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Mirella Lopes da Rocha.pdf - Qualittas

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<strong>Mirella</strong> <strong>Lopes</strong> <strong>da</strong> <strong>Rocha</strong><br />

Hipoadrenocorticismo Primário Canino<br />

Rio de Janeiro<br />

2010


<strong>Mirella</strong> <strong>Lopes</strong> <strong>da</strong> <strong>Rocha</strong><br />

Hipoadrenocorticismo Primário Canino<br />

Rio de Janeiro<br />

2010<br />

Trabalho apresentado para o cumprimento<br />

de ativi<strong>da</strong>des referentes ao Módulo 05 do<br />

curso de Especialização Lato sensu em<br />

Clínica Médica e Cirúrgica em Pequenos<br />

Animais - UCB


Sumário<br />

1 Introdução................................................................................................... 01<br />

2 Revisão de Literatura.................................................................................. 01<br />

2.1 Histórico................................................................................................... 01<br />

2.2 Anatomia e Histologia.............................................................................. 01<br />

2.3 Fisiologia................................................................................................. 02<br />

2.3.1 Metabolismo dos esteróides adrenais.................................................. 03<br />

2.3.2 Regulação <strong>da</strong> síntese de glicocorticóides............................................ 03<br />

2.3.3 Regulação <strong>da</strong> síntese de mineralocorticóides...................................... 04<br />

2.4 Fisiopatologia........................................................................................... 04<br />

2.5 Diagnóstico............................................................................................... 05<br />

2.6 Tratamento............................................................................................... 08<br />

2.6.1 Fluidoterapia.......................................................................................... 08<br />

2.6.2 Correção <strong>da</strong> Hipercalemia e Acidose.................................................... 09<br />

2.6.3 Correção <strong>da</strong>s Alterações Eletrocardiográficas...................................... 09<br />

2.6.4 Correção do Desequilíbrio Eletrolítico................................................... 10<br />

2.7 Prognóstico.............................................................................................. 11<br />

3 Conclusão................................................................................................... 12<br />

4 Referências Bibliográficas........................................................................... 12


1 Introdução<br />

A doença conheci<strong>da</strong> por hipoadrenocorticismo ou doença de Addison tem sido referi<strong>da</strong><br />

como “the great pretender”, a grande falseadora, devido a sua característica de mimetizar<br />

outras doenças em cães além de representar um desafio diagnóstico. Ocorrendo naturalmente<br />

é uma doença pouco comum, sendo as fêmeas mais acometi<strong>da</strong>s. O hipoadrenocorticismo<br />

geralmente é resultado <strong>da</strong> destruição imunomedia<strong>da</strong> de to<strong>da</strong>s as cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> adrenocortical,<br />

causando deficiências de mineralocorticóides e de glicocorticóides. Um pequeno número de<br />

cães sofre apenas <strong>da</strong> deficiência de glicocorticóides. Cães acometidos pelo<br />

hipoadrenocorticismo podem apresentar uma varie<strong>da</strong>de de sinais clínicos, de leves a severos<br />

(KLEIN; PETERSON, 2010a). De uma maneira mais específica, a doença de Addison refere-se<br />

à insuficiência adrenal crônica primária, associa<strong>da</strong> à destruição de mais de 85% a 90% do<br />

córtex adrenal (JERICÓ, 2008).<br />

Embora seja mais diagnostica<strong>da</strong> em cães, felinos também podem ser acometidos pela<br />

doença de Addison. A suspeita <strong>da</strong> doença deve ser basea<strong>da</strong> nos sinais clínicos, histórico,<br />

exame físico e achados laboratoriais, e o diagnóstico definitivo deve ser alcançado mediante<br />

testes endócrinos. O prognóstico é excelente, uma vez que a crise adrenal seja controla<strong>da</strong><br />

(GRECO, 2007).<br />

2 Revisão de Literatura<br />

2.1 Histórico<br />

Os primeiros casos humanos de hipoadrenoscorticismo foram descritos em 1855 por<br />

