MITOLOGIA GREGA E ROMANA - Livraria Martins Fontes
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<strong>MITOLOGIA</strong> <strong>GREGA</strong><br />
E <strong>ROMANA</strong>
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O Caos<br />
O estado primordial, primitivo do mundo é o Caos.<br />
Era, segundo os poetas, uma matéria que existia desde toda<br />
a eternidade, sob uma forma vaga, indefinível, indescritível,<br />
em que os princípios de todos os seres particulares estavam<br />
confundidos. O Caos era, ao mesmo tempo, uma divindade<br />
por assim dizer rudimentar, mas capaz de fecundidade. Ele<br />
gerou a Noite e, mais tarde, Érebo.<br />
A Noite<br />
As Origens<br />
Deusa das trevas, filha do Caos, a Noite é a mais antiga<br />
das divindades. Certos poetas fazem-na filha do Céu e<br />
da Terra; Hesíodo qualifica-a como um dos Titãs e designaa<br />
mãe dos deuses, porque sempre se acreditou que a noite<br />
e as trevas haviam precedido todas as coisas. Ela desposou<br />
Érebo, seu irmão, de quem teve o Éter e o Dia. Mas havia<br />
gerado sozinha, sem comércio com nenhuma divindade, o<br />
inelutável e inflexível Destino, a Parca negra, a Morte, o<br />
Sono, a turba dos Sonhos, Momo, a Miséria, as Hespérides,<br />
guardiãs dos pomos de ouro, as implacáveis Parcas, a terrível<br />
Nêmesis, a Fraude, a Concupiscência, a triste Velhice e<br />
a obstinada Discórdia. Numa palavra, tudo o que há de<br />
importuno na vida era tido como uma produção da Noite.<br />
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Mitologia Grega e Romana<br />
Por vezes, ela é chamada em grego Eufroné e Eubulia, isto<br />
é, Mãe do bom conselho. Uns situavam seu império ao norte<br />
do Ponto Euxino, no país dos cimérios; mas geralmente<br />
é situado na parte da Espanha chamada Hespéria, isto é,<br />
região do Anoitecer, perto das colunas de Hércules, limites<br />
do mundo conhecido dos antigos.<br />
A Noite, escultura moderna.<br />
A maioria dos povos da Itália considerava a Noite uma<br />
deusa, mas os habitantes de Brescia dela fizeram um deus,<br />
chamado Noctulius ou Nocturnus. A coruja, que vemos aos<br />
pés desse deus segurando uma tocha caída que ele tenta<br />
apagar, anuncia aquele que é o inimigo do dia.<br />
Nos monumentos antigos, vemos a deusa Noite ora<br />
segurando acima da cabeça um pano esvoaçante semeado<br />
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de estrelas, ou com um pano azul e uma tocha caída, ora<br />
figurada por uma mulher nua com longas asas de morcego<br />
e uma tocha na mão. Também é representada coroada de<br />
papoulas e envolta num grande manto negro estrelado. Às<br />
vezes está montada num carro puxado por dois cavalos<br />
negros ou dois mochos, tendo na cabeça um grande véu<br />
salpicado de estrelas. Costuma ser situada no Tártaro, entre<br />
o Sono e a Morte, seus dois filhos. Algumas vezes é precedida<br />
de uma criança carregando uma tocha, imagem do crepúsculo.<br />
Os romanos não lhe davam carro e representavam-na<br />
ociosa e adormecida.<br />
Nossa gravura, tirada de Thorwaldsen, representa a Noite<br />
adormecida, voando no espaço com o Éter e o Dia.<br />
Érebo<br />
Filho do Caos, irmão e esposo da Noite, pai do Éter e<br />
do Dia, Érebo foi metamorfoseado em rio e precipitado no<br />
Inferno por ter socorrido os Titãs. Também se toma por<br />
uma parte do Inferno e pelo próprio Inferno.<br />
Pela palavra Éter, os gregos entendiam o Céu, distinto<br />
dos corpos luminosos. Sendo dia feminino em grego (Hemera),<br />
dizia-se que Éter e Dia foram o pai e a mãe do Céu.<br />
