11.04.2013 Views

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Não pensemos, porém, que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ssa opressão civilizatória venha a amansar o<br />

bicho homem bem-sucedido. Certamente, no seio da sua comunida<strong>de</strong>, os homens são,<br />

como vimos, obrigados a seguir <strong>de</strong>terminadas leis e regras <strong>de</strong> conduta, mas “para fora, ali<br />

on<strong>de</strong> começa o que é estranho, o estrangeiro, eles não são melhores que animais <strong>de</strong> rapina<br />

<strong>de</strong>ixados à solta”. Isso significa que também as civilizações são compreendidas pelo<br />

filósofo como uma ambição <strong>de</strong>spótica que anseia pelo po<strong>de</strong>r. Daí que, através das guerras,<br />

conquistas e vinganças empreendidas entre as diferentes civilizações, os homens tenham a<br />

chance <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda coerção social e retornar à inocente consciência <strong>de</strong><br />

animal <strong>de</strong> rapina, <strong>de</strong>ixando atrás <strong>de</strong> si “uma sucessão horrenda <strong>de</strong> assassínios, incêndios,<br />

violações e torturas” (GM I §11).<br />

2. O caráter da existência<br />

Ao discorrermos sobre a relação entre homem, valor e <strong>civilização</strong> em Nietzsche – para<br />

a qual a noção <strong>de</strong> instinto se revelou fundamental –, vimos que um mesmo caráter foi<br />

sempre atribuído: a busca insaciável por mais domínio e a conformação através da<br />

hierarquia. Tal caráter, porém, não é restrito ao universo humano e animal, ele se esten<strong>de</strong> a<br />

tudo o que há – constituindo-se, portanto, como o caráter da própria existência – “Po<strong>de</strong>mos<br />

dissecar espacialmente o nosso corpo, e então obteremos <strong>de</strong>le uma representação que é em<br />

tudo idêntica ao sistema estelar, e a diferença entre orgânico e inorgânico não salta mais<br />

aos olhos” (VP §676). No presente item, aprofundar-nos-emos em algumas nuances<br />

referentes a esse caráter, por Nietzsche nomeado <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência.<br />

Nietzsche “anteviu” o princípio da existência. Como afirma Marton, o filósofo, tal<br />

como os evolucionistas da sua época, buscou encontrar o ponto <strong>de</strong> ligação entre as ciências<br />

da natureza (Naturwissenschaften) e as ciências do espírito (Geistwissenchaften). Todavia,<br />

percorrendo um caminho inverso ao dos evolucionistas, Nietzsche partiu assumidamente<br />

da história das civilizações para chegar à filosofia da natureza – sendo esta que lhe<br />

forneceu os fundamentos para “diagnosticar” os problemas postos pela condição humana<br />

(MARTON, 1990, p. 13).<br />

De acordo com o que foi dito no item anterior, po<strong>de</strong>mos afirmar que o “corpo”,<br />

hierarquia entre instintos, e as suas necessida<strong>de</strong>s, conservação e crescimento – <strong>de</strong>vendo<br />

crescimento ser entendido no sentido <strong>de</strong> expansão e dominação –, são compreendidos por<br />

Nietzsche como o ponto <strong>de</strong> partida da formação das complexas estruturas humanas (moral<br />

25

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!