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teias da recepção – os antigos na obra de euclides da cunha

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TEIAS DA RECEPÇÃO <strong>–</strong> OS ANTIGOS NA OBRA DE EUCLIDES DA<br />

CUNHA<br />

Ra fa e l Vi c e n t e Ku n s t<br />

PPG-História <strong>–</strong> UFRGS<br />

rafael.vkunst@gmail.com<br />

Resumo<br />

Conhecem<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> intelectuais brasileir<strong>os</strong> que utilizaram element<strong>os</strong> <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> clássica em suas <strong>obra</strong>s,<br />

especialmente <strong>na</strong> vira<strong>da</strong> do século XIX para o XX. Esses us<strong>os</strong> tiveram as mais varia<strong>da</strong>s funções: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um simples<br />

or<strong>na</strong>mento literário até complexas reflexões sobre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Tais operações passam por um processo <strong>de</strong><br />

apropriação d<strong>os</strong> antig<strong>os</strong> através <strong>da</strong> leitura e <strong>recepção</strong> <strong>de</strong> seus text<strong>os</strong>. Utilizando a Teoria <strong>da</strong> Recepção, apresento neste<br />

trabalho algumas reflexões sobre essas questões, <strong>de</strong>stacando o exemplo <strong>da</strong> <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha como leitor e<br />

autor influenciado pel<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: Recepção <strong>–</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> Clássica <strong>–</strong> Os Sertões<br />

Há divers<strong>os</strong> exempl<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>obra</strong>s que <strong>de</strong>finim<strong>os</strong> como clássicas, seja <strong>na</strong> literatura ou <strong>na</strong>s<br />

artes visuais, que são vistas, li<strong>da</strong>s e comenta<strong>da</strong>s em diferentes moment<strong>os</strong> históric<strong>os</strong>. Entretanto,<br />

<strong>de</strong>vem<strong>os</strong> perceber que esses clássic<strong>os</strong> são interpretad<strong>os</strong> <strong>de</strong> diferentes formas ao longo <strong>da</strong><br />

história ou até em um mesmo contexto. Do contrário, tais <strong>obra</strong>s seriam atemporais, passíveis<br />

<strong>de</strong> ape<strong>na</strong>s uma interpretação in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s condições em que seriam recebi<strong>da</strong>s. Para<br />

negar errônea concepção, é preciso a<strong>na</strong>lisar como a <strong>recepção</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>obra</strong> é elabora<strong>da</strong> em<br />

diferentes context<strong>os</strong>, tal como propõe a Teoria <strong>da</strong> Recepção, vertente importante n<strong>os</strong> estud<strong>os</strong><br />

literári<strong>os</strong>. Nesse sentido, esses estud<strong>os</strong> também são importantes para as pesquisas históricas,<br />

pois muitas vezes n<strong>os</strong>sas fontes apropriam-se <strong>de</strong> element<strong>os</strong> alhei<strong>os</strong> ao seu contexto histórico,<br />

produzindo leituras diversas que interferem <strong>na</strong> sua estrutura. Ou seja, para compreen<strong>de</strong>r seu<br />

objeto <strong>de</strong> forma ampla, um historiador <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r como as origens <strong>de</strong> sua fonte foram<br />

interpreta<strong>da</strong>s <strong>–</strong> nesse caso, as teorias <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> auxílio. Para <strong>de</strong>monstrar<br />

tal utilização, apresento algumas reflexões sobre essa corrente teórica oriun<strong>da</strong> d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong><br />

literári<strong>os</strong> que utilizei <strong>na</strong> pesquisa que realizei sobre <strong>os</strong> us<strong>os</strong> <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> Clássica <strong>na</strong> <strong>obra</strong><br />

Os Sertões, <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha. Meu foco nesse texto não é a análise <strong>da</strong> <strong>obra</strong> euclidia<strong>na</strong> <strong>–</strong><br />

essa é utiliza<strong>da</strong> aqui como um exemplo para apresentar o tratamento d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>recepção</strong><br />

em uma pesquisa historiográfica.<br />

Refletir sobre o modo como Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha leu e incorporou <strong>os</strong> antig<strong>os</strong> em sua <strong>obra</strong><br />

exige entendê-lo não ape<strong>na</strong>s como autor, mas também como leitor. Seus conheciment<strong>os</strong><br />

sobre <strong>os</strong> mit<strong>os</strong> <strong>da</strong> Grécia antiga, as campanhas <strong>de</strong> César contra <strong>os</strong> gauleses e outr<strong>os</strong> fat<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> história roma<strong>na</strong> foram recebid<strong>os</strong> <strong>de</strong> alguma forma, em algum momento <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>.<br />

Por sua vez, suponho que a leitura sobre tais informações também foram escolhi<strong>da</strong>s por<br />

ele <strong>de</strong>vido a algum motivo. O mesmo questio<strong>na</strong>mento surge ao perceber que essas leituras<br />

foram incorpora<strong>da</strong>s pelo autor <strong>de</strong> alguma forma em seus text<strong>os</strong>. Como ocorre a interação<br />

<strong>obra</strong>/leitor? O que leva um indivíduo a se interessar por <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do texto? Como uma <strong>obra</strong><br />

po<strong>de</strong> marcar seu leitor? Como ocorre o processo <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> sentid<strong>os</strong> pelo leitor? Essas<br />

915


questões são as bases <strong>da</strong>s reflexões oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> <strong>recepção</strong>. Esse conjunto teórico,<br />

proveniente d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> literári<strong>os</strong>, tem como um <strong>de</strong> seus maiores nomes e fun<strong>da</strong>dores Hans<br />