Essas estranhas uniões significam apenas que a Noite existia<br />
antes da criação, que a Terra estava perdida na escuridão<br />
que a cobria, mas que a luz, varando o Éter, havia iluminado<br />
o universo.<br />
Em linguagem menos mitológica, podemos simplesmente<br />
dizer que a Noite e o Caos precederam a criação dos<br />
céus e da luz.<br />
Eros e Anteros<br />
As Origens<br />
Caos, a Noite e Érebo só puderam se unir e procriar<br />
pela intervenção de uma força divina, eterna como os elementos<br />
do próprio Caos, pela intervenção manifesta de um<br />
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deus que, sem ser propriamente o amor, tem com este, no<br />
entanto, alguma conformidade.<br />
Em grego, esse deus antigo,<br />
ou, antes, anterior a toda<br />
antiguidade, chama-se Eros. É<br />
ele que inspira ou produz essa<br />
simpatia invisível e freqüentemente<br />
inexplicável entre<br />
dois seres, para uni-los e procriar<br />
novos seres. A força de<br />
Eros se estende além da natu-<br />
reza viva e animada; ela aproxima,<br />
une, mistura, multipli-<br />
ca, varia as espécies de animais, de vegetais, de minerais,<br />
de líquidos, de fluidos, numa palavra, de toda a criação.<br />
Eros é, pois, o deus da união, da afinidade universal. Nenhum<br />
ser pode fugir da sua influência ou da sua força. Eros<br />
é invencível.<br />
No entanto, ele tem por adversário no mundo divino<br />
Anteros, isto é, a antipatia, a aversão. Essa divindade possui<br />
todos os atributos contrários aos do deus Eros: ela separa,<br />
desune, desagrega. Talvez tão salutar quanto Eros, tão forte<br />
e tão poderosa quanto ele, impede que os seres de natureza<br />
dissímil se confundam. Se por vezes semeia à sua roda a<br />
discórdia e o ódio, se prejudica a afinidade dos elementos,<br />
pelo menos a hostilidade que cria entre eles contém cada<br />
um em limites fixos e, assim, a natureza não pode voltar a<br />
cair no caos.<br />
O Destino<br />
Eros e Anteros.<br />
Mitologia Grega e Romana<br />
O Destino é uma divindade cega, inexorável, oriunda<br />
da Noite e do Caos. Todas as outras divindades lhe eram<br />
submetidas. O céu, a terra, o mar e o inferno estavam sob<br />
seu império; nada era capaz de mudar o que ele havia decidido;<br />
numa palavra, o Destino era, ele próprio, essa fatali-<br />
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dade segundo a qual tudo acontecia no mundo. O mais poderoso<br />
dos deuses, Júpiter, não pode dobrar o Destino nem<br />
em favor dos deuses, nem dos homens.<br />
As leis do Destino estavam escritas desde toda a eternidade<br />
num lugar em que os deuses podiam consultá-las.<br />
Seus ministros eram as três Parcas. Elas eram encarregadas<br />
de executar suas ordens.<br />
É representado tendo sob os pés o globo terrestre e carregando<br />
nas mãos a urna que encerra a sorte dos mortais.<br />
Também lhe é posta uma coroa encimada de estrelas e um<br />
cetro, símbolo de seu poder soberano. Para fazer entender<br />
que não variava, os antigos figuravam-no como uma roda<br />
presa por uma corrente. Em cima da roda, uma grande<br />
pedra e, embaixo, duas cornucópias com pontas de dardo.<br />
Em Homero, os destinos de Aquiles e de Heitor são<br />
pesados na balança de Júpiter e, como o do último pesa<br />
mais, sua morte é decidida e Apolo retira o apoio que lhe<br />
dera até então.<br />
Foram as decisões cegas do Destino que tornaram tantos<br />
mortais culpados, apesar de seu desejo de permanecerem<br />
virtuosos. Em Ésquilo, por exemplo, Agamêmnon, Clitemnestra,<br />