Thomas Addison, e, por isso, esta moléstia frequentemente é identifica<strong>da</strong> como doença de<br />

“Addison”. Aproxima<strong>da</strong>mente na mesma época, experimentos em animais verificaram que a<br />

remoção <strong>da</strong>s glândulas adrenais levava rapi<strong>da</strong>mente à morte. Somente nos anos 30<br />

demonstrou-se que extratos aquosos brutos de glândulas adrenais evitavam a morte em gatos<br />

adrenalectomizados. Alguns anos depois, fontes de glicocorticóides e de mineralocorticóides<br />

foram comercializa<strong>da</strong>s, conseguindo-se manter a sobrevivência dos indivíduos com hipofunção<br />

<strong>da</strong> glândula adrenal (HARDY, 1997).<br />

2.2 Anatomia e Histologia<br />

Em mamíferos, as glândulas adrenais são estruturas bilaterais localiza<strong>da</strong>s<br />

craniomedialmente aos rins. A adrenal é, de fato, constituí<strong>da</strong> de duas glândulas de origens<br />

embrionárias diferentes. O centro <strong>da</strong> glândula, a medular, é composto por células cromafins de<br />

origem neuroectodermal que secretam catecolaminas, tais como adrenalina e noradrenalina. A<br />

periferia <strong>da</strong> adrenal, o córtex, é de origem mesodérmica e pode ser dividi<strong>da</strong> histologicamente<br />

em três zonas: zona glomerulosa, zona fascicula<strong>da</strong> e zona reticular. As células <strong>da</strong> zona<br />

glomerulosa estão distribuí<strong>da</strong>s em grupos ovóides inseridos no tecido conjuntivo <strong>da</strong> cápsula. A<br />

zona fascicula<strong>da</strong> constitui a maior parte <strong>da</strong> adrenal (60%) e aparece histologicamente como<br />

1


linhas radiais. A cama<strong>da</strong> mais interna, a zona reticular compreende uma rede de cordões de<br />

células que circun<strong>da</strong>m capilares e vênulas (MEIJ; MOL, 2008).<br />

Quando as células estão inativas, aparecem vacuola<strong>da</strong>s e esponjosas devido à presença<br />

de lipídeos em seu interior, especialmente colesterol. Quando há ativi<strong>da</strong>de secretória, ocorre<br />

depleção de lipídeos, colesterol e ácido ascórbico, e as células aparecem compactas<br />

(GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

2.3 Fisiologia<br />

A secreção do córtex <strong>da</strong> adrenal de mamíferos compreende três principais categorias de<br />

hormônios. A zona glomerulosa produz mineralocorticóides (aldosterona e<br />

deoxicorticosterona), que mantém o equilíbrio hidroeletrolítico. As células <strong>da</strong> zona fascicula<strong>da</strong><br />

secretam glicocoticóides (cortisol e corticosterona), que são primariamente envolvidos no<br />

metabolismo dos carboidratos. A terceira categoria de hormônios adrenocorticais, os<br />

andrógenos, são produzidos na zona reticular. Esta zona, em menor grau, também secreta<br />

glicocorticóides e outros hormônios tais como progesterona e estrógenos (MEIJ; MOL, 2008).<br />

É esta a fonte de esteróides sexuais nos animais castrados. Em animais sadios, a quanti<strong>da</strong>de<br />

de andrógenos adrenais é ínfima em comparação aos produzidos pelas gôna<strong>da</strong>s. Os<br />

andrógenos adrenais são a deidroepiandrosterona (DHEA) e a androstenediona, os quais<br />

causam retenção de nitrogênio (efeito anabólico protéico), fósforo, potássio, sódio e cloro. Nas<br />

fêmeas, as células <strong>da</strong> zona reticular são a única fonte de andrógenos. Em neoplasias ou<br />

hiperplasias adrenocorticais, é observa<strong>da</strong> virilização, com excreção de grandes quanti<strong>da</strong>des de<br />

andrógenos na urina (GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

Os hormônios <strong>da</strong> região medular <strong>da</strong> adrenal são catecolaminas e têm efeito nervoso<br />

simpático e sobre o metabolismo do glicogênio e dos lipídeos (GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

