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CUT INVESTE EM PROJETOS DE TV Desde 2003, quando Luiz Marinho assumiu a presidência da CUT, a central sindical colocou como uma de suas prioridades a comunicação. Foi esta prioridade que fez a Fundação Sociedade Comunicação Cultura e Trabalho retomar um pedido de concessão de canal de TV para a criação da TV CUT. Após aprovação do presidente Lula, a solicitação chegou ao Ministério Público e depois ao das Comunicações. Daí seguiu para o Senado. Porém, apesar de praticamente certa, a criação da TV CUT não é o principal objetivo da central sindical em sua estratégia de comunicação. "A concessão do canal 46 UHF de Mogi das Cruzes é parte de nosso projeto. Mas temos priorizado a criação de programas Dos recursos obtidos pelos veículos para viabilizá-los, 7,13% do total vêm do setor público. Só do governo federal são 5,04%. E esses recursos são repassados, praticamente de forma integral, para os grandes veículos que possam ser exibidos tanto em nosso canal quanto em outros por todo o País, como já acontece com o Repercute, na TV Bandeirantes, e o TV CUT, na Rede TV", explica CelsoHorta, assessor de Luiz Marinho. Para viabilizar a produção deste conteúdo e sua comercialização, a CUT contratou a consultoria Canal Independente. "A empresa é responsá- vel pela formulação dos aspectos comerciais, administrativos e de conteúdo da CUT, que serão negociados com canais de TV paga e aberta em todo o Brasil. Trabalhamos com o conceito de que só atingiremos o grande público se tivermos nossos programas exibidos em rede nacional e não apenas pela TV CUT", afirma Horta. ILUSTRAÇÃO COM FOTOS DE PAULO PEPE E JAILTON GARCIA REVISTA DOS BANCÁRIOS | 7
Quanto mais espetacular melhor. Entre uma informação séria e importante para o cidadão, sem imagem, e outra irrelevante socialmente, mas assustadora do ponto de vista visual e cultural, a TV escolhe a segunda 8 | REVISTA DOS BANCÁRIOS Rainha absoluta “A televisão é a única janela para o mundo da maioria absoluta da população brasileira e deveria por isso ser muito mais responsável, contribuindo para a elevação do grau de cidadania existente no País. Não é isso que ela tem feito”, lamenta o professor da USP, Laurindo Leal Filho. Quando fala de televisão, Laurindo se refere à TV aberta, que atinge 90% dos domicílios brasileiros, já que as TVs por assinatura, que possibilitam maior variedade informativa, têm apenas 3,6 milhões de assinantes. “A televisão brasileira tem uma responsabilidade social imensa e não se dá conta disso, ou finge que não percebe. É uma televisão de elevado nível técnico, comparado aos melhores do mundo – e, portanto, altamente sedutor – falando para uma população que só tem a ela como fonte de informação e entretenimento”, analisa o professor. Os interesses comerciais e ideológicos da televisão brasileira transformam a notícia em um produto a mais, sempre objetivando a audiência. Quanto mais espetacular melhor. Entre uma informação séria e importante para o cidadão, sem imagem, e outra irrelevante socialmente, mas assustadora do ponto de vista visual e cultural, a TV escolhe a segunda, em uma confusão entre notícia e entretenimento. “Há alguns anos, causou repercussão o assassinato da atriz Daniella Perez. Naquele dia a última notícia do Jornal Nacional era sobre o caso e foi dada direto do estúdio da novela, no momento mais simbólico da fusão realidade-fantasia perpetrado pela televisão brasileira. Tratada assim, a notícia se subordina à linguagem do veículo e aos seus interesses comerciais”, exemplifica o professor. Porém, se o índice baixo de leitura de jornais e revistas faz com que esses veículos tenham menor público que a televisão, este fato não diminui o poder dos donos de grandes editoras, que chegam a formar oligopólios, conforme define Antonio Martins, editor da versão brasileira do jornal Le Monde Diplomatique e do site Planeta Porto Alegre. “O governo Lula deveria enfrentar esse oligopólio das comunicações, mas optou por manter uma relação clientelista com estas empresas por ora endividadas, caso das Organizações Globo e da Editora Abril.” Mas se a informação é a razão da existência do jornal impresso, como se costuma dizer (já que os outros veículos até podem trabalhar somente com entretenimento), quem garante sua existência não é a venda em banca ou as assinaturas, mas, fundamentalmente, a publicidade. Daniel Barbará, diretor comercial da agência de publicidade DPZ, sustenta, como quase todos aqueles que atuam no setor, que jornalismo e publicidade “são campos bem distintos da comunicação”. Porém, apesar da distinção, até que ponto um anunciante pode influenciar a pauta de um jornal ou revista? “Indiretamente, linhas editoriais agradam pessoas que compram, ouvem ou assistem os meios de comunicação e, portanto, a partir daí formam o seu estoque de consumidores que a área comercial oferece para que possamos comunicar os produtos de nossos clientes”, argumenta o publicitário, que entende que na relação de interdependência entre anunciante e veículos de comunicação, “cada um exerce seu papel de forma complementar” e esta interdependência é “uma forma de sobrevivência, pois afinal é uma atividade comercial”. A interdependência entre veículos e empresa é maior do que Barbará aponta, já que muitas empresas de diferentes segmentos tornaram-se acionistas de grupos de comunicação. O editor Antonio Martins não tem dúvidas de que a associação dos fatores publicidade paga e participação do capital de empresas privadas influencia a linha editorial dos veículos. “Apenas para exemplificar, cito que nunca houve uma matéria profunda sobre a qualidade dos serviços públicos, como o da Telefônica, após a privatização. E todos sabemos que os custos desses serviços aumentaram e a qualidade caiu”. A baixa qualidade do jornalismo brasileiro incomoda. Kjeld Jakobsen, presidente do Instituto Observatório Social, comenta que a cobertura realizada na mídia brasileira sobre o tema “trabalho”, por exemplo, deixa a desejar por falta de seriedade. “Noticiam apenas fatos mais sensacionalistas como greves, piquetes e repressão ou situações que coloquem sindicatos contra o governo. Pouco se vê em termos de notícias sobre o que é discutido em congressos e eventos.” Economia ruim, jornalismo pior A dependência dos veículos com os anunciantes não é nenhuma novidade, mas ganhou maior dimensão no final da década de 90. No princípio da metade da década, por acreditarem que o governo FHC tinha controle da situação econômica do País, muitos deles se endividaram em dólares. Logo após a reeleição daquele presidente, o Real sofreu brutal desvalorização e a dívida dolarizada dessas empresas praticamente levou-as à bancarrota. Ao mesmo tempo, houve contração da economia como um todo e a fuga de anunciantes. A queda da qualidade do jornalismo dessas empresas seguiu a linha da crise econômica. As redações tiveram enxugamentos brutais (leia-se demissões em massa) e profissionais com salários maiores foram substituídos por focas (termo usado para designar o recém-formado sem experiência), boa parte deles em condições bem piores do que determina a legislação. “Hoje a situação trabalhista do jornalista é de transformação, com a maioria dos profissionais passando de contratos CLT para pessoa jurídica”, reconhece João Cury. Mas o ex-diretor da AOL Brasil aponta outros fatores responsáveis pelo excesso de críticas negativas de profissionais, especialistas em comunicação e leitores, principalmente à chamada “grande imprensa”. “Temos praticado um jornalismo abaixo da média por pensarmos como o cidadão médio. Isso não po-
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