Jocasta, Édipo, Etéocles, Polinices etc. não podem<br />
furtar-se a seu destino.<br />
Só os oráculos podiam entrever e revelar o que estava<br />
escrito no livro do Destino.<br />
A Terra (em grego, Gaia)<br />
As Origens<br />
A Terra, mãe universal de todos os seres, nasceu imediatamente<br />
após o Caos. Ela desposou Urano, ou o Céu, foi<br />
mãe dos deuses e dos gigantes, dos bens e dos males, das<br />
virtudes e dos vícios. Os antigos também casaram-na com o<br />
Tártaro e o Ponto, ou Mar, que lhe fizeram procriar os<br />
monstros que todos os elementos encerram. A Terra é às<br />
vezes confundida com a Natureza. Tinha vários nomes: Titéia,<br />
Ops, Telus, Vesta e mesmo Cibele.<br />
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O homem, dizia-se, nascera da terra embebida de água<br />
e aquecida pelos raios do sol; assim, sua natureza faz parte<br />
de todos os elementos e, quando morre, sua venerável mãe<br />
sepulta-o e guarda-o em seu seio. Na mitologia, fala-se com<br />
freqüência dos filhos da Terra. Em geral, quando não se conhecia<br />
a origem de um homem ou de um povo célebre,<br />
chamavam-no filho da Terra.<br />
Por vezes a Terra é representada por uma figura de<br />
mulher sentada num rochedo. Os modernos alegorizam-na<br />
com os traços de uma venerável matrona, sentada num globo<br />
e que, coroada de torres, segura uma cornucópia cheia<br />
de frutas. Algumas vezes é coroada de flores e perto dela<br />
estão o boi que lavra, o carneiro que engorda e o leão, que<br />
também é visto perto de Cibele. Num quadro de Lebrun,<br />
ela é personificada por uma mulher que faz o leite jorrar de<br />
suas mamas, ao mesmo tempo que se desembaraça de seu<br />
manto, do qual sai uma revoada de pássaros que se espalha<br />
pelos ares.<br />
Telus<br />
Mitologia Grega e Romana<br />
Telus, deusa da terra, muitas vezes tomada pela própria<br />
Terra, é chamada pelos poetas de Mãe de todos os<br />
deuses. Ela representa o solo fértil e também o fundamento<br />
sobre o qual repousam os elementos que geram-se uns<br />
aos outros. Faziam-na mulher do Sol ou do Céu, porque é<br />
a ambos que deve sua fertilidade. Representavam-na como<br />
uma mulher corpulenta com muitas mamas. Como a Terra,<br />
costuma ser confundida com Cibele. Antes de Apolo tomar<br />
posse do oráculo de Delfos, era Telus que aí proferia seus<br />
oráculos. Ela própria os pronunciava; mas em tudo estava<br />
de parceria com Netuno. Na seqüência, Telus cedeu todos<br />
os seus direitos a Têmis e esta a Apolo.<br />
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Urano ou Caelus (em grego, Ouranos)<br />
Urano ou Caelus, o Céu, era filho de Éter e do Dia. Já<br />
segundo Hesíodo, Urano era filho de Éter e da Terra. Como<br />
quer que seja, casou-se com Titéia, isto é, sempre a Terra<br />
ou Vesta que, neste caso, deve ser distinguida da Vesta,<br />
deusa do fogo e da virgindade. Diz-se que Urano teve quarenta<br />
e cinco filhos de várias mulheres, entre outros dezoito<br />
de Titéia, sendo os principais Titã, Saturno e Oceano. Estes<br />
se revoltaram contra o pai e incapacitaram-no para ter filhos.<br />
Urano morreu ou de tristeza, ou da mutilação de que<br />
foi vítima.<br />
O que caracteriza as divindades das primeiras idades<br />
mitológicas é um brutal egoísmo, somado a uma implacável<br />
crueldade. Urano tomava aversão por todos os seus filhos.<br />
Desde o seu nascimento, ele os encerrava num abismo<br />
e não os deixava ver o dia. Foi este o motivo da revolta<br />
deles. Saturno, que sucedeu a seu pai Urano, mostrou a<br />
