11.04.2013 Views

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tradição manda não existe <strong>moralida<strong>de</strong></strong>; e quanto menos a vida é <strong>de</strong>terminada pela tradição,<br />

tanto menor a <strong>moralida<strong>de</strong></strong>” –, em se tratando da pré-história, o po<strong>de</strong>r da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> era por<br />

<strong>de</strong>mais rígido e abrangia todos os aspectos da socieda<strong>de</strong>: “Originalmente, fazia parte do<br />

domínio da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> toda a educação e os cuidados da saú<strong>de</strong>, o casamento, as artes da<br />

cura, a guerra, a agricultura, a fala e o silêncio, o relacionamento <strong>de</strong> uns com os outros e<br />

com os <strong>de</strong>uses” (A §9). A <strong>moralida<strong>de</strong></strong> dos costumes exigia que alguém observasse e<br />

seguisse os seus preceitos sem pensar em si como indivíduo, afinal, somente assim, a sua<br />

tarefa <strong>de</strong> “tornar o homem até certo ponto necessário, uniforme, igual entre os iguais,<br />

constante e, portanto, confiável” (GM II §2) seria, <strong>de</strong> fato, atingida. Apropriando-nos das<br />

palavras <strong>de</strong> Azevedo, po<strong>de</strong>mos afirmar que o papel fundamental da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> dos<br />

costumes e da tradição seria o <strong>de</strong> inscrever o homem no social, conter-lhe os instintos<br />

(AZEVEDO, 2008, p. 249).<br />

Um homem, então, que quisesse se erguer acima do po<strong>de</strong>r do costume teria <strong>de</strong>,<br />

necessariamente, tornar-se um criador <strong>de</strong> costumes, o que em termos sociais equivaleria a<br />

tornar-se um “legislador e curan<strong>de</strong>iro, e uma espécie <strong>de</strong> semi<strong>de</strong>us” (A §9). “Tal prática,<br />

todavia”, salienta Azevedo, “constitui-se como perigosa, haja vista o po<strong>de</strong>r or<strong>de</strong>nador que<br />

envolve o próprio costume e a conotação imoral daquele que o enfrenta” (AZEVEDO,<br />

2008, p. 248). Face a essa dualida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos observar que, para Nietzsche, a hierarquia<br />

das socieda<strong>de</strong>s arcaicas era formada, basicamente, por dois pólos: o do legislador e o do<br />

executor da lei (maior número). In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, porém, <strong>de</strong> legislando ou executando<br />

as leis, o que nos interessa notar é que foi graças à <strong>moralida<strong>de</strong></strong> dos costumes em conjunto à<br />

camisa-<strong>de</strong>-força social que o homem tornou-se, finalmente, confiável (GM II §2). Mais do<br />

que se tornar confiável, o homem, através da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> dos costumes, tornou-se<br />

responsável. Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos afirmar que a pré-história da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> é a história<br />

da transformação do animal, enquanto instinto <strong>de</strong>senfreado (o antece<strong>de</strong>nte do homem), em<br />

homem que controla e domina as exigências do <strong>de</strong>sejo (AZEVEDO, 2008, p. 243).<br />

Uma vez que os costumes e o po<strong>de</strong>r da tradição se propaguem através <strong>de</strong> diversas<br />

gerações, teremos no homem um “automatismo” equivalente ao que os instintos produzem<br />

nos outros animais: “[a]quilo que uma moral, um código cria é o instinto profundo para o<br />

[...] automatismo” (VP §68). Por representar uma instância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r superior aos<br />

indivíduos, a moral, isto é, a imposição <strong>de</strong> costumes, acabou por fixar um <strong>de</strong>terminado<br />

modo <strong>de</strong> comportamento que, propagado ao longo do tempo, terminará por fixar-lhes os<br />

instintos. Para o filósofo, a moral é prática no seu mais alto grau. Com isso, po<strong>de</strong>mos<br />

perceber que, se nos outros animais a auto-regulação é atingida prontamente pelos<br />

22

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!