Há dois tipos de receptores para corticosteróides no citoplasma <strong>da</strong>s células alvo: um que é<br />

especifico para glicocorticóides e outro que é especifico para mineralocortióides. Dentre as<br />

enzimas induzi<strong>da</strong>s por glicocorticóides têm-se as enzimas <strong>da</strong> gliconeogênese e enzimas do<br />

metabolismo dos aminoácidos como as transaminases. O efeito global dos glicocorticóides no<br />

metabolismo é de fornecer glicose ao organismo através <strong>da</strong> transformação de proteínas. Isto<br />

ocorre via indução <strong>da</strong>s enzimas <strong>da</strong> gliconeogênese no fígado e inibição <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> glicose<br />

periférica e estímulo do armazenamento de glicogênio, por estimular a enzima glicogênio<br />

sintetase. Dessa forma, os glicocorticóides desviam o metabolismo de uma fase de produção e<br />

armazenamento, para um aumento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de física e consumo de energia, considerando<br />

que o excesso crônico leva a efeitos catabólicos como enfraquecimento muscular, atrofia <strong>da</strong><br />

pele, e osteoporose. Os glicocorticóides diminuem a sensibili<strong>da</strong>de à insulina, causando uma<br />

tendência à hiperglicemia, e facilita a lipólise no tecido adiposo por facilitar a ação dos<br />

hormônios ativadores <strong>da</strong> lipase (glucagon, adrenalina, hormônio do crescimento). O cortisol<br />

causa aumento do nitrogênio urinário, o que revela um aumento do catabolismo protéico. O<br />

nível sérico dos aminoácidos se eleva e sua degra<strong>da</strong>ção aumenta, levando a maiores<br />

2


concentrações plasmáticas de uréia. Eles também podem atuar em receptores de membrana<br />

nos tecidos linfóides para exercer seus efeitos imunossupressores além de ter efeito redutor<br />

sobre o número de linfócitos e eosinófilos, bem como efeito inibidor sobre a cicatrização e o<br />

crescimento. Dentre os glicocorticóides de ocorrência natural (cortisol, cortisona e<br />

corticosterona), o cortisol é o mais potente. Porém, vários análogos sintéticos do cortisol são<br />

mais potentes que o próprio (GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

Os glicocorticóides têm funções tais como: glicogênica, catabólica, estimulam a<br />

eritropoiese e reduzem a absorção de cálcio. Os seus efeitos em nível vascular são na<br />

manutenção <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de dos vasos e na preservação <strong>da</strong> resposta vascular a<br />

vasoconstritores. A aldosterona age sobre os níveis de sódio e potássio e na manutenção do<br />

líquido extracelular (CASAMIAN, 2009).<br />

2.3.1 Metabolismo dos Esteróides Adrenais<br />

Os esteróides são lipídeos com quatro anéis de hidrocarbonetos unidos entre si. Deste<br />

grupo fazem parte colesterol, sais biliares, hormônios sexuais e hormônios liberados do córtex<br />

<strong>da</strong> adrenal. Dentre eles, o colesterol é o precursor essencial, pois to<strong>da</strong>s as outras moléculas de<br />

esteróides podem ser fabrica<strong>da</strong>s a partir deste composto, que é derivado de produtos animais<br />

tais como gema de ovo, carne e queijo, além de ser sintetizado pelo fígado (BASSERT, 2010).<br />

