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Quanto mais<br />
espetacular<br />
melhor.<br />
Entre uma<br />
informação<br />
séria e<br />
importante<br />
para o<br />
ci<strong>da</strong>dão,<br />
sem imagem,<br />
e outra<br />
irrelevante<br />
socialmente,<br />
mas<br />
assustadora<br />
do ponto de<br />
vista visual<br />
e cultural,<br />
a TV escolhe<br />
a segun<strong>da</strong><br />
8 | REVISTA DOS BANCÁRIOS<br />
Rainha absoluta<br />
“A televisão é a única janela para o mundo <strong>da</strong><br />
maioria absoluta <strong>da</strong> população brasileira e deveria<br />
por isso ser muito mais responsável, contribuindo<br />
para a elevação do grau de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia existente no<br />
País. Não é isso que ela tem feito”, lamenta o professor<br />
<strong>da</strong> USP, Laurindo Leal Filho. Quando fala de<br />
televisão, Laurindo se refere à TV aberta, que atinge<br />
90% dos domicílios brasileiros, já que as TVs por<br />
assinatura, que possibilitam maior varie<strong>da</strong>de informativa,<br />
têm apenas 3,6 milhões de assinantes. “A televisão<br />
brasileira tem uma responsabili<strong>da</strong>de social<br />
imensa e não se dá conta disso, ou finge que não<br />
percebe. É uma televisão de elevado nível técnico,<br />
comparado aos melhores do mundo – e, portanto,<br />
altamente sedutor – falando para uma população que<br />
só tem a ela como fonte de informação e entretenimento”,<br />
analisa o professor.<br />
Os interesses comerciais e ideológicos <strong>da</strong> televisão<br />
brasileira transformam a notícia em um produto a<br />
mais, sempre objetivando a audiência. Quanto mais<br />
espetacular melhor. Entre uma informação séria e<br />
importante para o ci<strong>da</strong>dão, sem imagem, e outra irrelevante<br />
socialmente, mas assustadora do ponto de<br />
vista visual e cultural, a TV escolhe a segun<strong>da</strong>, em<br />
uma confusão entre notícia e entretenimento. “Há<br />
alguns anos, causou repercussão o assassinato <strong>da</strong> atriz<br />
Daniella Perez. Naquele dia a última notícia do Jornal<br />
Nacional era sobre o caso e foi <strong>da</strong><strong>da</strong> direto do<br />
estúdio <strong>da</strong> novela, no momento mais simbólico <strong>da</strong><br />
fusão reali<strong>da</strong>de-fantasia perpetrado pela televisão<br />
brasileira. Trata<strong>da</strong> assim, a notícia se subordina à linguagem<br />
do veículo e aos seus interesses comerciais”,<br />
exemplifica o professor.<br />
Porém, se o índice baixo de leitura de jornais e revistas<br />
faz com que esses veículos tenham menor público<br />
que a televisão, este fato não diminui o poder<br />
dos donos de grandes editoras, que chegam a formar<br />
oligopólios, conforme define Antonio Martins,<br />
editor <strong>da</strong> <strong>versão</strong> brasileira do jornal Le Monde Diplomatique<br />
e do site Planeta Porto Alegre. “O governo<br />
Lula deveria enfrentar esse oligopólio <strong>da</strong>s comunicações,<br />
mas optou por manter uma relação clientelista<br />
com estas empresas por ora endivi<strong>da</strong><strong>da</strong>s, caso<br />
<strong>da</strong>s Organizações Globo e <strong>da</strong> Editora Abril.”<br />
Mas se a informação é a razão <strong>da</strong> existência do jornal<br />
impresso, como se costuma dizer (já que os outros<br />
veículos até podem trabalhar somente com entretenimento),<br />
quem garante sua existência não é a<br />
ven<strong>da</strong> em banca ou as assinaturas, mas, fun<strong>da</strong>mentalmente,<br />
a publici<strong>da</strong>de. Daniel Barbará, diretor comercial<br />
<strong>da</strong> agência de publici<strong>da</strong>de DPZ, sustenta, como<br />
quase todos aqueles que atuam no setor, que jornalismo<br />
e publici<strong>da</strong>de “são campos bem distintos <strong>da</strong><br />
comunicação”. Porém, apesar <strong>da</strong> distinção, até que<br />
