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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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entre homens e “animais”, pois os homens diferentemente dos animais são constituídos por<br />

uma profusão <strong>de</strong> instintos contrários uns aos outros: “em um único homem habita uma<br />

vasta confusão <strong>de</strong> [...] instintos contraditórios [...] o que se dá em contraste aos animais,<br />

nos quais todos os instintos existentes correspon<strong>de</strong>m a tarefas [Aufgaben] bastante<br />

precisas” (VP §259). Essa rica e confusa compleição instintiva do homem, não lhe<br />

possibilita qualquer <strong>de</strong>terminação: tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> como os instintos venham a se<br />

hierarquizar – algo <strong>de</strong> absolutamente imprevisível. Daí Nietzsche consi<strong>de</strong>rar o homem<br />

como o animal ainda não <strong>de</strong>terminado, isto é, como o animal não fixado <strong>de</strong> maneira<br />

<strong>de</strong>terminada pelos instintos.<br />

O fato <strong>de</strong> o homem ser um animal in<strong>de</strong>terminado é tomado, por alguns intérpretes da<br />

obra nietzschiana, como sinônimo <strong>de</strong> doença. Para Karl Jaspers, por exemplo, a não<br />

fixação do homem o torna necessariamente doente. Curiosamente, é fazendo uso da<br />

anotação citada no parágrafo anterior, que ele chega a essa conclusão: “A doença da<br />

humanida<strong>de</strong> 'em contraste aos animais, nos quais todos os instintos existentes<br />

correspon<strong>de</strong>m a tarefas bastante precisas ' é expressa pelo fato <strong>de</strong> que o homem, sendo um<br />

mero feixe <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s não realizadas <strong>de</strong> uma 'natureza in<strong>de</strong>terminada', 'pulula <strong>de</strong><br />

avaliações contraditórias e, por conseguinte <strong>de</strong> impulsos contraditórios'” (JASPERS, 1997,<br />

p. 130). Mais do que um ser doente, para Jaspers, a in<strong>de</strong>terminação faz do homem, um não<br />

animal – já que segundo ele, é algo cuja natureza ainda está por ser <strong>de</strong>terminada: “Mas, <strong>de</strong><br />

fato, o homem não é um animal. É apenas porque ele distingue a si mesmo dos <strong>de</strong>mais<br />

animais que é tão óbvio para ele ser um animal ou estar apto a sê-lo” (JASPERS, 1997, p.<br />

129).<br />

De maneira diversa, para nós, Nietzsche não apenas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o homem é um<br />

animal 2 , mas também que, através da criação e fixação dos valores (cujo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

será explicitado no presente item), o homem conseguiu, sim, embora não <strong>de</strong> maneira<br />

<strong>de</strong>finitiva ou homogênea, fixar os seus instintos hierarquicamente – sendo justamente esse<br />

movimento, o que o constituiu enquanto homem, melhor dizendo, no animal avaliador.<br />

Bem verda<strong>de</strong>, se não lhe fosse nunca possível alguma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação, o homem<br />

simplesmente teria sucumbido no curso do <strong>de</strong>vir – pois, como dissemos logo no início do<br />

presente item, “fixar domínio” é justamente o que, para Nietzsche, configura a existência<br />

<strong>de</strong> um ente. Nesse sentido, não compreen<strong>de</strong>mos o homem como um animal<br />

2 Para que justifiquemos essa nossa compreensão do homem como animal, uma série <strong>de</strong> outras<br />

consi<strong>de</strong>rações se fazem ainda necessárias – o que nos obriga, forçosamente, a <strong>de</strong>ixar essa justificação para<br />

o terceiro capítulo.<br />

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