mesma crueldade que ele.<br />
Titéia<br />
As Origens<br />
Titéia, ou ainda a antiga Vesta, mulher de Urano, foi a<br />
mãe dos Titãs, nome que significa filho de Titéia ou da Terra.<br />
Além de Titã propriamente dito, Saturno e Oceano, ela teve<br />
por filhos Hipérion, Jápeto, Tia, Réia ou Cibele, Têmis, Mnemósine,<br />
Febe, Tétis, Brontes, Estérope, Argeu, Coto, Briareu,<br />
Giges. Também teve do Tártaro o gigante Tífon, que se distinguiu<br />
na guerra contra os deuses.<br />
Saturno (em grego, Cronos)<br />
Secundogênito de Urano e da antiga Vesta, ou do Céu<br />
e da Terra, Saturno, depois de haver destronado seu pai,<br />
obteve do irmão mais velho, Titã, o favor de reinar em seu<br />
lugar. Todavia, Titã impôs uma condição: que Saturno fizes-<br />
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Mitologia Grega e Romana<br />
se perecer toda a sua posteridade masculina para que a<br />
sucessão ao trono fosse reservada aos próprios filhos de<br />
Titã. Saturno casou-se com Réia, de quem teve vários filhos<br />
que devorou avidamente, assim como combinara com o<br />
irmão. Sabendo, aliás, que um dia também seria derrubado<br />
do trono por um de seus filhos, exigia de sua esposa que<br />
esta lhe entregasse os recém-nascidos. No entanto, Réia conseguiu<br />
salvar Júpiter. Este, ao crescer, guerreou contra o<br />
pai, venceu-o e, depois de tê-lo tratado como Urano havia<br />
sido tratado por seus filhos, expulsou-o do céu. Assim a dinastia<br />
de Saturno continuou, em detrimento da de Titã.<br />
Saturno teve de Réia três filhos, Júpiter, Netuno e Plutão,<br />
que a mãe conseguiu salvar com a mesma sagacidade,<br />
e uma filha, Juno, irmã gêmea e esposa de Júpiter. Alguns<br />
acrescentam Vesta, deusa do fogo, e Ceres, deusa das colheitas.<br />
Teve, além disso, um grande número de filhos de várias<br />
outras mulheres, como o centauro Quíron da ninfa Filira<br />
etc.<br />
Conta-se que Saturno, destronado por seu filho Júpiter<br />
e reduzido à condição de simples mortal, veio se refugiar<br />
na Itália, no Lácio, onde reuniu os homens ferozes disseminados<br />
nas montanhas e lhes deu leis. Seu reinado foi a<br />
idade de ouro, pois seus calmos súditos eram governados<br />
com doçura. A igualdade das condições foi restabelecida;<br />
nenhum homem estava a serviço de outro; ninguém possuía<br />
nada próprio; todas as coisas eram comuns, como se<br />
todos só tivessem recebido uma mesma herança. Era para<br />
recordar a lembrança dessa idade feliz que celebravam-se<br />
em Roma as Saturnais.<br />
Essas festas, cuja instituição remontava no passado<br />
bem além da fundação da cidade, consistiam sobretudo em<br />
representar a igualdade que reinava primitivamente entre<br />
os homens. Elas começavam no dia 16 de dezembro de<br />
cada ano. A princípio, duraram um só dia, mas o imperador<br />
Augusto ordenou que fossem celebradas durante três dias,<br />
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As Origens<br />
aos quais, mais tarde, Calígula acrescentou um quarto. Durante<br />
essas festas, suspendia-se o poder dos amos sobre<br />
seus escravos, e estes tinham o direito de falar e agir com<br />
toda a liberdade. Tudo então só respirava prazer e alegria.<br />
Os tribunais e as escolas ficavam de férias; não era permitido<br />
nem empreender guerra, nem executar um criminoso,<br />
nem exercer outra arte que a da culinária; trocavam-se presentes<br />
e ofereciam-se suntuosos banquetes. Além disso,<br />
todos os habitantes da cidade cessavam seus trabalhos. A<br />