ponto um anunciante pode influenciar a pauta de um<br />
jornal ou revista? “Indiretamente, linhas editoriais<br />
agra<strong>da</strong>m pessoas que compram, ouvem ou assistem<br />
os meios de comunicação e, portanto, a partir <strong>da</strong>í<br />
formam o seu estoque de consumidores que a área<br />
comercial oferece para que possamos comunicar os<br />
produtos de nossos clientes”, argumenta o publicitário,<br />
que entende que na relação de interdependência<br />
entre anunciante e veículos de comunicação,<br />
“ca<strong>da</strong> um exerce seu papel<br />
de forma complementar” e esta interdependência<br />
é “uma forma de<br />
sobrevivência, pois afinal é uma<br />
ativi<strong>da</strong>de comercial”.<br />
A interdependência entre veículos<br />
e empresa é maior do que<br />
Barbará aponta, já que muitas<br />
empresas de diferentes segmentos<br />
tornaram-se acionistas de<br />
grupos de comunicação. O editor<br />
Antonio Martins não tem dúvi<strong>da</strong>s<br />
de que a associação dos fatores<br />
publici<strong>da</strong>de paga e participação<br />
do capital de empresas priva<strong>da</strong>s<br />
influencia a linha editorial dos veículos.<br />
“Apenas para exemplificar, cito<br />
que nunca houve uma matéria profun<strong>da</strong><br />
sobre a quali<strong>da</strong>de dos serviços públicos,<br />
como o <strong>da</strong> Telefônica, após a privatização.<br />
E todos sabemos que os custos desses<br />
serviços aumentaram e a quali<strong>da</strong>de caiu”.<br />
A baixa quali<strong>da</strong>de do jornalismo brasileiro<br />
incomo<strong>da</strong>. Kjeld Jakobsen, presidente do Instituto<br />
Observatório Social, comenta que a cobertura realiza<strong>da</strong><br />
na mídia brasileira sobre o tema “trabalho”, por<br />
exemplo, deixa a desejar por falta de serie<strong>da</strong>de. “Noticiam<br />
apenas fatos mais sensacionalistas como greves,<br />
piquetes e repressão ou situações que coloquem<br />
sindicatos contra o governo. Pouco se vê em termos<br />
de notícias sobre o que é discutido em congressos e<br />
eventos.”<br />
Economia ruim, jornalismo pior<br />
A dependência dos veículos com os anunciantes<br />
não é nenhuma novi<strong>da</strong>de, mas ganhou maior dimensão<br />
no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90. No princípio <strong>da</strong> metade<br />
<strong>da</strong> déca<strong>da</strong>, por acreditarem que o governo FHC<br />
tinha controle <strong>da</strong> situação econômica do País, muitos<br />
deles se endivi<strong>da</strong>ram em dólares. Logo após a<br />
reeleição <strong>da</strong>quele presidente, o Real sofreu brutal desvalorização<br />
e a dívi<strong>da</strong> dolariza<strong>da</strong> dessas empresas<br />
praticamente levou-as à bancarrota. Ao mesmo tempo,<br />
houve contração <strong>da</strong> economia como um todo e<br />
a fuga de anunciantes.<br />
A que<strong>da</strong> <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do jornalismo dessas empresas<br />
seguiu a linha <strong>da</strong> crise econômica. As re<strong>da</strong>ções<br />
tiveram enxugamentos brutais (leia-se demissões<br />
em massa) e profissionais com salários maiores<br />
foram substituídos por focas (termo usado para designar<br />
o recém-formado sem experiência), boa parte<br />
deles em condições bem piores do que determina<br />
a legislação. “Hoje a situação trabalhista do jornalista<br />
é de transformação, com a maioria dos profissionais<br />
passando de contratos CLT para pessoa jurídica”,<br />
reconhece João Cury.<br />
Mas o ex-diretor <strong>da</strong> AOL Brasil aponta outros fatores<br />
responsáveis pelo excesso de críticas negativas<br />
de profissionais, especialistas em comunicação e leitores,<br />
principalmente à chama<strong>da</strong> “grande imprensa”.<br />
“Temos praticado um jornalismo abaixo <strong>da</strong> média<br />
por pensarmos como o ci<strong>da</strong>dão médio. Isso não po-