Os esteróides adrenocorticais são secretados à medi<strong>da</strong> que são produzidos, isto é, o<br />

estímulo por ACTH para a síntese é também para secreção. Eles são transportados no sangue<br />

pela globulina transportadora de corticóides (CBG), também conheci<strong>da</strong> por transcortina. Pelo<br />

menos 20% do cortisol é transportado pela albumina. A forma livre do cortisol,<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 10%, é a forma biologicamente ativa. A avidez com que o corticóide se une à<br />

proteína transportadora é proporcional à meia-vi<strong>da</strong> do hormônio. Assim, o cortisol, que se une<br />

fortemente a ela, tem uma meia-vi<strong>da</strong> de 1,5 a 2 horas, enquanto a corticosterona, que se une<br />

fracamente, tem uma meia-vi<strong>da</strong> de menos de uma hora. A aldosterona, que se une fracamente<br />

à albumina, tem uma meia-vi<strong>da</strong> de 15 minutos. A degra<strong>da</strong>ção metabólica dos corticóides ocorre<br />

no fígado e, em menor grau nos rins, enquanto que a excreção acontece através dos rins<br />

(75%) e dos intestinos (25%) (GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

2.3.2 Regulação <strong>da</strong> Síntese de Glicocorticóides<br />

A síntese dos glicocorticóides é estimula<strong>da</strong> pelo ACTH hipofisário, o qual, por sua vez, está<br />

regulado pelo CRH hipotalâmico, estando os dois relacionados por regulação de feedback<br />

negativo com os glicocorticóides. A liberação de CRH é em ritmo circadiano, o qual é afetado<br />

pela duração de horas-luz, pelo ciclo de alimentação, pelas horas de sono e pelo estresse. Na<br />

maioria <strong>da</strong>s espécies, a produção de glicocorticóides é maior de manhã e menor à tarde e à<br />

noite, tornando a elevar-se durante o sono. Nas espécies noturnas, o padrão de secreção é o<br />

inverso. O cão e o gato não apresentam elevação matinal de glicocorticóides. No humano, a<br />

maior parte dos picos secretórios ocorre entre a meia-noite e o início <strong>da</strong> manhã. Ocorre a<br />

3


ativação dos centros hipotalâmicos por estresse inespecífico, como temperatura ambiente<br />

extrema, febre, hipoglicemia, inflamação, jejum, dor, trauma, medo, levando a um aumento na<br />

produção e liberação de ACTH e conseqüente aumenta<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de adrenocortical,<br />

principalmente <strong>da</strong> zona fascicula<strong>da</strong>. Além disso, o ACTH também tem algum efeito sobre a<br />

produção de aldosterona, especialmente sobre situações de estresse e também estimula a<br />

lipólise no tecido adiposo (GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

O mecanismo de ação do ACTH dá-se através de receptores de membrana estimulando a<br />

adenilciclase, a qual provoca um aumento tanto nos níveis de cAMP quanto de cGMP. O cAMP<br />

ativa uma proteína-quinase que, por sua vez, ativa a enzima colesterol esterase, a qual atua<br />

sobre ésteres de colesterol para transformar em colesterol livre. O cGMP também ativa<br />

proteínas-quinases, as quais estimulam as enzimas <strong>da</strong> esteroidogênese. Quando o ACTH atua<br />

sobre as células do córtex adrenal, observa-se uma depleção de colesterol e de ácido<br />

ascórbico (GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

2.3.3 Regulação <strong>da</strong> Síntese de Mineralocorticóides<br />

Os reguladores primários <strong>da</strong> síntese de aldosterona são o sistema renina angiotensina e<br />

os níveis séricos de potássio. Também estão envolvidos os níveis de sódio, o ACTH e<br />

mecanismos neuronais. São necessários níveis elevados de ACTH, como no caso do estresse,<br />

para induzir a liberação de aldosterona. O estímulo aferente é provavelmente uma diminuição<br />

no fluxo renal (hipovolemia, desidratação, hemorragia, falha cardíaca) ou uma que<strong>da</strong> nos níveis<br />

plasmáticos de sódio; esse estímulo resulta na liberação de renina nas células<br />

justaglomerulares do rim. O sistema renina angiotensina está relacionado com o controle <strong>da</strong><br />

pressão sanguínea e com o metabolismo dos eletrólitos (GONZÁLEZ; SILVA, 2006).<br />