Robert Jauss que, n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 60, começou a questio<strong>na</strong>r <strong>os</strong> rum<strong>os</strong> <strong>da</strong> escrita <strong>da</strong> história <strong>da</strong><br />

literatura. Suas críticas direcio<strong>na</strong>vam-se contra marxistas que se <strong>de</strong>dicavam a “<strong>de</strong>monstrar<br />

o nexo <strong>da</strong> literatura em seu espelhamento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social” (JAUSS, 1994, p.15), como<br />

se ca<strong>da</strong> <strong>obra</strong> f<strong>os</strong>se um reflexo direto <strong>da</strong>s condições sociais e econômicas <strong>de</strong> sua produção; e<br />

contra a “teoria do método formalista [que] alçou novamente a literatura à condição <strong>de</strong> um<br />

objeto autônomo <strong>de</strong> investigação, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que <strong>de</strong>svinculou a <strong>obra</strong> literária <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

condicio<strong>na</strong>ntes históricas [...]” (JAUSS, 1994, p.18).<br />

A<strong>na</strong>lisar a literatura simplesmente como consequência <strong>de</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do conjunto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ções ou mesmo a<strong>na</strong>lisar sua produção como algo autônomo e não-histórico seriam<br />

p<strong>os</strong>turas que empobreceriam a compreensão <strong>da</strong> função <strong>da</strong>s <strong>obra</strong>s literárias. As mu<strong>da</strong>nças<br />

prop<strong>os</strong>tas por Jauss tratam-se justamente <strong>de</strong> estabelecer uma nova concepção sobre a relação<br />

d<strong>os</strong> text<strong>os</strong> literári<strong>os</strong> com seus mei<strong>os</strong>, com seus leitores e mesmo com seus autores. Hans<br />

Ulrich Gumbrecht, outro importante autor ligado a<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>recepção</strong>, aluno <strong>de</strong> Jauss<br />

<strong>na</strong> Escola <strong>de</strong> Constança, <strong>de</strong>staca a importância <strong>de</strong>ssas inovações:<br />

916<br />

Percebeu-se que seu caráter inovador <strong>na</strong> história <strong>da</strong>s teorias não repousava simplesmente <strong>na</strong><br />

tematização do leitor, mas <strong>–</strong> mais especificamente <strong>–</strong> no esforço <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar as condições <strong>de</strong><br />

formações <strong>de</strong> sentid<strong>os</strong> distint<strong>os</strong> a<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong> text<strong>os</strong> (ficcio<strong>na</strong>is) por parte d<strong>os</strong> distint<strong>os</strong> leitores<br />

e grup<strong>os</strong> <strong>de</strong> leitores. Enquanto correntes anteriores <strong>da</strong> Teoria Literária tinham prop<strong>os</strong>to como<br />

objetivo principal <strong>de</strong> sua prática exatamente a redução <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formações <strong>de</strong> sentid<strong>os</strong><br />

existentes e prop<strong>os</strong>tas para um texto, a Estética <strong>da</strong> Recepção transforma essa multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong><br />

sentid<strong>os</strong> no seu assunto principal. (GUMBRECHT, 2003, p.14)<br />

De acordo com Gumbrecht, as modificações estão liga<strong>da</strong>s a diferentes concepções<br />

sobre o objeto e, principalmente, <strong>na</strong> forma como esse é avaliado, pois, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que<br />

não há mais um sentido único para um texto, não há qualquer compreensão que p<strong>os</strong>sa ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira sobre uma <strong>obra</strong>. Questio<strong>na</strong>r o sentido que emerge <strong>da</strong> leitura passa a ser<br />

o centro do estudo literário. Assim, a partir do momento que rompem com o estruturalismo<br />

<strong>da</strong>s teorias anteriores, em que ca<strong>da</strong> texto impunha um sentido atemporal, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>da</strong>s particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s d<strong>os</strong> leitores, esses nov<strong>os</strong> teóric<strong>os</strong> buscam traçar nov<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> para<br />

investigar <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> sentid<strong>os</strong>, centralizando suas atenções <strong>na</strong><br />

relação entre a <strong>obra</strong> e seus leitores. Regi<strong>na</strong> Zilberman também <strong>de</strong>staca essa nova abor<strong>da</strong>gem:<br />

“a estética <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> apresenta-se como uma teoria em que a investigação mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> foco:<br />

do texto enquanto estrutura imutável, ele passa para o leitor” (ZILBERMAN, 1989, p.10).<br />

Portanto, a teoria <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> tem como base a historici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>obra</strong> e <strong>os</strong> diferentes<br />

sentid<strong>os</strong> por ela p<strong>os</strong>sibilitad<strong>os</strong> a partir <strong>de</strong> sua interação com diferentes leitores. Retomando a<br />

citação <strong>de</strong> Gumbrecht, tem<strong>os</strong> então “sentid<strong>os</strong>” e “leitor” como <strong>os</strong> eix<strong>os</strong> fun<strong>da</strong>mentais para o<br />

estabelecimento <strong>de</strong>sse conjunto teórico. A partir <strong>da</strong> relação entre esses dois term<strong>os</strong>, Timonthy<br />

Saun<strong>de</strong>rs resume tal questão <strong>da</strong> seguinte forma: “De acordo com seus princípi<strong>os</strong> dialógic<strong>os</strong>,<br />

a teoria <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> sugere que nós não <strong>de</strong>vem<strong>os</strong> mais conceber um texto como um tipo<br />

<strong>de</strong> I<strong>de</strong>al Platônico em que n<strong>os</strong>sas interpretações são mais ou men<strong>os</strong> reflex<strong>os</strong> imperfeit<strong>os</strong>,<br />

mas como algo muito mais mutável e móvel” (SAUNDERS, 2006, p.37. Essa tradução e as<br />

seguintes são <strong>de</strong> minha autoria). Negando a existência <strong>de</strong> um “sentido i<strong>de</strong>al” a ser alcançado<br />

pelo leitor, o historiador <strong>da</strong> literatura abando<strong>na</strong>ria a sucessão <strong>de</strong> “essências” <strong>de</strong> diversas<br />