população dirigia-se em massa ao monte Aventino, para aí<br />
respirar o ar do campo. Os escravos podiam criticar os defeitos<br />
de seus amos, jogar contra eles, e estes serviam-nos à<br />
mesa, sem contar os pratos e as iguarias.<br />
Em grego, Saturno é designado pelo nome de Cronos,<br />
isto é, o Tempo. A alegoria é transparente nesta fábula de<br />
Saturno. Esse deus que devora seus filhos, diz Cícero, não<br />
é mais que o próprio Tempo, o Tempo insaciável de anos,<br />
que consome todos os anos que passam. Para contê-lo,<br />
Júpiter acorrentou-o, isto é, submeteu-o ao curso dos astros,<br />
que são como suas peias.<br />
Os cartagineses ofereciam a Saturno sacrifícios humanos.<br />
Suas vítimas eram crianças recém-nascidas. Nesses sacrifícios,<br />
o som das flautas e dos tímpanos ou tambores<br />
fazia tamanho barulho que os gritos da criança imolada não<br />
podiam ser ouvidos.<br />
Em Roma, o templo que esse deus tinha na encosta do<br />
Capitólio foi depositário do tesouro público, porque na época<br />
de Saturno, isto é, durante a idade de ouro, não se cometia<br />
nenhum roubo. Sua estátua estava presa com correntes<br />
que só eram tiradas no mês de dezembro, época das<br />
Saturnais.<br />
Saturno era comumente representado como um ancião<br />
curvado sob o peso dos anos, com uma foice na mão para<br />
indicar que preside ao tempo. Em muitos monumentos, é<br />
representado com um véu, sem dúvida porque os tempos<br />
são obscuros e cobertos por um véu impenetrável.<br />
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Saturno com o globo na cabeça é considerado como o<br />
planeta deste nome. Uma gravura, dita etrusca, representa-o<br />
alado, com sua foice pousada num globo. É assim que ainda<br />
representamos o tempo.<br />
O dia de Saturno é aquele que chamamos de sábado<br />
(Saturni dies).<br />
Réia, ou Cibele<br />
Mitologia Grega e Romana<br />
Apesar de ser pai dos principais deuses – Júpiter, Netuno<br />
e Plutão –, Saturno não teve dos poetas o título de pai<br />
dos deuses, talvez por causa da crueldade que exerceu<br />
sobre seus filhos, ao passo que Réia, sua esposa, era chamada<br />
mãe dos deuses, a Grande Mãe, e era honrada sob esse<br />
nome.<br />
Os diferentes nomes pelos quais se designa a mãe de<br />
Júpiter exprimiam, sem dúvida, atributos diferentes da mesma<br />
pessoa. Na realidade, essa deusa, qualquer que seja o<br />
nome pelo qual a designem, é sempre a Terra, mãe comum<br />
de todos os seres. Réia, ou Cibele, era filha de Titéia e do Céu,<br />
irmã dos Titãs, mulher de Saturno.<br />
As fábulas de Réia e de Cibele se confundem. Nos poetas,<br />
há com freqüência até mesmo uma confusão entre essas<br />
duas deusas e a antiga Vesta, mulher de Urano. No entanto,<br />
é o nome de Cibele que, nas cerimônias do culto e<br />
nas crenças religiosas dos povos, parece ter sido o mais geralmente<br />
eleito. Eis o que se contava de Cibele.<br />
Filha do Céu e da Terra e, mais tarde, a própria Terra,<br />
Cibele, mulher de Saturno, era cognominada a Boa Deusa,<br />
a Mãe dos deuses, por ser mãe de Júpiter, Juno, Netuno,<br />
Plutão e da maioria dos deuses de primeira ordem. Logo<br />
depois do seu nascimento, sua mãe a expôs numa floresta,<br />
onde os animais selvagens cuidaram dela e alimentaramna.<br />
Apaixonou-se por Átis, jovem e belo frígio a quem confiou<br />
seu culto, contanto que ele não violasse seu voto de<br />
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As Origens<br />
Réia ou Cibele.<br />
castidade. Átis esqueceu sua promessa casando-se com a<br />