2.4 Fisiopatologia<br />

A hipofunção adrenocortical inclui to<strong>da</strong>s as condições em que existe falha na secreção de<br />

hormônios esteróides adrenais e pode ser dividi<strong>da</strong> em duas categorias: primária e secundária.<br />

(MEIJ; MOL, 2008).<br />

O hipoadrenocorticismo primário ou doença de Addisson é resultado <strong>da</strong> deficiência na<br />

secreção de mineralocorticóides e de glicocorticóides pelo córtex <strong>da</strong> adrenal, sendo a causa<br />

mais comum desta deficiência a destruição imunomedia<strong>da</strong> <strong>da</strong>s três cama<strong>da</strong>s do córtex <strong>da</strong><br />

adrenal. Outras causas menos comuns de insuficiência adrenocortical são: destruição<br />

adrenocortical e infiltração por doença granulomatosa, amiloidose, ou neoplasia tal como<br />

linfoma ou metástase de outras doenças neoplásicas; hemorragia por trauma, coagulopatia, ou<br />

desordem plaquetária; infarto; e causas iatrogênicas. Entre as causas iatrogênicas incluem:<br />

interrupção brusca de terapia com glicocorticóides, remoção cirúrgica <strong>da</strong>s glândulas adrenais, e<br />

destruição <strong>da</strong> adrenal secundária à administração de droga adrenocorticolítica usa<strong>da</strong> no<br />

tratamento de hiperadrenocorticismo, tais como mitotano e trilostano (MEEKING, 2007)<br />

4


O hipoadrenocorticismo secundário é conseqüência <strong>da</strong> deficiência de produção ou<br />

liberação de hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) pela hipófise, causando decréscimo na<br />

secreção de glicocorticóides. Esta rara condição pode ser gera<strong>da</strong> por anormali<strong>da</strong>des no<br />

hipotálamo ou na pituitária desencadeando diminuição de CRH ou de ACTH, respectivamente<br />

são mais comumente neoplásicas, mas também podem ser traumáticas ou inflamatórias. Elas<br />

causam atrofia do córtex <strong>da</strong> adrenal e decréscimo na secreção de glicocorticóides. A zona<br />

glomerulosa pode ser poupa<strong>da</strong> em uma insuficiência adrenocortical secundária, causando<br />

apenas a insuficiência de glicocorticóides. A administração de glicocorticóide suprime o eixo<br />

hipotálamo-pituitária conduzindo a um decréscimo na liberação de ACTH e atrofia <strong>da</strong>s duas<br />

zonas mais internas do córtex <strong>da</strong> adrenal devido à per<strong>da</strong> de estimulação por ACTH endógeno.<br />

Esta síndrome tem sido observa<strong>da</strong> em associação a administração de esteróides via oral ou<br />

injetável, além <strong>da</strong> utilização de formulações tópicas de uso dermatológico, ótico ou oftálmico<br />

(MEEKING, 2007).<br />

O hipoadrenocorticismo atípico é uma variante do hipoadrenocorticismo causado por<br />

deficiência de glicocorticóide sem deficiência de mineralocorticóide. Além disso, a maioria dos<br />

animais diagnosticados com hipoadrenocorticismo atípico desenvolve também deficiência de<br />

mineralocorticóide e anormali<strong>da</strong>des eletrolíticas associa<strong>da</strong>s (MEEKING, 2007). Por causa <strong>da</strong><br />

quase inaltera<strong>da</strong> secreção de aldosterona a doença é pouco percebi<strong>da</strong>. É observa<strong>da</strong><br />

ocasionalmente em cães com insuficiência de hipófise como resultado de lesões císticas ou por<br />

uma hipofunção compressiva causa<strong>da</strong> por macroadenoma de hipófise (MEIJ; MOL, 2008).<br />