<strong>obra</strong>s ao longo <strong>da</strong> história e passaria a a<strong>na</strong>lisar <strong>os</strong> diferentes sentid<strong>os</strong> que po<strong>de</strong>m surgir d<strong>os</strong><br />

singulares encontr<strong>os</strong> entre essas e seus leitores. Dessa forma, tanto <strong>os</strong> sentid<strong>os</strong> quanto seus<br />

“construtores” passam a fazer parte <strong>de</strong> diferentes percurs<strong>os</strong> históric<strong>os</strong>.<br />

Para minha pesquisa, consi<strong>de</strong>rando esse arcabouço teórico, dois d<strong>os</strong> element<strong>os</strong> do


trabalho <strong>de</strong> Jauss m<strong>os</strong>tram-se fun<strong>da</strong>mentais: a historicização do processo <strong>de</strong> leitura e o papel<br />

extremamente participativo que é conferido ao leitor. Destaco primeiramente a prop<strong>os</strong>ta do<br />

autor para se a<strong>na</strong>lisar a <strong>recepção</strong> <strong>da</strong>s <strong>obra</strong>s literárias ao longo <strong>da</strong> história:<br />

917<br />

A <strong>obra</strong> literária não é um objeto que exista por si só, oferecendo a ca<strong>da</strong> observador em ca<strong>da</strong><br />

época um mesmo aspecto. Não se trata <strong>de</strong> um monumento a revelar monologicamente seu Ser<br />

atemporal. Ela é, antes, como uma partitura volta<strong>da</strong> para a ressonância sempre renova<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

leitura, libertando o texto <strong>da</strong> matéria <strong>da</strong>s palavras e conferindo-lhe existência atual [...]. (JAUSS,<br />

1994, p.25)<br />

Se a <strong>obra</strong> literária não é uma “enti<strong>da</strong><strong>de</strong> atemporal”, significa que seus sentid<strong>os</strong> variam<br />

<strong>de</strong> acordo com o contexto histórico em que ca<strong>da</strong> leitura é feita. Assim, a existência <strong>de</strong> text<strong>os</strong><br />

do passado numa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> só é concretiza<strong>da</strong> quando estes são interpretad<strong>os</strong><br />

pel<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong>. A <strong>obra</strong> atua como uma matéria-prima para a produção <strong>de</strong> significad<strong>os</strong> que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m diretamente <strong>da</strong>s experiências <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> leitor em sua época: “A relação dialógica<br />

entre o leitor e o texto <strong>–</strong> este é o fato primordial <strong>da</strong> história <strong>da</strong> literatura. [...] A p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a <strong>obra</strong> se atualizar como resultado <strong>da</strong> leitura é sintoma <strong>de</strong> que está viva” (ZILBERMAN,<br />

1989, p.33). É preciso lembrar que nem to<strong>da</strong>s as <strong>obra</strong>s sobrevivem diante <strong>da</strong>s diferentes<br />

épocas <strong>–</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo d<strong>os</strong> interesses <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> em ca<strong>da</strong> contexto histórico, alguns autores<br />

clássic<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m ser fortemente prestigiad<strong>os</strong>, enquanto outr<strong>os</strong> são simplesmente esquecid<strong>os</strong>.<br />

Portanto, a “sobrevivência” <strong>de</strong> um texto ao longo <strong>da</strong> história <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> tanto <strong>da</strong>s condições<br />

apresenta<strong>da</strong>s por ca<strong>da</strong> época, quanto d<strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveis sentid<strong>os</strong> que são proporcio<strong>na</strong>d<strong>os</strong> pela<br />

<strong>obra</strong>. Apresento a seguir essas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> forma mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>: quem é o leitor<br />

para a teoria <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> e qual a sua importância; como se <strong>de</strong>senvolve a elaboração d<strong>os</strong><br />

sentid<strong>os</strong> no processo <strong>de</strong> leitura.<br />

Como <strong>de</strong>staquei, <strong>na</strong>s reflexões <strong>de</strong> Jauss, encontram<strong>os</strong> a figura do leitor <strong>–</strong> inscrito no seu<br />

contexto histórico <strong>–</strong> como peça fun<strong>da</strong>mental para o processo <strong>de</strong> <strong>recepção</strong> <strong>da</strong>s <strong>obra</strong>s literárias<br />

e para a produção <strong>de</strong> sentid<strong>os</strong> basea<strong>da</strong> nessas. Uma vez que se busca a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sentid<strong>os</strong> <strong>de</strong> um texto, a figura do autor per<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>staque diante <strong>da</strong> imagem do leitor, visto<br />

<strong>na</strong>s teorias anteriores como um indivíduo que <strong>de</strong>veria encontrar a “interpretação correta” para<br />

ca<strong>da</strong> <strong>obra</strong>. Zilberman afirma que para <strong>os</strong> teóric<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>recepção</strong>, <strong>de</strong>vem<strong>os</strong> perceber tal indivíduo<br />

como parte <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>obra</strong>: “o leitor evi<strong>de</strong>ncia-se como pertencendo ao texto, um componente<br />

seu a quem compete acompanhar a partitura apresenta<strong>da</strong> pelo <strong>na</strong>rrador” (ZILBERMAN,<br />

1989, p.99). O texto transforma-se em um instrumento construído pelo autor, enquanto o<br />

leitor seria o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro comp<strong>os</strong>itor do sentido. Evi<strong>de</strong>ntemente, há limitações no processo<br />

<strong>de</strong> significação por parte do leitor, tal como observa Zilberman: “Por outro lado, o leitor é<br />

também uma figura histórica: seu horizonte, <strong>de</strong>limitado pelas p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aceitação<br />

<strong>de</strong> uma <strong>obra</strong>, impõe restrições à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> do escritor” (1989, p.100). São encontrad<strong>os</strong> aqui<br />

dois limites para o individuo que se aventura nesse processo: suas condições históricas e as<br />

próprias condições <strong>da</strong> <strong>obra</strong>.<br />

O sentido objetivado pelo escritor em seu trabalho certamente per<strong>de</strong>-se no processo<br />

