moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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grave. A nossa pergunta, portanto, não se voltou para as características concernentes à<br />
morbi<strong>de</strong>z – o que nos conduziria a discorrer principalmente sobre as características do<br />
i<strong>de</strong>al ascético –, mas para “como ela foi possível?”.<br />
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar essa resposta foi intensificada com a leitura das anotações do<br />
filósofo. Estamos cientes dos problemas referentes à utilização <strong>de</strong> fragmentos não<br />
publicados pelo autor, mas dada a riqueza <strong>de</strong> idéias que encontramos ali, idéias que muitas<br />
vezes aparecem apenas <strong>de</strong> forma alusiva nas suas obras publicadas, a sua utilização foi<br />
absolutamente indispensável. Além <strong>de</strong> justificada pelo largo uso que seus intérpretes<br />
costumam fazer <strong>de</strong>les e pelas palavras <strong>de</strong> Müller-Lauter, para quem, “Nietzsche não era<br />
como os outros autores”:<br />
Nietzsche não só retinha muitas <strong>de</strong> suas concepções. Ele também dava<br />
expressão a algumas <strong>de</strong>las, em seus escritos, apenas <strong>de</strong> modo encoberto,<br />
simplesmente alusivo, ou também em forma hipotética. A indicação a<br />
respeito da peculiar significação dos póstumos <strong>de</strong> Nietzsche per<strong>de</strong> em<br />
estranheza, quando ouvimos que Nietzsche se compreendia como o mais<br />
escondido <strong>de</strong> todos os ocultos. Em Para Além do Bem e do Mal ele até<br />
escreve que não amamos nosso conhecimento, tão logo o comunicamos.<br />
E num apontamento póstumo quando se lê: ‘Eu não consi<strong>de</strong>ro mais os<br />
leitores: como po<strong>de</strong>ria escrever para leitores?... Mas eu me anoto, para<br />
mim.’ Aquilo que Nietzsche reteve adquire peso particular a partir <strong>de</strong> tais<br />
<strong>de</strong>clarações. (MÜLLER-LAUTER, 1997, p.58)<br />
Tanto os fragmentos, compilados na coletânea Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Potência, quanto as obras<br />
utilizadas na presente pesquisa estão inseridos na chamada terceira fase do pensamento<br />
nietzschiano, a fase da Reconstrução da Obra. Nesta fase, que abrange os anos <strong>de</strong> 1882 a<br />
1888, estão inseridos os livros Assim falou Zaratustra (1883-1885), Além do Bem e do Mal<br />
(1886), Genealogia da Moral (1887), O Caso Wagner (1888), Crepúsculo dos Ídolos<br />
(1888), O Anticristo (1888), Ecce Homo (1888), Nietzsche contra Wagner (1888),<br />
Ditirambos <strong>de</strong> Dioniso (1888), bem como o “Livro V” <strong>de</strong> A Gaia Ciência (1887) e os<br />
prefácios aos seus livros já publicados (1886). Desses livros e escritos, os que não nos<br />
<strong>de</strong>tivemos em absoluto foram: Assim falou Zaratustra, uma vez que este livro exige uma<br />
análise literária que extrapola os limites do presente trabalho; Ditirambos <strong>de</strong> Dioniso, que<br />
além <strong>de</strong> também exigir uma análise literária, possui uma temática distanciada da por nós<br />
escolhida; e Nietzsche contra Wagner, seleção <strong>de</strong> escritos anteriores feita pelo próprio<br />
filósofo, cuja temática também não se aproxima da aqui <strong>de</strong>lineada. Utilizamos ainda os<br />
aforismos 9 e 42 <strong>de</strong> Aurora (1881), que apesar <strong>de</strong> se concentrarem na segunda fase, a do<br />
Positivismo Cético, são indicados por Nietzsche na Genealogia da Moral.<br />
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