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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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também para a disciplina e cultivo espiritual” – atingindo, com isso, “alguma coisa pela<br />

qual vale a pena viver na terra”:<br />

O essencial, 'no céu como na terra', ao que parece, é, repito, que se<br />

obe<strong>de</strong>ça por muito tempo numa direção: daí surge com o tempo, e<br />

sempre surgiu, alguma coisa pela qual vale a pena viver na terra, como<br />

virtu<strong>de</strong>, arte, música, dança, razão, espiritualida<strong>de</strong> – alguma coisa<br />

transfiguradora, refinada, louca e divina. (i<strong>de</strong>m)<br />

Ficando claro que o homem e a sua socieda<strong>de</strong> são moldados através da obediência a<br />

uma <strong>de</strong>terminada moral, torna-se acessível a afirmação nietzschiana <strong>de</strong> que “o ponto <strong>de</strong><br />

vista do valor é o ponto <strong>de</strong> vista das condições <strong>de</strong> conservação e crescimento <strong>de</strong> complexas<br />

formas <strong>de</strong> vida” 11 (VP §715). Os valores, ao estabilizarem e propagarem a hierarquia<br />

instintual que lhe <strong>de</strong>u origem ao longo <strong>de</strong> diversas gerações, fixam as condições nas quais<br />

um homem e uma socieda<strong>de</strong> se formam, crescem e se conservam, expressando, portanto,<br />

“o ponto <strong>de</strong> vista das suas condições <strong>de</strong> conservação e crescimento”. Frente a isso,<br />

po<strong>de</strong>mos afirmar conjuntamente a Theodore R. Schatzki que “a <strong>moralida<strong>de</strong></strong> é a linguagem<br />

dos afetos e instintos; a cultura começa no corpo” (SCHATZKI, 1994, p.148).<br />

Com isso, as noções <strong>de</strong> Bem e Mal, tão comuns nas discussões sobre a <strong>moralida<strong>de</strong></strong>,<br />

ganham, na concepção nietzschiana, uma nova abordagem: bem passa a se referir a tudo<br />

aquilo que promove a conservação e crescimento do homem e mal ao que promove o seu<br />

esvanecimento. Nietzsche <strong>de</strong>signa essa tendência das suas consi<strong>de</strong>rações como uma<br />

“i<strong>moralida<strong>de</strong></strong> natural” – chegando mesmo a afirmá-lo como a sua tarefa: “minha tarefa é<br />

transportar novamente para a natureza o valor moral aparentemente emancipado e tornado<br />

sem natureza – isto é, para a sua “i<strong>moralida<strong>de</strong></strong>” natural” (VP §299).<br />

Curiosamente, então, po<strong>de</strong>mos perceber que, para Nietzsche, o homem civilizado, no<br />

sentido aqui estabelecido, está longe <strong>de</strong> ser um animal enfraquecido. A civilida<strong>de</strong> veio<br />

nesse primeiro momento a hierarquizar, a conter, educar os instintos, <strong>de</strong> modo que fosse<br />

possível, a partir da continuação do trabalho dos antepassados, brotar organicamente no<br />

homem aquilo que lhe é mais vigoroso. Como veremos adiante, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer<br />

é, para o filósofo, absolutamente indispensável para o <strong>de</strong>senvolvimento da arte <strong>de</strong> mandar.<br />

Sendo a opressão civilizatória o que veio a acarretar no <strong>de</strong>senvolvimento daquela<br />

capacida<strong>de</strong>, temos que a própria opressão po<strong>de</strong> ser, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos parâmetros em que<br />

esteja posta, um elemento <strong>de</strong> fortalecimento.<br />

11 Por “complexas formas <strong>de</strong> vida”, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>r o homem e as suas conformações sociais.<br />

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