<strong>de</strong> leitura, mas essa é uma <strong>da</strong>s peças do diálogo travado com o leitor <strong>–</strong> seus perso<strong>na</strong>gens, as<br />

situações que imaginou, <strong>de</strong>screveu e propôs ao seu público são limitadores nessa operação.<br />

Para apresentar um exemplo <strong>de</strong>ssas observações a partir d’Os Sertões, apresento uma <strong>da</strong>s mais<br />

fam<strong>os</strong>as metáforas utiliza<strong>da</strong>s pelo autor para caracterizar o sertanejo, o Hércules-Quasímodo.<br />

Essa não é uma simples metáfora, pois une <strong>os</strong> us<strong>os</strong> <strong>de</strong> dois element<strong>os</strong> aparentemente distantes:<br />

Hércules, o clássico heroi grego, e Quasimodo, o corcun<strong>da</strong> criado por Victor Hugo. Fica<br />

evi<strong>de</strong>nte que, nesta passagem, o principal objetivo <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha é tentar <strong>de</strong>finir o<br />

“traço básico”, a característica principal <strong>da</strong> alma sertaneja:


918<br />

O sertanejo é, antes <strong>de</strong> tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo d<strong>os</strong> mestiç<strong>os</strong> neurastênic<strong>os</strong><br />

do litoral.<br />

A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance <strong>de</strong> vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica<br />

impecável, o <strong>de</strong>sempeno, a estrutura corretíssima <strong>da</strong>s organizações atléticas.<br />

É <strong>de</strong>sgraci<strong>os</strong>o, <strong>de</strong>sengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a feal<strong>da</strong><strong>de</strong> típica<br />

d<strong>os</strong> frac<strong>os</strong>. O an<strong>da</strong>r sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinu<strong>os</strong>o, aparenta a translação<br />

<strong>de</strong> membr<strong>os</strong> <strong>de</strong>sarticulad<strong>os</strong>. Agrava-o a p<strong>os</strong>tura normalmente abati<strong>da</strong>, num manifestar <strong>de</strong><br />

displicência que lhe dá um caráter <strong>de</strong> humil<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>primente. (CUNHA, 2001, p.207)<br />

Destaco primeiramente o que seria, <strong>na</strong> concepção euclidia<strong>na</strong>, o traço <strong>de</strong>finidor do<br />

habitante do sertão <strong>–</strong> predomi<strong>na</strong>nte mesmo sobre sua barbárie e sua condição <strong>de</strong> mestiço,<br />

como sugere a expressão “antes <strong>de</strong> tudo” <strong>–</strong> a sua força. Esse é o principal elemento que<br />

aproxima o sertanejo a Hércules, heroi reconhecido em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mit<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> que o<br />

envolvem por sua força extraordinária. Entretanto, se não investigarm<strong>os</strong> o processo <strong>de</strong><br />

<strong>recepção</strong> euclidia<strong>na</strong> para a utilização <strong>de</strong>ssa figura clássica, não compreen<strong>de</strong>ríam<strong>os</strong> as <strong>de</strong>mais<br />

aproximações provenientes <strong>de</strong>ssa metáfora sertanejo/Hércules. Dentre as p<strong>os</strong>síveis fontes<br />

<strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> para a leitura <strong>de</strong>sse mito, uma <strong>da</strong>s mais prováveis é a tragédia escrita por<br />

Eurípi<strong>de</strong>s, Heracles 1 .<br />

Portanto, por mais que Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha se distancie do contexto <strong>da</strong> tragédia euripidia<strong>na</strong>,<br />

sua leitura baseia-se num Hércules realizador <strong>de</strong> trabalh<strong>os</strong> grandi<strong>os</strong><strong>os</strong> que matou sua esp<strong>os</strong>a<br />

e seus filh<strong>os</strong>, tal como Eurípi<strong>de</strong>s <strong>na</strong>rrou. O heroi <strong>da</strong> tragédia clássica vai além <strong>da</strong> figura <strong>de</strong> um<br />

ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> força. Pelas aproximações entre ele e o sertanejo euclidiano, é p<strong>os</strong>sível perceber<br />

que o autor interpretou tal figura em sua complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, utilizando-a <strong>na</strong> metáfora Hércules-<br />

Quasímodo. A p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> concebê-lo como a mistura entre um bárbaro e um heroi<br />

provém <strong>da</strong> própria formação euclidia<strong>na</strong>. Nesse ponto encontra-se o segundo limite imp<strong>os</strong>to<br />

ao leitor: sendo uma “figura histórica”, é ele quem confere a historici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> leitura,<br />

mas essa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>s ferramentas disponíveis em ca<strong>da</strong> época. O <strong>de</strong>bate entre <strong>os</strong> espaç<strong>os</strong><br />

conferid<strong>os</strong> à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<strong>os</strong> condicio<strong>na</strong>ment<strong>os</strong> que cercam ca<strong>da</strong> indivíduo historicamente é<br />

longo, mas não é meu foco nesse trabalho. Entretanto, <strong>de</strong>staco uma passagem do historiador<br />

Carlo Ginzburg que utilizo como ilustração i<strong>de</strong>al para a forma como entendo esse complexo<br />

jogo que envolve qualquer leitor, assim como nós: “Assim como a língua, a cultura oferece<br />

ao indivíduo um horizonte <strong>de</strong> p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s latentes <strong>–</strong> uma jaula flexível e invisível <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>da</strong> qual se exercita a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> condicio<strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um” (GINZBURG, 2006, p.20). O<br />

contexto histórico impõe certas condições, como a língua, a cultura do país em que <strong>na</strong>scem<strong>os</strong>,<br />

n<strong>os</strong>sa p<strong>os</strong>ição econômica e social, a situação política <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas po<strong>de</strong>m<strong>os</strong><br />

interpretá-lo e interagir com ele <strong>de</strong> múltiplas formas, chegando mesmo a alterá-lo. Escapar do<br />

