Grécia: Arquitetura - Leonel Cunha
Grécia: Arquitetura - Leonel Cunha
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<strong>Grécia</strong><br />
<strong>Arquitetura</strong>
[Em Atenas] o homem não depende já dos poderes misteriosos que o<br />
ultrapassam e aterram, nem dos seus intermediários. Vive por ele e para ele.
A arte deixa de ser exclusivamente funcional; ultrapassa até a etapa da arte ao<br />
serviço de Deus ou do monarca para descobrir que se pode destinar a um prazer<br />
sui generis: o estético.
Aristóteles dirá muito justamente: "O belo é o que é desejável<br />
por si mesmo."
A arte grega clássica foi uma arte racional, expressão da comunidade e do<br />
homem/cidadão.<br />
Aliou:<br />
Estética e ética;<br />
Política e religião;<br />
Técnica e ciência;<br />
Realismo e idealismo;<br />
Beleza e funcionalidade.<br />
E esteve ao serviço da vida pública.
A arquitetura evoluiu em três períodos:<br />
o período arcaico, balizado entre o século VIII e o século V a.<br />
c., que foi um longo espaço de tempo caracterizado pela procura do<br />
inteligível, da ordem, do monumental, da sobriedade e da maturidade;<br />
o período clássico, que se desenvolveu entre a segunda<br />
metade do século V e o século IV a. C. e foi um tempo em que a<br />
arte atingiu a plenitude, o equilíbrio, o realismo e o idealismo;<br />
o período helenístico, marcado pela miscigenação de culturas,<br />
pelo gosto do particular, do concreto e individual e, simultaneamente,<br />
tempo de declínio da cultura grega.
Com o número criaram uma ligação permanente entre geometria e<br />
arquitetura onde a matemática estabeleceu o ritmo e a harmonia.<br />
Criaram normas e regras construtivas, cânones para a concretização<br />
artística, valores estéticos e modelos duradouros, nos quais todos os<br />
detalhes, os aspectos decorativos e/ou os pormenores tinham de se<br />
sujeitar à harmonia do conjunto.
A concretização da obra era um trabalho colectivo, feito para a cidade.<br />
que envolvia diversos profissionais: arquitetos, projetistas, escultores,<br />
pintores e outros artesãos.<br />
O objectivo final da arte era a procura de unidade, beleza e harmonia<br />
universais, suportadas, é claro, por uma filosofia que buscou a relação<br />
do Homem com o divino, com o mundo e a sua origem, com a vida e a morte,<br />
assim como com a dimensão interior do próprio Homem - valores<br />
que hoje designamos por Classicismo.
A cidade grega:<br />
área sagrada (acrópole);<br />
área pública (ágora);<br />
área privada (bairros residenciais).<br />
A cidade grega respondia a um plano urbanístico regido pelos seus<br />
magistrados, reunidos em "colégios", dos quais faziam parte arquitetos e<br />
técnicos.
A cidade de Mileto, situada na Ásia Menor,<br />
possuiu inovações de raiz dignas de nota.<br />
O autor do seu plano urbanístico (o primeiro<br />
de toda a arte ocidental) foi Hipódamo de<br />
Mileto, urbanista e filósofo que concebeu uma<br />
cidade perfeitamente racional e funcional.<br />
Os quarteirões constituíam o módulo a partir<br />
do qual a cidade se desenvolvia.
O templo foi e continua a ser o exemplo máximo da arquitetura grega e<br />
tem, no século V, no Pártenon e em Atena Niké, o encontro exemplar<br />
entre o racionalismo, o antropocentrismo e o idealismo do<br />
pensamento grego.<br />
Antropocentrismo: O Homem como o centro das coisas e do universo.
Parece não haver dúvidas de que o<br />
templo grego surgiu da evolução do<br />
mégaron pré-helénico
Os primeiros templos que possuíam<br />
apenas um par de colunas no pronaos,<br />
designavam-se in Antis. Quando<br />
adoptaram sistemas de colunas em<br />
ambas as fachadas, designaram-se<br />
tetrastilo.
Mas, a tipologia de templo mais<br />
comum, ergueu colunas em todo o<br />
perímetro do templo: o perístilo,<br />
sendo este tipo de edifícios<br />
designados por períptero.
Na sua estrutura planimétrica final, o<br />
templo era formado por quatros<br />
espaços:<br />
pronaos, que era uma espécie de<br />
pórtico;<br />
uma cella ou naos, onde se encontrava<br />
a estátua da divindade;<br />
opistódomos, que tinha como função<br />
ser a câmara do tesouro, local onde se<br />
guardavam as oferendas aos deuses e os<br />
bens preciosos da cidade.<br />
peristilo (rodeava o opistódomos), espécie<br />
de corredor coberto e circundante,<br />
aberto lateralmente através de uma ou<br />
mais fiadas de colunas.
O templo possui:<br />
uma base ou envasamento, que era uma plataforma elevada e<br />
tinha como função nivelar o terreno;<br />
as colunas, que constituíam o sistema de elevação e suporte do<br />
tecto;<br />
o entablamento, elemento superior e de remate que era formado<br />
pela arquitrave, pelo friso e pela cornija, encimada pelo frontão<br />
triangular.<br />
O tecto de duas águas era coberto por telhas de barro.
O templo possui uma simetria axial,<br />
criando fachadas simétricas, duas a<br />
duas.
As ordens:<br />
Dórica;<br />
Jónica;<br />
Coríntia.
O conceito de ordem está ligado a um sistema de proporções<br />
que harmonizava as partes do edifício em relação ao todo.<br />
Era aplicado ao traçado da coluna - determinando as<br />
proporções das suas partes constituintes: base, fuste e capitel e à<br />
relação entre a sua espessura e a sua altura totais.
