As Ironias da Fortuna - UC Digitalis - Universidade de Coimbra
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<strong>As</strong> ironias <strong>da</strong> <strong>Fortuna</strong> 53<br />
tempo <strong>de</strong> Petrónio - não usaram a aprendizagem para prevenir logros<br />
posteriores, antes fizeram do próprio engano a principal forma <strong>de</strong><br />
encarar a vi<strong>da</strong>. Trataremos <strong>de</strong>ste ponto noutro capítulo. Baste por<br />
agora o comentário <strong>de</strong> Zeitlin (63): «The Woo<strong>de</strong>n Horse is a symbol<br />
of the fall of Troy; it is also a metaphor of the Satyricon.»<br />
O poema sobre a guerra civil, além <strong>da</strong> notória imitação <strong>de</strong> Virgílio,<br />
que o mesmo Eumolpo aconselha (118.5), tem sido interpretado<br />
pelos filólogos como paródia ou retractatio <strong>da</strong> Pharsalia <strong>de</strong> Lucano,<br />
paródia dos Punica <strong>de</strong> Sílio Itálico ou até, invertendo os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong><br />
questão, como fonte inspiradora para Lucano. 48 Destas posições, as<br />
que parecem mais aceitáveis são as que admitem o influxo virgiliano e<br />
a possível paródia/retractatio em relação a Lucano. Por isso, é <strong>de</strong><br />
admitir que as observações feitas por Eumolpo no cap. 118 se possam<br />
dirigir também ao sobrinho <strong>de</strong> Séneca, embora não apenas a ele. A<br />
crítica é mais ampla e <strong>de</strong>ve ter como objectivo as tendências <strong>da</strong> poesia,<br />
sobretudo a épica, no tempo <strong>de</strong> Petrónio. 49 Pelas razões já apresenta<strong>da</strong>s,<br />
não aprofun<strong>da</strong>remos esta vexata quaestio. O objectivo <strong>da</strong><br />
análise do Bellum ciuile é tentar mostrar que há paralelismo entre a<br />
marcha <strong>de</strong> César sobre Roma e a dos anti-heróis para Crotona. Esse<br />
factor favoreceria a aproximação <strong>da</strong>s duas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e permitiria curiosas<br />
extrapolações para o entendimento do poema e do romance.<br />
Depois <strong>de</strong> terem escapado a um naufrágio (114.1-115.5) e <strong>de</strong><br />
sepultarem Licas que, pouco antes, a todos fazia tremer (115.7-20), os<br />
sobreviventes - Eumolpo, Encólpio, Gíton e Córax - metem-se ao<br />
caminho (116.1-3):<br />
[ ... . ] ac momento tempo ris in montem su<strong>da</strong>ntes conscendimus, ex<br />
quo haud procul impositum arce sublimi oppidum cernimus. Nec quod<br />
esset sciebamus errantes, donec a uilico quo<strong>da</strong>m Crotona esse cognouúnus,<br />
urbem antiquissimam et aliquando Italiae primam. Cum <strong>de</strong>in<strong>de</strong><br />
diligentius exploraremus qui homines inhabitarent nobile solum<br />
quodue genus negotiationis praecipue probarent post attritas bellis<br />
frequentibus opes [ .... ].<br />
[ ... . ] e a breve trecho, banhados em suor, lá conseguimos subir o<br />
monte. Não muito longe <strong>da</strong>li, avistamos uma fortaleza planta<strong>da</strong> no alto<br />
<strong>de</strong> uma colina. De tanto an<strong>da</strong>rmos às voltas, não tínhamos i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />
povoação fosse, até que certo camponês nos informou <strong>de</strong> que se trata-<br />
48 I<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Pierre Grimal, La Guerre Civile <strong>de</strong> Pétrone, <strong>da</strong>ns ses rapporls<br />
avec la Pharsale (Paris, 1977). Ver ain<strong>da</strong> Soverini, "II problema <strong>de</strong>lle teorie<br />
retoriche ... ", 1754-1759; Sullivan, Jl Satyricon di Petronio ... , 165-182; e Beck,<br />
"Eumolpus poeta ... ", 239, n. I.<br />
49 Neste sentido se pronuncia Giulio Puccioni, "L' Ilioupersis di Petronio", ln mem.<br />
E. V. Marmorale, Univ. di Genova (Pubb. 1st. FilaI. Class.) 37 (1973) 107-1 38,<br />
esp.137- 138.<br />
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