<strong>de</strong>terminismo não significa adotar a crença inocente numa liber<strong>da</strong><strong>de</strong> ple<strong>na</strong> <strong>–</strong> isso vale tanto<br />

para a historiografia, quanto para <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> <strong>da</strong> literatura. No caso <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> <strong>recepção</strong>,<br />

a própria formação do leitor <strong>–</strong> leituras anteriores, experiências <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, pertenciment<strong>os</strong> a<br />

grup<strong>os</strong> sociais distint<strong>os</strong> <strong>–</strong> soma<strong>da</strong> ao que po<strong>de</strong>ríam<strong>os</strong> <strong>de</strong>finir como expectativas estéticas,<br />

tal como a elaboração <strong>da</strong> preferência por <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do estilo literário, figuras retóricas que<br />

“tocam” o indivíduo mais do que outras, ou mesmo o g<strong>os</strong>to por certo assunto <strong>–</strong> tece as<br />

condições <strong>de</strong> leitura. Essas p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limitações po<strong>de</strong>m ser resumi<strong>da</strong>s no que o Jauss<br />

<strong>de</strong>fine como horizonte <strong>de</strong> expectativas:<br />

A análise <strong>da</strong> experiência literária do leitor escapa ao psicologismo que a ameaça quando <strong>de</strong>screve<br />

a <strong>recepção</strong> e o efeito <strong>de</strong> uma <strong>obra</strong> a partir do sistema <strong>de</strong> referências que se po<strong>de</strong> construir em<br />

função <strong>da</strong>s expectativas que, no momento histórico do aparecimento <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>obra</strong>, resultam do<br />

conhecimento prévio do gênero, <strong>da</strong> forma e <strong>da</strong> temática <strong>de</strong> <strong>obra</strong>s já conheci<strong>da</strong>s, [...]. (JAUSS,<br />

1994, p.27)<br />

1 Olímpio <strong>de</strong> Sousa Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong>staca a forte influência d<strong>os</strong> text<strong>os</strong> antig<strong>os</strong> <strong>na</strong> elaboração d’Os Sertões, incluindo sua<br />

admiração pelas tragédias <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s (ANDRADE, 1966, p.68).


A <strong>recepção</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>obra</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diretamente <strong>da</strong>s expectativas do leitor, que neste<br />

trecho focaliza essencialmente as “experiências literárias” <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> indivíduo, ou seja, as<br />

informações prévias sobre aquele texto e o contato do leitor com <strong>de</strong>mais <strong>obra</strong>s. Voltado<br />

principalmente para a <strong>recepção</strong> imediata <strong>da</strong> <strong>obra</strong>, ou seja, no contexto <strong>da</strong> sua produção, Jauss<br />

vê o horizonte <strong>de</strong> expectativas d<strong>os</strong> leitores como um ponto <strong>de</strong> contato entre o autor e seu<br />

público <strong>–</strong> assim como um orador direcio<strong>na</strong> seus argument<strong>os</strong> <strong>de</strong> acordo com o que acredita<br />

atingir o auditório, o escritor é levado a consi<strong>de</strong>rar, direta ou indiretamente, as expectativas,<br />

o saber prévio <strong>de</strong> seus futur<strong>os</strong> leitores 2 . Tal como Zilberman afirma, Jauss propõe a análise<br />

<strong>de</strong>sse horizonte através do próprio sistema literário:<br />

919<br />

Em vez <strong>de</strong> li<strong>da</strong>r com o leitor real, indivíduo com suas idi<strong>os</strong>sincrasias e particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Jauss busca<br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r seu ‘saber prévio’. [...]. Sua consulta é dirigi<strong>da</strong> às próprias <strong>obra</strong>s; pois, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em<br />

que participam <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> comunicação e precisam ser compreendi<strong>da</strong>s, elas apropriamse<br />

<strong>de</strong> element<strong>os</strong> do código vigente. (ZILBERMAN, 1989, p.34)<br />

Assim, a investigação sobre as experiências que condicio<strong>na</strong>m a <strong>recepção</strong> é concentra<strong>da</strong><br />

<strong>na</strong> vi<strong>da</strong> literária do indivíduo, verifica<strong>da</strong> através do conjunto literário <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> época.<br />

Preocupado basicamente com o caráter estético do processo <strong>de</strong> <strong>recepção</strong>, é compreensível<br />

que o autor volte-se para esses aspect<strong>os</strong>. Em sua elaboração teórica, ele <strong>de</strong>fine três fatores<br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ntes do horizonte <strong>de</strong> expectativa: “em primeiro lugar, a partir <strong>de</strong> normas conheci<strong>da</strong>s<br />

ou <strong>da</strong> poética imanente ao gênero; em segundo, <strong>da</strong> relação implícita com <strong>obra</strong>s conheci<strong>da</strong>s<br />

do contexto histórico-literário; e, em terceiro lugar, <strong>da</strong> op<strong>os</strong>ição entre ficção e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, [...]”<br />

(JAUSS, 1994, p.29). Em minha pesquisa, a preocupação com o caráter literário <strong>da</strong> <strong>recepção</strong><br />

euclidia<strong>na</strong> é <strong>de</strong> extrema relevância. Por exemplo, o sentido conferido ao Hércules d’Os<br />

Sertões está vinculado diretamente ao Quasímodo <strong>da</strong> <strong>obra</strong> hugoa<strong>na</strong>, fortemente dissemi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />

no círculo literário <strong>da</strong>quele contexto 3 . Da mesma forma, o uso constante <strong>de</strong> metáforas e a<br />

preocupação com o estabelecimento <strong>de</strong> figuras retóricas tão complexamente trabalha<strong>da</strong>s por<br />

