07.04.2013 Views

Le Corbusier e J. Baker - Instituto Art Deco Brasil

Le Corbusier e J. Baker - Instituto Art Deco Brasil

Le Corbusier e J. Baker - Instituto Art Deco Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

história le corbusier e joséphine baker<br />

M affair CARIOCA<br />

Nesta página, desenho de <strong>Le</strong><br />

<strong>Corbusier</strong> Joséphine Endormie<br />

(Fundação <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>)<br />

Na página ao lado, Desenho<br />

de Di Cavalcanti <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>,<br />

1923 (Museu de <strong>Art</strong>e<br />

Contemporânea da USP)<br />

160<br />

161<br />

MARCIO ALVES ROITER<br />

DESCREVE DETALHES<br />

DO ROMANCE ENTRE LE<br />

CORBUSIER E JOSÉPHINE<br />

BAKER. O ARQUITETO E<br />

A EXPLOSIVA ATRIZ SE<br />

ENCONTRARAM A BORDO<br />

DE UM NAVIO COM<br />

PASSAGEM PELO RIO.<br />

JUNTOS, APROVEITARAM<br />

“A CIDADE MAIS BONITA<br />

DO MUNDO” NOS ANOS<br />

DOURADOS NA CAPITAL<br />

BRASILEIRA NO APAGAR<br />

DA DÉCADA DE 20


história le corbusier e joséphine baker<br />

À direita, o arquiteto e Alberto<br />

Monteiro de Carvalho, seu<br />

anfitrião no Rio de Janeiro<br />

(Fundação <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>)<br />

Abaixo, desenho dos carnets<br />

de voyage de <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>:<br />

ele e Joséphine <strong>Baker</strong><br />

passeando no Rio de Janeiro<br />

(Fundação <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>)<br />

Acima, Joséphine <strong>Baker</strong>,<br />

aquarela de J. Carlos<br />

(coleção <strong>Art</strong> Déco <strong>Brasil</strong>eiro<br />

Adolpho e Fulvia <strong>Le</strong>irner)<br />

Ao lado, <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>,<br />

Joséphine <strong>Baker</strong> e amigos<br />

no convés do Lutétia<br />

(Fundação <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>)<br />

162 163<br />

Em sua autobiografia, Joséphine <strong>Baker</strong> comenta a festa da travessia do Equador a<br />

bordo do Lutétia, em dezembro de 1929, após deixar o Rio de Janeiro a caminho da<br />

Europa: “Havia duas Joséphines ali: eu e ele. Ele se pintou de preto, com um<br />

cinturão de plumas. Foi irresistivelmente cômico. Ah, senhor <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>, uma<br />

pena que seja um arquiteto! Que boa dupla teríamos sido!”<br />

Dois personagens de capital importância na história do século 20, o francossuíço<br />

<strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong> (1887-1965), considerado o pai da arquitetura moderna, e Joséphine<br />

<strong>Baker</strong> (1906-1975), a vedete sensual que deixou os EUA para triunfar na Paris de<br />

1925, encontram-se a bordo do navio que saía de Buenos Aires, passava pela então<br />

capital do <strong>Brasil</strong> e seguia para a Europa. Era a primeira turnê sul-americana da<br />

atriz, cercada de protestos e ameaças da igreja católica e de moralistas. A apresentação<br />

dela em São Paulo chegou a ser censurada, tudo por causa da performance<br />

seminua e provocante que estreara em Paris anos antes.<br />

<strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong> vinha ao Rio para fazer palestras e procurar trabalho. Apesar da fama,<br />

de editar a revista L’Esprit Nouveau (uma das mais vanguardistas da época, com assinantes<br />

do naipe de Mario de Andrade, Jaime da Silva Teles e Oswald de Andrade), não<br />

recebia encomendas de projetos como gostaria, e aceitava essas viagens como um<br />

reforço de caixa. Ao conhecer Paulo Prado, na casa de Tarsila do Amaral, em Paris,<br />

ouviu do mecenas da Semana de <strong>Art</strong>e Moderna de 1922 os planos do governo brasileiro<br />

de transferir a capital do País para o Centro Oeste – plano que só se concretizou<br />

em 1960, com Brasília. Ironicamente, não foi <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong> que assinou os projetos ou<br />

o plano diretor, e sim seus alunos e seguidores Oscar Niemeyer e Lucio Costa.<br />

Os carnês de viagem do arquiteto repletos de desenhos da vedete, as cartas à sua mãe<br />

e à própria Joséphine sugerem que o encontro dos dois foi além de mera amizade. No<br />

último trabalho – e mais completo até hoje sobre o arquiteto, <strong>Le</strong> <strong>Corbusier</strong>, le Grand,<br />

editado em 2008 pela Phaidon, aparece duas cartas do francossuíço reclamando da<br />

indiferença de Joséphine aos seus sentimentos. Ali se vê, também, um dos desenhos<br />

que fez da artista, dormindo. Na resenha sobre o livro publicada pela revista<br />

Antiquariato, da editora italiana Mondadori, de fevereiro 2009, mais uma vez o affair<br />

é comentado. Sabe-se que, na intimidade, enquanto o arquiteto desenhava, a vedete<br />

cantarolava canções da sua Saint Louis natal. A atmosfera da cidade, naquele começo<br />

de verão, era sensual, tolerante e ávida de modernidade. E os dois dividiam, ainda, a<br />

mesma opinião: estavam na mais bela capital do mundo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!