11.04.2013 Views

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

116<br />

está arruinada porque não compreen<strong>de</strong>u o esgotamento como<br />

esgotamento: as confusões fisiológicas são causa <strong>de</strong> todo mal...<br />

A virtu<strong>de</strong> é nosso gran<strong>de</strong> mal-entendido.<br />

Problema: como os esgotados conseguiram fazer a lei dos valores?<br />

Perguntado <strong>de</strong> outra maneira: como chegaram ao po<strong>de</strong>r aqueles que são<br />

os últimos?... Como acontece do instinto do animal-homem ser posto <strong>de</strong><br />

cabeça para baixo?... (VP §54)<br />

3. A inversão da hierarquia ou o domínio do i<strong>de</strong>al ascético<br />

Para que compreendamos como os valores ascéticos conseguiram imperar, <strong>de</strong>stronar a<br />

moral como auto-elevação, a moral dos senhores, <strong>de</strong>vemos ter em mente que o asceta,<br />

sendo um novo tipo <strong>de</strong> animal <strong>de</strong> rapina, possui uma forte ânsia por domínio. Essa ânsia,<br />

surgindo não da plenitu<strong>de</strong> da vida, mas da sua <strong>de</strong>generescência é, igualmente <strong>de</strong>generada:<br />

ela <strong>de</strong>seja não assenhorar-se <strong>de</strong> algo da vida, mas sim da vida mesma, “<strong>de</strong> suas condições<br />

maiores, mais profundas e fundamentais” (GM III §11). Ora, esse assenhorar-se das<br />

condições fundamentais da vida significa que o asceta, com a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência<br />

<strong>de</strong>generada, nega essas condições, isto é, nega tudo aquilo que expressa o caráter da<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência – em verda<strong>de</strong>, essa é a dinâmica da sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência<br />

<strong>de</strong>generada (vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> nada). Dito isso, não é difícil adivinhar que o asceta se põe não só<br />

contra a moral dos senhores, mas contra os próprios senhores – que, como vimos, são a<br />

expressão máxima da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência.<br />

Contudo, não é por causa <strong>de</strong> uma mera lógica, tal como a explicitada acima, que o<br />

asceta se contrapõe aos nobres. De acordo com o filósofo, há um ódio, um ressentimento<br />

do tipo ascético, contra o nobre. Ódio esse que, na compreensão nietzschiana, é traduzido<br />

como o ódio dos medíocres contra os tipos <strong>de</strong> exceção, o ódio dos fisiologicamente<br />

<strong>de</strong>generados e psicologicamente atormentados contra os privilegiados <strong>de</strong> alma e corpo,<br />

enfim o ódio das almas fracassadas contra as almas belas, orgulhosas e confiantes (VP<br />

§283). Para Nietzsche, o sacerdote é o revoltado entre os mal-sucedidos (VP §209).<br />

Como não é difícil perceber, estamos agora diante <strong>de</strong> uma perspectiva bastante<br />

diferente da do item anterior. Lá, expusemos a criação da moral ascética ignorando as<br />

relações nas quais se inseria o sacerdote ascético, consi<strong>de</strong>ramos apenas a sua psique e,<br />

tratamos <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a origem da moral, a partir da interpretação que ele lhe ofereceu. A<br />

questão, o dado novo que trazemos aqui para complementarmos o que lá foi dito, é que<br />

toda essa interpretação parece ter também surgido a partir <strong>de</strong> um pathos: o ressentimento

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!