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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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escrava na moral – que tem como expressão máxima o cristianismo. Essa rebelião nada<br />

mais significa do que uma inversão radical na hierarquia dos valores, e por conseguinte, na<br />

hierarquia social. Se antes a casta mais alta – “os poucos” (AC §57) – era conformada<br />

pelos indivíduos que representavam a felicida<strong>de</strong> e a beleza na Terra, com a inversão da<br />

hierarquia, esse tipo passa a ser amplamente combatido e até mesmo eliminado, seja<br />

porque “adquiriu” a má-consciência (eliminação psicológica), o que nas raças mais fortes<br />

se revela como um fenômeno ainda mais grave – “[d]egeneração e auto<strong>de</strong>struição das<br />

‘naturezas superiores’, pois nelas justamente o conflito torna-se consciente” (VP §400) –<br />

seja porque foi <strong>de</strong> fato aniquilado. O que não é possível, para o filósofo, é que uma raça<br />

senhorial permaneça sob o julgo da dominação, pois tal como ele afirma: “uma raça<br />

senhorial ou está por cima ou sucumbe” (VP §145).<br />

Certamente, uma vez que estamos tratando <strong>de</strong> inversão da hierarquia, na mesma<br />

medida em que os homens que estavam no topo da hierarquia caem, os que estavam na sua<br />

base sobem, ocupando o lugar máximo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Nesse sentido é que Nietzsche aplica o<br />

conceito <strong>de</strong> tchandalas – que são os párias da socieda<strong>de</strong> hindu, sequer tratados como seres<br />

humanos – aos sacerdotes e o <strong>de</strong> sudras – a última casta do povo hindu, acima dos<br />

tchandalas, já que esses não pertenciam a nenhuma casta – ao povo, os fiéis do sacerdote:<br />

124<br />

A inversão da hierarquia. – Os piedosos falsários, os sacerdotes, tornamse<br />

entre nós tchandalas [...] consi<strong>de</strong>ramo-los como corruptores da<br />

vonta<strong>de</strong>, como os gran<strong>de</strong>s difamadores e vingativos em relação à vida,<br />

como os revoltados entre os mal-sucedidos. Nós fizemos da classe dos<br />

serventes, os sudras, a nossa classe média, nosso povo [Volk], aqueles<br />

que tomam as <strong>de</strong>cisões políticas.<br />

Por outro lado, os tchandalas estão no topo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos remotos (VP<br />

§116) 77 .<br />

A inversão ascética se revela não só no que diz respeito aos valores e à disposição<br />

social, mas também no que diz respeito à hierarquia entre os seus instintos, à fisiologia.<br />

Adotando a perspectiva do mais elementar, po<strong>de</strong>mos observar que ser um “novo tipo <strong>de</strong><br />

animal <strong>de</strong> rapina” está diretamente relacionado à questão da coesão entre as partes: o<br />

asceta, tal como o nobre, é uma besta mais inteira – sendo essa, pois então a sua<br />

“aproximação” ao tipo nobre, como mencionamos na página 99. Todavia, uma vez que a<br />

77 É curioso observar que apesar <strong>de</strong> Nietzsche recusar o ascetismo, ele aqui <strong>de</strong>nuncia a inversão da<br />

hierarquia promovida pelo asceta, tomando como referência a socieda<strong>de</strong> hindu que, para ele, também é<br />

uma expressão do ascetismo. Nesse sentido é que Thomas H. Brobjer afirma que “a visão nietzschiana do<br />

homem (e da socieda<strong>de</strong>) era hierárquica, elitista e anti<strong>de</strong>mocrática, sendo, portanto, aparentemente, não<br />

<strong>de</strong> todo incompatível com a estratificação social à la Manu ou Platão”, isto é, com uma estratificação<br />

social que também é expressão do i<strong>de</strong>al ascético (BROBJER, 1998, p.313).

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