moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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antagonismo ao solo no qual cresceu (VP §204), é-lhe também inerente responsabilizar<br />
tudo o que se refere ao seu “solo” como culpado pela <strong>de</strong>generescência, uma vez que essa<br />
entre em ascensão. Tanto no que se refere aos cristãos frente aos romanos, quanto no que<br />
se refere à Platão e Sócrates diante dos “autênticos helenos”, po<strong>de</strong>mos encontrar, <strong>de</strong> acordo<br />
com Nietzsche, essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> caluniar os instintos e moral nobres, como culpados pela<br />
<strong>de</strong>generescência. A utilização do corpo que <strong>de</strong>generava, da moral que <strong>de</strong>generava como<br />
argumento para a con<strong>de</strong>nação do corpo e dos valores que antes tão bem imperavam<br />
resultou em que o corpo e os valores fortes passaram a ser tidos, junto com a vida e a<br />
natureza, como <strong>de</strong>generados “em si” – e aqui, temos a confusão das conseqüências com as<br />
causas da déca<strong>de</strong>nce, contra a qual adverte Nietzsche (vi<strong>de</strong> página 79). Assim, os próprios<br />
nobres que, antes da sua <strong>de</strong>rrocada, já reconheciam no asceta um novo tipo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (BM<br />
§51), assumiram, como meio <strong>de</strong> sobrevivência, os valores ascéticos, passando a se acusar<br />
pela presença das suas características mais elevadas: “É que os homens superiores<br />
terminaram por medir-se, eles mesmos, pelo padrão <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s dos escravos – acusaram a<br />
si mesmos <strong>de</strong> ‘soberbos’ etc. e censuraram todas as suas características mais elevadas!”<br />
(VP §874).<br />
Através das suas inversões e calúnias “astuciosas”, os ascetas impuseram uma<br />
terapêutica que ao invés <strong>de</strong> fornecer um sistema fortificante, relacionado ao corpo, à<br />
disciplina, à alimentação, ofereceram uma moral, que ao preço <strong>de</strong> livrar o homem da<br />
morte, do auto-assassínio, promoveu “o lento auto-assassínio; pouco a pouco uma pequena,<br />
pobre, mas duradoura vida” (VP §247).<br />
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