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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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Assim, <strong>de</strong>paramo-nos com a primeira manifestação do niilismo, fenômeno <strong>de</strong>finido<br />

pelo filósofo, como o sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>solação advindo da <strong>de</strong>svalorização dos valores<br />

supremos: “Que significa niilismo? – Que os valores supremos <strong>de</strong>svalorizem-se. Falta o<br />

fim; falta a resposta ao ‘Por quê?’” (VP §2). Ora, tal como afirmamos na página 84, o<br />

problema que se impõe ao homem <strong>de</strong>generado não é o sofrimento mesmo, pois este sempre<br />

existiu – sendo ferramenta fundamental do processo <strong>de</strong> hominização –, mas a questão <strong>de</strong><br />

“para que sofrer?”. Com a <strong>de</strong>generescência crescente não somente o sofrimento é trazido<br />

para o primeiro plano da existência, como a sua falta <strong>de</strong> sentido. Notemos que tendo o<br />

sofrimento sido a ferramenta mo<strong>de</strong>ladora do homem, a sua falta <strong>de</strong> sentido implica na falta<br />

<strong>de</strong> sentido do próprio homem: “Sua existência sobre a terra não possuía finalida<strong>de</strong>; ‘para<br />

que o homem?’ – era a pergunta sem resposta; faltava a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> homem e terra; por trás<br />

<strong>de</strong> cada gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>stino humano soava, como um refrão ainda maior, um ainda maior ‘Em<br />

vão!’” (GM III §28).<br />

Diante disso, po<strong>de</strong>mos perceber que a caotização instintiva <strong>de</strong>corrente do <strong>de</strong>clínio dos<br />

valores atinge o homem diretamente nas condições da sua existência, fazendo <strong>de</strong>le mais do<br />

que um sofredor <strong>de</strong> si – um sofredor existencial. E aqui chegamos ao que julgamos ser o<br />

principal motivo <strong>de</strong> o ascetismo ter conseguido imperar. Pois, <strong>de</strong> acordo com o filósofo, se<br />

“<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rarmos o i<strong>de</strong>al ascético, o homem, o animal homem, não teve até agora sentido<br />

algum” (ibi<strong>de</strong>m):<br />

130<br />

O i<strong>de</strong>al ascético significa precisamente isto; que algo faltava, que uma<br />

monstruosa lacuna circundava o homem – ele não sabia se justificar,<br />

explicar, afirmar a si mesmo, ele sofria do problema do seu sentido. [...]<br />

A falta <strong>de</strong> sentido do sofrer, não o sofrer, era a maldição que até então se<br />

estendia sobre a humanida<strong>de</strong> – e o i<strong>de</strong>al ascético lhe ofereceu um sentido!<br />

Foi até agora o único sentido; qualquer sentido é melhor do que nenhum;<br />

o i<strong>de</strong>al ascético foi até o momento, <strong>de</strong> toda maneira, o ‘faute <strong>de</strong> mieux’<br />

[mal menor] par excellence. Nele o sofrimento era interpretado; a<br />

monstruosa lacuna parecia preenchida; a porta se fechava para todo<br />

niilismo suicida.” (i<strong>de</strong>m)<br />

Já explicitamos suficientemente que a moral ascética foi o gran<strong>de</strong> antídoto contra o<br />

niilismo prático (VP §4). Mas o que não havíamos explicitado, pois estávamos <strong>de</strong>tidos<br />

numa outra perspectiva, é que o sucesso <strong>de</strong>sse antídoto está relacionado ao sentido<br />

existencial trazido com essa moral – o que, por sua vez, indica uma nova necessida<strong>de</strong> por<br />

parte do bicho homem – necessida<strong>de</strong> essa ligada ao reino cunhado e <strong>de</strong>sbravado pelo<br />

asceta: o reino das abstrações...

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