Eucli<strong>de</strong>s indicam <strong>os</strong> vestígi<strong>os</strong> do que po<strong>de</strong>ríam<strong>os</strong> chamar <strong>de</strong> “normas literárias” <strong>da</strong> época, <strong>da</strong><br />

mesma forma que a escolha do tema Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> clássica é uma influência do que estava em<br />

evidência <strong>na</strong>s experiências <strong>de</strong> leitura do autor. Entretanto, outras condições são necessárias<br />

para respon<strong>de</strong>r o questio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong>ssa pesquisa <strong>–</strong> como esses us<strong>os</strong> <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> são<br />

influenciad<strong>os</strong> por p<strong>os</strong>icio<strong>na</strong>ment<strong>os</strong> polític<strong>os</strong>, fil<strong>os</strong>ófic<strong>os</strong> e sociais do autor?<br />

A metáfora do sertanejo/titã vai além do aspecto estético n’Os Sertões. A interpretação<br />

euclidia<strong>na</strong> sobre a figura d<strong>os</strong> titãs passa também pelas p<strong>os</strong>ições políticas e fil<strong>os</strong>óficas do autor<br />

sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> sertaneja. Essa metáfora surge logo <strong>na</strong> primeira <strong>de</strong>scrição do homem do<br />

sertão. Tal figura é utiliza<strong>da</strong> para <strong>de</strong>screver a transformação que o arrebata em situações <strong>de</strong><br />

perigo: “[...] e <strong>da</strong> figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inespera<strong>da</strong>mente, o aspecto<br />

domi<strong>na</strong>dor <strong>de</strong> um titã acobreado e potente, num <strong>de</strong>sd<strong>obra</strong>mento surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> força<br />

e agili<strong>da</strong><strong>de</strong> extraordinárias” (CUNHA, 2001, p.208). A força extraordinária e mesmo a<br />

altivez <strong>de</strong>ssa p<strong>os</strong>tura transforma<strong>da</strong> do sertanejo ligam-no àquelas divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s primitivas. O<br />

mesmo ocorre em outra <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong>queles indivídu<strong>os</strong> em que a metáfora atua como um<br />

2 Esse é um d<strong>os</strong> pont<strong>os</strong> em que a teoria <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> aproxima-se d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> retóric<strong>os</strong>. Além disso, tal como um<br />

orador, o fato do escritor preocupar-se com as expectativas do público não significa necessariamente que esse busca<br />

unicamente o consenso, a aceitação <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias <strong>–</strong> amb<strong>os</strong> buscam criar as mais varia<strong>da</strong>s reações em seus públic<strong>os</strong>,<br />

mas, para isso, baseiam-se no que pensam que esses esperam <strong>de</strong>les.<br />

3 Carneiro apresenta diversas marcas <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> Victor Hugo <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> intelectual brasileira <strong>da</strong>quele período,<br />

como a sua influência em autores como Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães, Gonçalves Dias, Machado <strong>de</strong> Assis, Álvares <strong>de</strong><br />

Azevedo, J<strong>os</strong>é Bonifácio, Vicente <strong>de</strong> Carvalho, Luís Delfino, Afonso Pe<strong>na</strong>, entre muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. O autor ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>staca<br />

a relação pessoal entre o romancista e Dom Pedro II e a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> traduções brasileiras <strong>de</strong> ensai<strong>os</strong>, romances<br />

e poesias <strong>da</strong>quele. Por último, é mencio<strong>na</strong><strong>da</strong> a ampla repercussão no Brasil <strong>da</strong> morte do francês, relacio<strong>na</strong>ndo uma<br />

série <strong>de</strong> notícias, notas <strong>de</strong> jor<strong>na</strong>l e manifest<strong>os</strong> sobre o fato (LEÃO, 1960).


adjetivo: “Imaginem<strong>os</strong> que <strong>de</strong>ntro do arcabouço titânico do vaqueiro estale, <strong>de</strong> súbito, a<br />

vibratili<strong>da</strong><strong>de</strong> incomparável do ban<strong>de</strong>irante. Terem<strong>os</strong> o jagunço” (CUNHA, 2001, p.334).<br />

Outro uso semelhante <strong>de</strong>ssa metáfora é empregado ao <strong>na</strong>rrar a reação do sertanejo em um<br />

d<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> confront<strong>os</strong> <strong>de</strong>sses contra seus inimig<strong>os</strong>: “E aqueles titãs enrijad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> climas<br />

dur<strong>os</strong>, estremeciam <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s armaduras <strong>de</strong> couro consi<strong>de</strong>rando as armas portent<strong>os</strong>as<br />

<strong>da</strong> civilização” (CUNHA, 2001, p.376). Nessas situações, a metáfora em questão <strong>de</strong>staca<br />

a semelhança entre o homem do sertão e <strong>os</strong> antig<strong>os</strong> titãs <strong>da</strong> mitologia grega pelo fato <strong>de</strong><br />

ambas as figuras representarem forças primitivas <strong>de</strong>rrota<strong>da</strong>s por uma nova or<strong>de</strong>m <strong>–</strong> a raça<br />

sertaneja, <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> pelo avanço <strong>da</strong> civilização; e Cron<strong>os</strong> e seus irmã<strong>os</strong>, <strong>de</strong>rrubad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>uses li<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> por Zeus. Assim, a ligação feita por Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha entre seu objeto e<br />

esses seres mitológic<strong>os</strong> cumpre a função <strong>de</strong> expressar sua análise sobre a situação evolutiva<br />

do sertanejo, mas também <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar sua valor<strong>os</strong>a força diante d<strong>os</strong> ataques do exército no<br />

conflito <strong>de</strong> Canud<strong>os</strong>.<br />

Estratégias como essas refletem também críticas a<strong>os</strong> rum<strong>os</strong> <strong>da</strong> política brasileira,<br />

análises sociais sobre <strong>os</strong> sertanej<strong>os</strong> e <strong>os</strong> “civilizad<strong>os</strong>” do litoral. Esses p<strong>os</strong>icio<strong>na</strong>ment<strong>os</strong><br />

foram <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> ao longo <strong>da</strong>s experiências do n<strong>os</strong>so autor/leitor <strong>–</strong> seus laç<strong>os</strong> com o<br />

republicanismo, sua visita a<strong>os</strong> sertões, sua formação militar <strong>–</strong> que também influenciaram<br />

sua <strong>recepção</strong> e uso d<strong>os</strong> antig<strong>os</strong>. Assim, para complementar a análise sobre esse processo <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong>ssas metáforas, que contemplam experiências e concepções sociais do autor,<br />