ninfa Sangárida, e Cibele puniu-o na pessoa de sua rival, a<br />
quem fez perecer. Átis sentiu então uma violenta tristeza.<br />
Num acesso de frenesi infortunado, mutilou-se; e estava a<br />
ponto de se enforcar, quando, tocada por uma compaixão<br />
tardia, Cibele transformou-o num pinheiro.<br />
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Mitologia Grega e Romana<br />
O culto de Cibele tornou-se célebre na Frígia, de onde<br />
foi levado a Creta. Foi introduzido em Roma na época da<br />
segunda guerra púnica. O simulacro da Boa Deusa, grande<br />
pedra conservada por muito tempo em Pessino, foi colocado<br />
no templo da Vitória, no monte Palatino. Ele se tornou<br />
uma das garantias da estabilidade do império, tendo sido<br />
instituída uma festa com combates simulados em honra a<br />
Cibele. Seus mistérios, tão licenciosos quanto os de Baco,<br />
eram celebrados com um ruído confuso de oboés e címbalos;<br />
os sacrificantes davam berros.<br />
Eram-lhe ofertados uma porca, por causa da sua fertilidade,<br />
um touro ou uma cabra, e os sacerdotes sacrificavam<br />
essas vítimas sentados, tocando a terra com a mão. O buxo<br />
e o pinho lhe eram consagrados, o primeiro porque era a<br />
madeira com que se faziam as flautas, instrumentos empregados<br />
em suas festas, e o segundo por causa do infeliz Átis,<br />
que ela havia amado apaixonadamente. Seus sacerdotes<br />
eram os Cabiros, os Coribantes, os Curetes, os Dáctilos do<br />
monte Ida, os Galos, os Semíviros e os Telquines, que eram<br />
todos, em geral, eunucos, em lembrança de Átis.<br />
Cibele era representada com os traços e o porte de uma<br />
mulher robusta. Ela usava uma coroa de carvalho, árvore<br />
que nutrira os primeiros homens. As torres que cingem a<br />
sua cabeça indicam as cidades que estão sob a sua proteção;<br />
e a chave que traz na mão designa os tesouros que o<br />
seio da terra encerra no inverno e que dá no verão. Cibele<br />
é levada num carro puxado por leões. Seu carro é o símbolo<br />
da terra que se equilibra e roda no espaço; os leões indicam<br />
que não há nada tão feroz que não seja domesticado<br />
pela ternura materna, ou então, que não há solo rebelde<br />
que não seja fecundado pela indústria. Suas roupas são<br />
matizadas, mas sobretudo verdes, alusão aos adereços da<br />
terra. O tambor perto dela representa o globo do mundo;<br />
os címbalos e os gestos violentos de seus sacerdotes indicam<br />
a atividade dos lavradores e o barulho dos instrumentos<br />
da agricultura.<br />
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Alguns poetas supuseram que Cibele era filha de Méon<br />
e Dindimene, o primeiro rei, a segunda rainha da Frígia. Seu<br />
pai, tendo percebido que ela amava Átis, mandou matar<br />
seu amante e suas mulheres e jogar seus corpos no lixo.<br />
Cibele ficou inconsolável.<br />
Ops<br />
As Origens<br />
Ops, a mesma que Cibele e Réia, ou ainda a Terra, é<br />
representada como uma venerável matrona que estende a<br />
mão direita para oferecer seu socorro e que, com a esquerda,<br />
dá pão ao pobre. Também era vista como a deusa das<br />
riquezas. Seu nome significa socorro, ajuda, assistência.<br />
Não há por que espantar-se com ver a Terra personificada<br />
com tanta freqüência sob denominações diferentes.<br />
Fonte inesgotável de riquezas, mãe fecunda de todos os<br />
bens, ela se oferecia à adoração dos povos sob aspectos diferentes,<br />
conforme o clima ou a região. Daí suas múltiplas<br />
lendas e seus incontáveis atributos.<br />
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