moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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Como po<strong>de</strong>mos perceber no parágrafo acima, estamos adotando certa periodização da<br />
obra nietzschiana, mais propriamente a <strong>de</strong>fendida por Scarlett Marton (MARTON, 1990,<br />
pp. 24-27). De acordo com Marton, a obra nietzschiana po<strong>de</strong> ser compreendida como<br />
dotada <strong>de</strong> três fases: a do Pessimismo Romântico, que abrange os escritos redigidos entre<br />
1870 e 1876 e que estaria marcada pela influência da filosofia <strong>de</strong> Arthur Schopenhauer e<br />
da música <strong>de</strong> Richard Wagner, e as já mencionadas, Positivismo Cético, que abrange os<br />
escritos do período <strong>de</strong> 1876 a 1882, sendo sobretudo marcada pela influência <strong>de</strong> Augusto<br />
Comte, e a da Reconstrução da Obra, a “<strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira fase”, na qual Nietzsche “salienta seu<br />
empenho em elaborar, <strong>de</strong> forma consistente, a sua própria filosofia” (MARTON, 1990,<br />
p.27). Apesar <strong>de</strong> reconhecermos proximida<strong>de</strong>s temáticas no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> toda a obra <strong>de</strong><br />
Nietzsche, bem como as discordâncias existentes entre os seus intérpretes no que se refere<br />
à periodização, adotamo-la para fins puramente didáticos. Afinal, uma vez que nosso tema<br />
é mais precisamente <strong>de</strong>senvolvido nos escritos da terceira fase, julgamos suficiente que nos<br />
concentremos nesta.<br />
Direcionados pela nossa questão, logo percebemos que uma possível resposta a ela<br />
não se revelava como algo simplesmente encontrável nos escritos nietzschianos. Não<br />
obstante, mostrava-se passível <strong>de</strong> ser construída. Uma vez que o contato com os diversos<br />
textos do filósofo suscitou em nós a expectativa <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong>, ainda que dispersa,<br />
empenhamo-nos na tarefa <strong>de</strong> reconstruir essa unida<strong>de</strong> para que, através <strong>de</strong>la<br />
compreendêssemos da maneira mais clara possível o caminho que, <strong>de</strong> acordo com,<br />
Nietzsche, veio a possibilitar o domínio <strong>de</strong> valores mórbidos e <strong>de</strong> uma vida medíocre em<br />
praticamente toda a humanida<strong>de</strong>. As idéias que encontramos em alguns momentos<br />
causaram-nos certo <strong>de</strong>sconforto (vi<strong>de</strong> página 54), o que não se configurou propriamente<br />
como um assombro, já que <strong>de</strong> antemão, estávamos cientes da forte negação que o filósofo<br />
empreen<strong>de</strong>u contra o i<strong>de</strong>al ascético, <strong>de</strong>ntro do qual, ele insere valores caros ao Oci<strong>de</strong>nte,<br />
como, por exemplo, os cristãos e os <strong>de</strong>mocráticos.<br />
Dado que, só no que se refere ao Oci<strong>de</strong>nte, os valores ascéticos remontam, <strong>de</strong> acordo<br />
com Nietzsche, a mais <strong>de</strong> dois mil anos, dirigimo-nos às idéias que discerniam sobre os<br />
tempos mais remotos da humanida<strong>de</strong>, sobre os tempos que precediam o ascetismo, e<br />
também às que tratavam <strong>de</strong> assuntos mais gerais – doutrina da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência e<br />
fisiologia que, na nossa interpretação, conformam uma espécie <strong>de</strong> fundamento para a<br />
“gran<strong>de</strong> narrativa” que é construída com a pergunta <strong>de</strong> “como se <strong>de</strong>u a origem do i<strong>de</strong>al<br />
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