Os efeitos do hipoadrenocorticismo em nível cardiovascular estão relacionados com a<br />

que<strong>da</strong> do volume intravascular e com um consequente decréscimo no débito cardíaco<br />

associado a um decréscimo na freqüência cardíaca (CASAMIAN, 2009).<br />

2.5 Diagnóstico<br />

O hipoadrenocorticismo é uma doença típica de cadelas jovens à meia-i<strong>da</strong>de, mas pode<br />

ocorrer também em cães idosos; não há predileção racial significativa e é uma doença rara em<br />

felinos (NELSON; COUTO, 2006).<br />

Os sinais clínicos e achados do exame físico nos animais com hipoadrenocorticismo<br />

resultam <strong>da</strong> deficiência na secreção de mineralocorticóide ou de glicocorticóide, ou de ambos.<br />

As manifestações clínicas mais comuns estão relaciona<strong>da</strong>s às alterações no trato<br />

gastrointestinal e no estado mental, e incluem letargia, fraqueza, anorexia, vômitos e per<strong>da</strong> de<br />

peso. Os achados do exame físico podem incluir desidratação, bradicardia, pulsos femorais<br />

fracos e dor abdominal. São sinais clínicos em geral vagos e facilmente atribuídos a distúrbios<br />

do trato gastrointestinal e urinário. Deve-se suspeitar de hipercalemia e hipoadrenocorticismo<br />

em um animal com bradicardia e sinais de hipovolemia, embora os cães com<br />

hipoadrenocorticismo possam apresentar freqüências cardíacas normais. A poliúria e a<br />

polidpsia raramente são sinais de apresentação, mas podem surgir durante a abor<strong>da</strong>gem do<br />

histórico completo. Os proprietários podem descrever uma doença com curso episódico ou<br />

5


caracterizado por fases de melhora e de piora. A maioria dos cães com hipoadrenocorticismo é<br />

atendi<strong>da</strong> devido aos problemas progressivos, que variam na gravi<strong>da</strong>de, dependendo do grau<br />

de estresse e reserva adrenocortical. Se a hiponatremia e hipercalemia tornarem-se graves, a<br />

hipovolemia, a azotemia pré-renal e as arritmias cardíacas resultantes podem desencadear a<br />

crise adissoniana. Nos casos graves, o animal pode apresentar-se em choque hipovolêmico. A<br />

crise adissoniana deve ser diferencia<strong>da</strong> de outros distúrbios que ameaçam a vi<strong>da</strong>, como<br />

cetoacidose diabética, pancreatite necrosante e peritonite séptica (NELSON; COUTO, 2006).<br />

Na presença de sinais clínicos compatíveis, a suspeita de hipoadrenocorticismo aumenta<br />

na presença de alterações no hemograma, no perfil bioquímico e na urinálise. Pode-se<br />

encontrar anemia normocítica normocrômica (arregenerativa) e eosinofilia, neutrofilia ou<br />

linfocitose. O hematócrito também pode estar elevado em virtude <strong>da</strong> desidratação. O perfil<br />

bioquímico pode revelar hiponatremia, hipocloremia, hipercalemia, hipercalcemia e<br />

hiperfosfatemia. Estas alterações ocorrem devido à deficiência de aldosterona juntamente com<br />

uma falência renal em reter sódio. Este quadro é acompanhado por intensa per<strong>da</strong> de líquido,<br />

passagem de íons K⁺ para o compartimento extracelular, azotemia pré-renal, devido à que<strong>da</strong><br />

de perfusão renal e hipovolemia. Uma leve a modera<strong>da</strong> acidose metabólica pode ocorrer em<br />

decorrência <strong>da</strong> falta de aldosterona que dificulta a secreção renal tubular de íons hidrogênio.<br />

Outra anormali<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> na bioquímica sérica que pode ocorrer em cães com<br />

hipoadrenocorticismo inclui hipoalbuminemia, hipocolesterolemia, hipoglicemia e aumento <strong>da</strong>s<br />

enzimas hepáticas. Na urinálise geralmente observa-se densi<strong>da</strong>de específica menor que 1.030<br />

devido à per<strong>da</strong> no gradiente de concentração medular normal, o que dificulta a reabsorção de<br />