é preciso consi<strong>de</strong>rar também algumas reflexões apresenta<strong>da</strong>s por Gumbrecht. É importante<br />

lembrar que seu objeto é diferente do a<strong>na</strong>lisado por Jauss: enquanto esse se volta às <strong>obra</strong>s<br />

literárias, o trabalho que <strong>de</strong>staco <strong>de</strong> Gumbrecht é dirigido às recepções d<strong>os</strong> discurs<strong>os</strong> no<br />

parlamento francês ao longo do processo revolucionário que iniciou em 1789. Nesses cas<strong>os</strong>,<br />

por exemplo, ao a<strong>na</strong>lisar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> discurs<strong>os</strong> <strong>de</strong> Robespierre para fortalecer a união entre<br />

parlamentares jacobin<strong>os</strong> e sans-culottes, <strong>de</strong>senvolvendo uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> entre eles, o autor<br />

<strong>de</strong>staca tanto as estratégias inter<strong>na</strong>s ao discurso, como o uso <strong>de</strong> pronomes como “nós” e<br />

argument<strong>os</strong> que forçassem um consenso entre jacobin<strong>os</strong>, como as experiências coletivas d<strong>os</strong><br />

ouvintes <strong>de</strong> tais discurs<strong>os</strong>, como <strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong> revolucionári<strong>os</strong> até aquele momento:<br />

“A pretensa u<strong>na</strong>nimi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre <strong>os</strong> sans-culottes e <strong>os</strong> <strong>de</strong>putad<strong>os</strong> alimentava a esperança à<br />

continuação e à fi<strong>na</strong>lização <strong>da</strong> Revolução, que raramente chegou a ser projeta<strong>da</strong> em term<strong>os</strong><br />

mais precis<strong>os</strong>” (GUMBRECHT, 2003, p.104). Tal como o público parlamentar, <strong>os</strong> leitores<br />

também são envolvid<strong>os</strong> por suas experiências, aflorando no momento <strong>da</strong> construção d<strong>os</strong><br />

sentid<strong>os</strong> no processo <strong>de</strong> leitura.<br />

Como dito anteriormente, conceber o leitor como ser histórico confere historici<strong>da</strong><strong>de</strong> à<br />

<strong>obra</strong> e isso, por consequência, proporcio<strong>na</strong> historici<strong>da</strong><strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> sentido.<br />

Passo essencial <strong>da</strong> <strong>recepção</strong>, a elaboração do sentido resultante do processo <strong>de</strong> leitura é a<br />

concretização <strong>da</strong> relação <strong>obra</strong>/leitor. O estabelecimento <strong>de</strong>ssa relação <strong>de</strong>termi<strong>na</strong> o que po<strong>de</strong><br />

ser chamado <strong>de</strong> “vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong>”, pois essa só existe quando o leitor, em ca<strong>da</strong> época, encontra<br />

no texto uma p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> significação. Jauss afirma que o sentido <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diretamente<br />

do contexto <strong>da</strong> <strong>recepção</strong>:<br />

920<br />

Quem acredita que, em conseqüência unicamente <strong>de</strong> seu mergulho no texto, o sentido<br />

“atemporalmente ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro” <strong>de</strong> uma poesia teria <strong>de</strong> <strong>de</strong>scorti<strong>na</strong>r-se <strong>de</strong> forma imediata e ple<strong>na</strong><br />

ao intérprete <strong>–</strong> p<strong>os</strong>tado, por assim dizer, exteriormente à história e acima <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> ‘equívoc<strong>os</strong>’<br />

<strong>de</strong> seus pre<strong>de</strong>cessores e <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> histórica <strong>–</strong> “escamoteia o emaranhado <strong>da</strong> história do efeito<br />

[Wirkungsgeschichte] no qual se encontra enre<strong>da</strong><strong>da</strong> a própria consciência histórica”. (JAUSS, 1994,<br />

p.36)<br />

Além <strong>da</strong> reafirmação <strong>da</strong> inexistência <strong>de</strong> um sentido imanente ao texto, Jauss <strong>de</strong>staca<br />

que o sentido <strong>de</strong>sse mu<strong>da</strong> historicamente. Aponto aqui uma i<strong>de</strong>ia fun<strong>da</strong>mental para minha<br />

análise d’Os Sertões: o leitor <strong>de</strong> uma <strong>obra</strong> do passado está envolto numa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> significações


anteriores e contemporâneas as <strong>de</strong>le. Mesmo que Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha tenha lido a Teogonia<br />

<strong>de</strong> Hesíodo, por exemplo, sua <strong>recepção</strong> foi influencia<strong>da</strong> por comentári<strong>os</strong> ou mesmo leituras<br />

<strong>de</strong> outr<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> sobre essa <strong>obra</strong>. Isso não significa que há um saber acumulado sobre as<br />

tragédias antigas que necessariamente teria chegado ao autor, mas que <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> saberes<br />

anteriores que o levaram à <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> lê-la (ou mesmo algo referente a ela) interferiram em sua<br />

leitura. Desse fato surge a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em li<strong>da</strong>r com essas <strong>teias</strong> <strong>de</strong> <strong>recepção</strong> <strong>de</strong> <strong>obra</strong>s antigas:<br />

como saber <strong>de</strong> qual fonte Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha entrou em contato com o mito <strong>de</strong> Hércules ou<br />

do Minotauro? Sua leitura foi basea<strong>da</strong> em uma <strong>obra</strong> clássica, em alguma análise literária (ou<br />

historiográfica), em manuais escolares ou mesmo <strong>de</strong> informações dispersas provenientes <strong>de</strong><br />

conversas com intelectuais <strong>de</strong> seu círculo social? O que n<strong>os</strong> resta são sup<strong>os</strong>ições basea<strong>da</strong>s<br />

n<strong>os</strong> us<strong>os</strong> feit<strong>os</strong> em suas <strong>obra</strong>s <strong>de</strong>ssa <strong>recepção</strong> e a certeza <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> significação<br />

