moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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in<strong>de</strong>terminado que <strong>de</strong>termina a si, através da construção dos valores. Ao lado da concepção<br />
do homem como o animal in<strong>de</strong>terminado, <strong>de</strong>vemos, pois então colocar a do homem como<br />
o animal avaliador. Todavia, e aqui encontramos o ponto <strong>de</strong> tensão entre essas duas<br />
possibilida<strong>de</strong>s/potencialida<strong>de</strong>s do homem, a sua <strong>de</strong>terminação é sempre algo <strong>de</strong><br />
temporário, uma vez que a moral, sendo dotada <strong>de</strong> um ciclo vital, irá, em algum momento,<br />
perecer e com isso reconduzir o homem à sua sempre iminente in<strong>de</strong>terminação, em outras<br />
palavras, à caotização dos seus instintos.<br />
Ora, mas com isso ainda não respon<strong>de</strong>mos, porque o caos ou a in<strong>de</strong>terminação do<br />
antece<strong>de</strong>nte do homem não seria <strong>de</strong>generação, e a do homem sim. Vejamos que a resposta<br />
se encontra na própria indagação. Pois, se o homem tornou-se homem através dos valores,<br />
através do estabelecimento <strong>de</strong> uma hierarquia <strong>de</strong> valores, o esvaecimento <strong>de</strong>ssa indica a<br />
perda <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do homem enquanto homem. Se o ponto <strong>de</strong> vista do valor é o ponto <strong>de</strong><br />
vista das condições <strong>de</strong> conservação e crescimento <strong>de</strong> complexas formas <strong>de</strong> vida, temos que<br />
sem esse “ponto <strong>de</strong> vista”, os homens e sua comunida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>m se conservar ou<br />
crescer. A possibilida<strong>de</strong> existencial do bicho homem está diretamente relacionada a essa<br />
parte espiritual do seu organismo: a moral<br />
No antece<strong>de</strong>nte do homem a caotização instintiva, sendo o único estado por ele<br />
vivenciado, obviamente não era sentida como perda <strong>de</strong> um sistema condutor dos instintos,<br />
que é o que ocorre com o homem pertencente a uma socieda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>generação. Com o<br />
processo <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce, os <strong>de</strong>uses, outrora tão potentes, os valores, outrora suficientes para<br />
assegurarem e enriquecerem a vida, per<strong>de</strong>m paulatinamente a potência e com esta a<br />
credulida<strong>de</strong>. Notemos que é por meio das estimações morais que o mundo se apresenta<br />
“colorido” (VP §260), com a sua <strong>de</strong>rrocada, o mundo torna-se cinzento, ou, em palavras<br />
mais diretas, sem sentido.<br />
Com o processo <strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce tornado epi<strong>de</strong>mia, a legitimida<strong>de</strong> dos valores é posta em<br />
xeque, o que significa que a sua universalida<strong>de</strong>, antes tida como certa graças à<br />
automatização dos instintos, já não po<strong>de</strong> mais ser validada – algo que o bicho homem não<br />
suporta. Lembremo-nos, como dissemos na página 57, que a pretensão à universalida<strong>de</strong><br />
não está apenas presente nos valores ascéticos – apesar <strong>de</strong>sses terem levado tal pretensão<br />
às últimas conseqüências. Para Nietzsche, que “uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crenças tenha<br />
<strong>de</strong> existir; que se possa julgar; que falte a dúvida em relação a todos os valores essenciais –<br />
essa é a precondição <strong>de</strong> todo vivente e <strong>de</strong> sua vida” (VP §507). E daí ao filósofo afirmar<br />
que a verda<strong>de</strong> – que nada mais é do que o ponto <strong>de</strong> vista fornecido pelos valores –, “é o<br />
tipo <strong>de</strong> erro sem o qual uma espécie <strong>de</strong> seres vivos não po<strong>de</strong>ria viver” (VP §493).<br />
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