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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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sua “inteireza” surge não da plenitu<strong>de</strong> da vida, mas da sua <strong>de</strong>generescência, temos que ela<br />

é igualmente <strong>de</strong>generada. E aqui retomamos ao que foi indicado na página 32, mais<br />

propriamente na nota 24: o modo <strong>de</strong> disposição entre as vonta<strong>de</strong>s. O asceta possui um<br />

modo <strong>de</strong> estruturação específico e que ele naturalmente tenta imprimir naqueles que<br />

domina. Nele, os instintos mórbidos dominam os mais sãos, e daí a ele dispor-se<br />

fisiologicamente <strong>de</strong> acordo com a <strong>de</strong>generação. Pois notemos que do embate entre seus<br />

instintos reprimidos, <strong>de</strong>u-se uma inversão da hierarquia instintual. Esta inversão configura<br />

um modo <strong>de</strong> disposição contrário ao modo <strong>de</strong> disposição <strong>de</strong> uma estrutura em ascensão e<br />

diferente o <strong>de</strong> uma em <strong>de</strong>clínio, que se encontraria em processo <strong>de</strong> caotização. Assim,<br />

temos no asceta a coesão das partes, o que lhe confere força, mas não saú<strong>de</strong>. O asceta<br />

dispõe-se <strong>de</strong> acordo com a lógica da déca<strong>de</strong>nce – e, por conta disso, o seu egoísmo, a sua<br />

ânsia <strong>de</strong> domínio tem para Nietzsche pouco valor:<br />

125<br />

O egoísmo é tão valioso quanto é fisiologicamente valioso quem o tem.<br />

[...] caso ele represente a ascensão da linha-homem, então seu valor é <strong>de</strong><br />

fato extraordinário; e o cuidado com a sua conservação e proteção <strong>de</strong>ve<br />

ser extremo. (É o cuidado do futuro, que nele é promissor, que confere ao<br />

indivíduo bem sucedido um tão extraordinário direito ao egoísmo.) Caso<br />

represente a linha <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, a <strong><strong>de</strong>cadência</strong>, o adoecimento crônico:<br />

compete-lhe então pouco valor: a eqüida<strong>de</strong> primeira é a <strong>de</strong> que ele roube<br />

o mínimo possível <strong>de</strong> espaço, força e raio <strong>de</strong> sol ao bem-sucedido. Nesse<br />

caso, a socieda<strong>de</strong> tem por incumbência a restrição ao egoísmo [...]: quer<br />

se trate <strong>de</strong> um indivíduo, quer <strong>de</strong> todo um estrato do povo que <strong>de</strong>finha e<br />

<strong>de</strong>genera. (VP §373) 78<br />

O ódio do asceta e toda a criação que <strong>de</strong>le advém não são, porém suficientes para o<br />

seu domínio sobre os nobres, somente com a <strong>de</strong>generescência dos próprios nobres é que<br />

isso se faz possível.<br />

De acordo com Nietzsche, uma vez que as socieda<strong>de</strong>s aristocráticas se mostraram<br />

estabelecidas no conjunto e protegidas dos perigos externos, a moral nobre entrou em<br />

<strong>de</strong>generescência. Afinal, as características nobres, como o espírito empreen<strong>de</strong>dor, a<br />

temerida<strong>de</strong>, a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> vingança, a astúcia, a rapacida<strong>de</strong>, a ânsia <strong>de</strong> domínio, enfim todos os<br />

seus impulsos fortes e perigosos, “que até então tinham <strong>de</strong> ser não apenas respeitados<br />

como socialmente úteis [...], mas cultivados e acentuados (porque necessitava-se<br />

78 É importante que nesta citação prestemos atenção em algo para o qual Frezzatti chama atenção. Se o<br />

egoísmo, para Nietzsche, só vale no caso do indivíduo bem sucedido, que representa a ascensão da linha<br />

homem, então, “[n]esse caso, o egoísmo é num certo sentido falso, porque o que se visa é o futuro do<br />

homem (FREZZATTI, 2008, p. 274). No item a seguir, teremos a chance <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a presente<br />

observação com mais proprieda<strong>de</strong>.

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