principalmente um “afeto <strong>de</strong> comando” (MÜLLER-<br />

LAUTER, 1997, p. 54): “o afeto <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> em relação àquele que tem <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer<br />

[...] – essa consciência se escon<strong>de</strong> em toda vonta<strong>de</strong>” (BM §19). Aqui, temos não só uma<br />

outra perspectiva para compreen<strong>de</strong>r a inerência entre combativida<strong>de</strong> e força, mas também a<br />

perspectiva que nos conduzirá a compreen<strong>de</strong>r como <strong>de</strong>sse combate incessante po<strong>de</strong>m<br />

resultar hierarquias. É através do afeto <strong>de</strong> comando constituinte das vonta<strong>de</strong>s, que emerge<br />

o sistema hierárquico-organizacional teorizado por Nietzsche.<br />

Quanto maior for a “força” <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong>, maior será a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistir às<br />

<strong>de</strong>mais e, por conseguinte, maior, a sua possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dominá-las. Ora se as vonta<strong>de</strong>s se<br />

efetivam mediante o embate com outras vonta<strong>de</strong>s e se nesse embate a vonta<strong>de</strong> mais forte<br />

subjuga e a mais fraca é subjugada, então, po<strong>de</strong>mos afirmar junto com Nietzsche que<br />

“'obe<strong>de</strong>cer' e 'comandar' são formas da luta” (VP §642). A fixação <strong>de</strong>sse “comandar” e<br />

“obe<strong>de</strong>cer” se configurará como uma hierarquia entre forças, e essa, como um ente. Com<br />

isso, po<strong>de</strong>mos perceber que o estabelecimento da hierarquia não significa, em absoluto, o<br />

fim da luta, rigi<strong>de</strong>z das formas ou qualquer outra coisa parecida. Afinal, mesmo em se<br />

12 Bem verda<strong>de</strong>, essa não-estabilida<strong>de</strong> e não-substancialização da força/vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência constitui-se, a<br />

nosso ver, como a principal contribuição que a noção física <strong>de</strong> força trouxe para a concepção <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> potência como vonta<strong>de</strong> orgânica.<br />

13 Observemos que também o, digamos, “antece<strong>de</strong>nte do homem” molda a si mesmo em “homem” – isto é,<br />

em “animal avaliador” – a partir das relações travadas com os outros “antece<strong>de</strong>ntes do homem” (ele não é<br />

“em si”). Além disso, tampouco o homem é concebido no sentido <strong>de</strong> uma alma indivisa ou qualquer outra<br />

espécie <strong>de</strong> substância, já que é multiplicida<strong>de</strong> mais ou menos organizada.<br />

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