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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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instintos, no caso do homem uma série <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> coerção externa, os mecanismos<br />

civilizatórios, são criados para que essa auto-regulação instintual seja alcançada. O bicho<br />

homem, ainda que inconscientemente, julga/avalia <strong>de</strong>terminadas ações, pondo algumas<br />

como leis e, outras como crimes. Na medida em que diversas gerações obe<strong>de</strong>çam às<br />

mesmas leis – o que significa que cada geração repetirá o comportamento das gerações<br />

prece<strong>de</strong>ntes (homogeneida<strong>de</strong> comportamental) –, essas leis e comportamentos serão<br />

internalizados e, assim, finalmente os instintos regulados. Isso significa que o<br />

comportamento que antes era obtido mediante coerção, passa a ser constituinte,<br />

automático, instintivo. Ao garantir a estabilida<strong>de</strong> da hierarquia instintual <strong>de</strong> um homem, os<br />

valores, ou melhor, a moral garante-lhe a vida e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliação da sua<br />

potência – e daí o filósofo afirmar que as “morais são a expressão <strong>de</strong> hierarquias<br />

localmente <strong>de</strong>limitadas nesse mundo multifacetado dos instintos: <strong>de</strong> modo que o homem<br />

não sucumba as suas contradições” (VP §966) 10 . Estando claros os meios pelos quais os<br />

valores pu<strong>de</strong>ram vir a fixar os instintos, garantindo a existência, ao mesmo tempo em que<br />

formando o bicho homem, parece que nos aproximamos <strong>de</strong>finitivamente do significado <strong>de</strong><br />

“o avaliar como modo tipicamente humano <strong>de</strong> assimilação da existência”. Homem, valor e<br />

<strong>civilização</strong> – uma tría<strong>de</strong> que, para Nietzsche, é impossível <strong>de</strong> ser dissociada.<br />

A partir do que foi dito, fica claro que Nietzsche concebe a moral sob a perspectiva da<br />

coerção introjetada: “O essencial e inestimável em toda moral é o fato <strong>de</strong> ela ser uma<br />

<strong>de</strong>morada coerção” (BM §188). O fato <strong>de</strong> o bicho homem criar todo um aparato moral e<br />

civilizatório para garantir a estabilida<strong>de</strong> dos seus instintos, não o torna distante ou<br />

essencialmente distinto do restante da natureza. Bem verda<strong>de</strong>, no registro em que ele<br />

concebe a formação da moral e da <strong>civilização</strong> – formações que são tão indissociáveis uma<br />

da outra quanto da formação do homem enquanto homem –, estas <strong>de</strong>vem ser<br />

compreendidas como pertencentes à natureza, como orgânicas. Se Nietzsche, então, por<br />

um lado, afirma que a moral é “um pouco <strong>de</strong> tirania contra a 'natureza'” – já que tolhe,<br />

limita e molda, a partir <strong>de</strong> “fora”, o material humano –, por outro, afirma que é justamente<br />

a “natureza” na moral que “ensina a odiar o laisser aller [<strong>de</strong>ixar ir], a liberda<strong>de</strong> excessiva<br />

[instintos <strong>de</strong>senfreados], e que implanta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> horizontes limitados, <strong>de</strong> tarefas<br />

mais imediatas”. Certamente, o homem é o autor da sua própria coerção e, assim, da sua<br />

forma, mas é através da escravidão a essa sua criação (a moral) que ele se disciplina e<br />

cultiva – “a escravidão é, no sentido mais grosseiro ou no mais sutil, o meio indispensável<br />

10<br />

Relembremo-nos que, no presente item, estamos tratando apenas das conseqüências positivas da<br />

<strong>moralida<strong>de</strong></strong>.<br />

23

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