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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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INTRODUÇÃO<br />

Como a maioria dos seus leitores reconhece, se quisermos compreen<strong>de</strong>r a filosofia<br />

nietzschiana, <strong>de</strong>vemos atentar para a noção <strong>de</strong> valor. Toda a crítica <strong>de</strong> Nietzsche ao modo<br />

dominante <strong>de</strong> interpretação da existência – que, segundo ele, é o modo ascético –, bem<br />

como toda a construção da sua cosmovisão, têm na noção <strong>de</strong> valor o ponto <strong>de</strong> maior<br />

relevância. Essa proeminência está diretamente relacionada ao seu principal anseio, que é o<br />

<strong>de</strong> promover uma forma <strong>de</strong> valoração que se ponha <strong>de</strong> acordo com o caráter da vida (o que,<br />

certamente, exige uma <strong>de</strong>finição da própria vida) e assim a eleve e fortaleça. Tal anseio,<br />

porém, é tido, pelo próprio filósofo, como algo contrário ao que até aqui vem sendo<br />

promovido pela interpretação dominante (a ascética) – cujos valores, hostis à vida, dão<br />

ensejo a uma existência medíocre e <strong>de</strong>clinante. Disso, po<strong>de</strong>mos rapidamente vislumbrar a<br />

ligação, constituída através da noção <strong>de</strong> valor, entre a crítica <strong>de</strong> Nietzsche à interpretação<br />

dominante e a sua cosmovisão – ou seja, a sua interpretação da existência posta <strong>de</strong> acordo<br />

com a vida.<br />

Apesar dos <strong>de</strong>sdobramentos concernentes à crítica e à cosmologia parecerem-nos<br />

suficientes para uma compreensão geral da filosofia <strong>de</strong> Nietzsche, todos eles pressupõem<br />

uma assertiva <strong>de</strong>veras curiosa: a <strong>de</strong> que valores hostis à vida imperam séculos a fio. Ora,<br />

não seria <strong>de</strong> se esperar que um homem ou um povo que <strong>de</strong>preciasse a vida, <strong>de</strong>sse um fim a<br />

sua própria vida? Se consi<strong>de</strong>rarmos ainda o papel <strong>de</strong>sempenhado por tais valores, a<br />

excentricida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa “assertiva pressuposta” aumenta ainda mais. De acordo com<br />

Nietzsche, é nos valores hostis à vida, valores que conformam a visão <strong>de</strong> mundo ascética,<br />

que encontramos a base da <strong>civilização</strong> não só oci<strong>de</strong>ntal, como oriental – o que, numa<br />

perspectiva antropomórfica, significa que a Terra, em um dado momento, passou a ser<br />

dominada por valores hostis à vida.<br />

A presente dissertação originou-se da inquietação provocada pela perspectiva acima.<br />

Afinal, o que teria conduzido Nietzsche a compreen<strong>de</strong>r a humanida<strong>de</strong> como dominada pela<br />

morbi<strong>de</strong>z? Essa compreensão – que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma acusação –, pareceu-nos bastante<br />

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