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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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ela foi responsável pelo aprimoramento do homem (homem soberano, consciência moral<br />

como auto-afirmação, como auto-elevação), ela foi responsável pelo adoecimento da<br />

maioria dos homens (homem ressentido, má-consciência) 6 . Isso significa que quando<br />

pensamos a origem do homem e da moral, essa dualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve se fazer presente. De<br />

qualquer sorte, para Nietzsche, a doença oriunda da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> só se apresenta<br />

propriamente como um problema quando o estrato dos doentes <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> se submeter ao dos<br />

saudáveis.<br />

Até agora consi<strong>de</strong>ramos o homem apenas sob o ponto <strong>de</strong> vista das suas partes, qual<br />

seja, o homem como multiplicida<strong>de</strong> hierarquizada <strong>de</strong> instintos. Consi<strong>de</strong>rando-o, porém,<br />

como um todo – isto é, como “homem” –, veremos que ele, tal como os instintos que o<br />

conformam, também é compreendido, pelo filósofo, como uma ambição <strong>de</strong>spótica que<br />

combate incessantemente por mais domínio. Esse combate se estabelecerá contra tudo<br />

aquilo que o cerca, inclusive contra os outros homens. Frente a isso, percebamos que a<br />

mesma luta que se estabelece no interior <strong>de</strong> um homem, ocorre no seu exterior, só que<br />

enquanto no primeiro caso ele é o todo, no segundo ele é a parte. Da luta entre os homens<br />

dá-se, como no caso dos instintos, o auto<strong>de</strong>sperdício e o caos, mas também a formação <strong>de</strong><br />

hierarquias, o que conduz ao tolhimento mútuo das propensões <strong>de</strong>sregradas e, com isso, à<br />

economia <strong>de</strong> forças – economia esta, que é essencial para a formação das comunida<strong>de</strong>s<br />

humanas.<br />

Em conjunto com a ânsia <strong>de</strong>senfreada por mais domínio, é, também, inerente ao<br />

homem, a propensão a formar hierarquias, que nesse caso, são os complexos, as<br />

comunida<strong>de</strong>s humanas. Para Nietzsche, toda comunida<strong>de</strong> humana, quando expressão <strong>de</strong><br />

abundância <strong>de</strong> vida – o que, para ele, não ocorre com a <strong>de</strong>mocrática, socialista e, também,<br />

anarquista <strong>civilização</strong> oci<strong>de</strong>ntal a ele contemporânea –, dispõem-se sob a forma<br />

hierárquica, na qual os homens mais fortes dominam os mais fracos, utilizando-os para a<br />

realização das suas propensões 7 . Como na origem, toda <strong>civilização</strong> é, <strong>de</strong> modo geral,<br />

expressão <strong>de</strong> abundância <strong>de</strong> vida, po<strong>de</strong>mos concluir, junto com o filósofo, que todas as<br />

6 Como a má-consciência está intimamente ligada à formação do i<strong>de</strong>al ascético <strong>de</strong>ixaremos para <strong>de</strong>senvolvêla<br />

no último capítulo, que se <strong>de</strong>dica à explicitação da origem do mencionado i<strong>de</strong>al. Desse modo, toda a<br />

explicitação acerca da origem e <strong>de</strong>senvolvimento da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> se concentra, no presente item,<br />

exclusivamente na perspectiva positiva, a que, como já o sabemos, veio a <strong>de</strong>sembocar na formação do<br />

homem soberano.<br />

7 A saú<strong>de</strong> e doença provocadas pela <strong>moralida<strong>de</strong></strong> se relacionam diretamente ao lugar ocupado pelo homem na<br />

hierarquia. Assim, no que diz respeito a esses tempos arcaicos, a soberania estaria associada aos homens mais<br />

fortes e a má-consciência aos mais fracos.<br />

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