A coluna é o elemento que melhor define as características de<br />
cada ordem, de tal forma que o diâmetro médio do seu fuste<br />
determina o módulo métrico segundo o qual se construía todo o<br />
sistema proporcional do edifício.
Atlantes no templo de zeus (maqueta)<br />
Cariátides<br />
A coluna teve também um valor<br />
icónico extremamente forte, que<br />
esteve para além da sua função<br />
estrutural.<br />
Ela é o símbolo do Homem, é<br />
antropomórfica - e tomou<br />
assumidamente essa forma<br />
humana no pórtico das cariátides<br />
do Erectéion, na acrópole de<br />
Atenas, e de atlantes, como no<br />
caso do templo de Zeus<br />
Olímpico, em Agrigento, datado do<br />
século IV a. C.
Cariátides<br />
Erectéion séc. V a. C. na Acrópole de Atenas
Ordem dórica
A ordem dórica é a mais antiga. Nasceu na <strong>Grécia</strong> Continental cerca<br />
de 600 a. C. e possui formas geométricas, com quase total<br />
ausência de decoração.<br />
Derivou das primitivas construções em madeira nas quais a pedra era<br />
utilizada apenas nas colunas e alicerces. Possui um aspecto maciço e<br />
pesado, atribuindo-se-lhe um carácter masculino e sóbrio, ligado<br />
ao espírito guerreiro.
Templo de Haphaestos, Atenas séc. VI a. C.
O envasamento é composto<br />
pelo estereóbato, plataforma de<br />
alicerçamento rodeada de dois ou<br />
mais degraus de acesso, e pelo<br />
estilóbato.<br />
A coluna é robusta e possui fuste<br />
com caneluras em aresta<br />
viva e capitel formado por<br />
ábaco e equino, ou coxim,<br />
muito simples e geométrico.
O entablamento compreende a<br />
arquitrave, o friso dividido em<br />
métopas e tríglifos (reminiscências<br />
da construção em madeira) e a<br />
cornija. O frontão triangular<br />
coroa o edifício.
Exemplos de templos de ordem dórica são:<br />
o Templo de Hera, em Olímpia;<br />
o de Poseídon, datado de meados do século V a. C.;<br />
o de Apolo, em Corinto;<br />
o de Ceres;<br />
o Pártenon.
Ordem jónica
A ordem jónica nasceu no século VI a. c., na Jónia, e<br />
desenvolveu-se sobretudo nas costas da Ásia Menor e nas ilhas do<br />
Mar Egeu.<br />
Esta ordem difere da ordem dórica nas proporções de todos os seus<br />
elementos e na decoração mais abundante da coluna e do<br />
entablamento. Esta, associada às suas dimensões mais<br />
esbeltas, confere-lhe um carácter feminino.
O envasamento dos edifícios de<br />
ordem jónica é formado apenas pelo<br />
estereóbato constituído por três<br />
degraus.<br />
A coluna possui uma base individual.<br />
um fuste com caneluras semicilíndricas,<br />
sem arestas vivas, e em maior número<br />
que o da coluna dórica, e também<br />
mais longo e delgado, e um capitel<br />
com ábaco simples e equino em forma<br />
de volutas enroladas em espiral.
O entablamento tem uma<br />
arquitrave tripartida<br />
longitudinalmente e um friso<br />
contínuo, com decoração esculpida,<br />
rematado pela cornija; o frontão<br />
triangular encima o edifício, tal<br />
como acontece na ordem dórica.<br />
Este tipo de estrutura foi aplicado,<br />
inicialmente, a edifícios de planta<br />
simples, como o templo de Atena<br />
Niké.
Templo Jónico de Atena Niké, na acrópole de Atenas
Pórtico das cariátides no Templo do Erectéion, séc. V a.C., Atenas<br />
A função icónica da coluna<br />
adquire antropomorfismo<br />
num dos pórticos, através<br />
da sua substituição por<br />
estátuas de figuras<br />
femininas: O pórtico das<br />
cariátides.
Ordem coríntia
A ordem coríntia apareceu<br />
apenas no final do século V a.<br />
C. e é uma derivação da<br />
ordem jónica, resultando do<br />
seu enriquecimento decorativo.
Templo de Zeus 174 a. C.
As principais diferenças estão na coluna<br />
que possui uma base mais trabalhada,<br />
um fuste mais delgado e um capitel<br />
em forma de sino invertido, repleto<br />
de decoração esculpida, formada por duas<br />
filas de folhas de acanto, coroadas por volutas<br />
jónicas.<br />
O entablamento e o frontão eram<br />
sobrecarregados de refinados<br />
preciosismos decorativos.
Na <strong>Grécia</strong>, podemos encontrá-la no:<br />
Templo de Zeus Olimpico;<br />
Monumento Corágico a Lisícrates, datado do século IV a. c.,<br />
ambos situados em Atenas.
O templo grego, qualquer que fosse a ordem utilizada, possuía na<br />
sua estrutura espaços destinados à escultura que valorizavam<br />
o edifício e aumentavam o seu valor icónico, pois devemos considerar que<br />
o templo foi, por excelência, dedicado a glorificar um deus.
Exercício:<br />
1- Refere os três períodos da arquitetura grega e menciona as<br />
suas características principais.<br />
2- Que funções tinham os templos gregos?<br />
3- Que áreas compunham as cidades gregas? E que importância<br />
tinham?<br />
4- Estabelece as diferenças verificadas na evolução das<br />
estruturas planimétricas dos templos gregos.<br />
5- Analisa a estrutura do Pártenon, mencionando as suas partes<br />
constituintes ao nível planimétrico.<br />
6- Menciona as ordens arquitetónicas gregas.<br />
7- Explica as características das ordens gregas.
Ler manual adotado, pág. 36, 49