é baseado <strong>na</strong>s experiências do receptor <strong>de</strong> forma ampla, não ape<strong>na</strong>s em leituras, mas em<br />

aconteciment<strong>os</strong> <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>.<br />

A observação <strong>de</strong>sse emaranhado <strong>de</strong> recepções contribui especialmente para a aplicação<br />

<strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> à análise <strong>da</strong>s leituras mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>s <strong>de</strong> text<strong>os</strong> antig<strong>os</strong>. A<strong>na</strong>lisar a <strong>recepção</strong><br />

<strong>de</strong> text<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> no Brasil do início do século XX requer reflexões diferentes <strong>da</strong>s que<br />

são imp<strong>os</strong>tas a quem verifica a <strong>recepção</strong> d<strong>os</strong> romances <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis no mesmo<br />

contexto histórico <strong>de</strong> sua produção, por exemplo. Charles Martin<strong>da</strong>le, especialista no estudo<br />

<strong>de</strong> diferentes leituras inglesas <strong>da</strong> poesia lati<strong>na</strong> antiga, utiliza a teoria <strong>de</strong> Jauss e seu grupo<br />

em suas pesquisas. Martin<strong>da</strong>le afirma que a elaboração <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> text<strong>os</strong> antig<strong>os</strong> conectase<br />

necessariamente a p<strong>os</strong>icio<strong>na</strong>ment<strong>os</strong> <strong>de</strong> diferentes temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>s sobre eles: “A tese é<br />

que n<strong>os</strong>sas atuais interpretações <strong>de</strong> text<strong>os</strong> antig<strong>os</strong>, quer sejam<strong>os</strong> ou não conscientes disso,<br />

são, em complexas trajetórias, construíd<strong>os</strong> por uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> recepções por meio <strong>da</strong>s quais<br />

leituras continuam sendo efetua<strong>da</strong>s” (MARTINDALE, 1993, p.7). Portanto, as recepções<br />

anteriores não são <strong>de</strong>formações do origi<strong>na</strong>l, obstácul<strong>os</strong> para a compreensão d<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> text<strong>os</strong> homéric<strong>os</strong> ou tacitean<strong>os</strong>, por exemplo; pelo contrário, é justamente essa tradição<br />

<strong>de</strong> recepções anteriores, passando por intelectuais medievais, re<strong>na</strong>scentistas e iluministas,<br />

que p<strong>os</strong>sibilita a interpretação <strong>da</strong>quelas <strong>obra</strong>s. Sem essa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>recepção</strong>, mesmo que<br />

dominássem<strong>os</strong> a língua grega, dificilmente estabeleceríam<strong>os</strong> alguma interpretação sobre<br />

a Odisséia, por exemplo. Mesmo <strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> fazem parte <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa experiência, <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa<br />

formação que influencia n<strong>os</strong>sa interpretação sobre eles. Martin<strong>da</strong>le afirma isso ao criticar<br />

<strong>os</strong> intelectuais que percebem <strong>os</strong> g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> e questões do presente como obstácul<strong>os</strong> para uma<br />

“pesquisa genui<strong>na</strong>mente histórica” d<strong>os</strong> text<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong>. Tais interferências do presente são<br />

inevitáveis e mesmo úteis para uma interpretação efetivamente produtiva, pois essa cultura<br />

atual foi, por sua vez, influencia<strong>da</strong> por leituras <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, Homero, Hesíodo e<br />

Tácito contribuíram para a n<strong>os</strong>sa <strong>recepção</strong> <strong>de</strong> suas próprias <strong>obra</strong>s:<br />

921<br />

Portanto, assim como o uso do termo ‘n<strong>os</strong>so’ afasta g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> concorrentes, também a noção <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> g<strong>os</strong>to parece ignorar a influência do passado no presente. Nós não interpretam<strong>os</strong><br />

Homero meramente pela luz do n<strong>os</strong>so g<strong>os</strong>to, uma vez que <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> poemas homéric<strong>os</strong><br />

contribuíram para a formação <strong>de</strong> n<strong>os</strong>so g<strong>os</strong>to. (MARTINDALE, 1993, p.8)<br />

Ao mesmo tempo em que o autor lembra-n<strong>os</strong> que não há consens<strong>os</strong> <strong>de</strong> g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> ou<br />

interpretações sobre qualquer texto, <strong>de</strong>staca-se também algo que é esquecido quando se busca<br />

uma “pureza interpretativa” sobre <strong>os</strong> antig<strong>os</strong>: <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> são ferramentas <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa<br />

interpretação. Mais uma vez, antig<strong>os</strong> e mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong> entram em ce<strong>na</strong> <strong>–</strong> não há como subordi<strong>na</strong>r<br />

um ao outro. Assim como a noção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi construí<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> superação<br />

<strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, verifica-se o mundo antigo a partir <strong>de</strong> pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong>, o que não<br />

po<strong>de</strong>ria ocorrer <strong>de</strong> outra forma (MARTINDALE, 2006, p.8). Assim é traça<strong>da</strong> uma teia <strong>de</strong><br />

<strong>recepção</strong> que percorre caminh<strong>os</strong> muitas vezes perdid<strong>os</strong>, ou mesmo imperceptíveis, que faz<br />

com que Homero, Tito Livio ou Eurípi<strong>de</strong>s cheguem até Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha, influenciando<br />

sua leitura sobre as <strong>obra</strong>s <strong>da</strong>queles mesm<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong>.


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922

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