água pelos túbulos coletores. Por isso, pode se encontrar dificul<strong>da</strong>des em se diferenciar cães<br />

com hipoadrenocorticismo de cães com falência renal primária (SCOTT-MONCRIEFF, 2007).<br />

No hipoadrenocorticismo a relação Na:K é frequentemente menor que 1:20 e este às vezes<br />

é um <strong>da</strong>do útil no diagnóstico e tratamento emergencial. No entanto, a confiança somente na<br />

mensuração dos eletrólitos para o diagnóstico do hipoadrenocorticismo pode ser um engano<br />

porque existem muitas outras causas de desequilíbrio eletrolítico, por exemplo, gastrite severa.<br />

Além disso, concentrações eletrolíticas e a relação Na:K podem estar normais tanto no<br />

hipoadrenocorticismo primário quanto no secundário (SCOTT-MONCRIEFF, 2007).<br />

O eletrocardiograma apresenta alterações associa<strong>da</strong>s à hipercalemia. Pode ser observa<strong>da</strong><br />

bradicardia, picos de on<strong>da</strong>s T, on<strong>da</strong>s P de baixa amplitude, largas ou ausentes, segmentos PR<br />

e QRS prolongados e baixa amplitude de complexos QRS que podem progredir para para<strong>da</strong><br />

atrial ou, em casos muito severos, taquicardia ventricular (de origem desconheci<strong>da</strong>) ou<br />

fibrilação ventricular. Embora seja relatado declínio <strong>da</strong> função cardíaca no<br />

hipoadrenocorticismo e casos de falência cardíaca (como ocorre raramente em humanos),<br />

certamente, são condições extremamente raras (CASAMIAN, 2009).<br />

Outros meios de diagnósticos auxiliares que podem fornecer elementos comprobatórios do<br />

hipoadrenocorticismo incluem a radiografia torácica e a ultrassonografia abdominal. A<br />

6


adiografia torácica tende a mostrar uma redução do tamanho <strong>da</strong> silhueta cardíaca, além <strong>da</strong><br />

proeminência <strong>da</strong> vasculatura pulmonar e do diâmetro <strong>da</strong> veia cava cau<strong>da</strong>l. Apesar de esses<br />

sintomas estarem sempre presentes nos cães com hipoadrenocorticismo, as mu<strong>da</strong>nças são<br />

apenas reflexos <strong>da</strong> hipovolemia. Além disso, quando presente o megaesôfago ocasionalmente<br />

associado com o hipoadrenocorticismo pode ser visto na radiografia torácica. A<br />

ultrassonografia de ambas as glândulas adrenais também pode facilitar o diagnóstico do<br />

hipoadrenocorticismo primário. É possível que as mãos de um hábil profissional com<br />

equipamento adequado possa observar uma leve redução no tamanho de ambas as adrenais<br />

(CHURCH, 2009).<br />

O teste padrão para diagnóstico do hipoadrenocorticismo é conhecido por teste de<br />

estimulação com hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e testa a habili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> zona fasciculata<br />

e <strong>da</strong> zona reticular em produzir cortisol em resposta a um estímulo máximo. Cães com<br />

hipoadrenocorticismo não possuem reservas adequa<strong>da</strong>s para resposta efetiva. Em todos os<br />

testes com estimulação por ACTH, uma base de referência com amostra de soro ou plasma é<br />

obti<strong>da</strong> antes <strong>da</strong> administração de ACTH. Uma segun<strong>da</strong> amostra sanguínea é colhi<strong>da</strong> uma ou<br />

duas horas depois, dependendo do tipo de ACTH utilizado. Os níveis de cortisol são medidos<br />

em ambas as amostras. Existem vários tipos de ACTH, incluindo ACTH sintético, preparações<br />

de gel corticotrópico de extrato de pituitária suíno purificado, e formulações em gel compostas.<br />

Extratos de ACTH purificados incluem 39 moléculas inteiras de aminoácidos, enquanto que, o<br />

ACTH sintético contém de uma a vinte e quatro porções ativas de aminoácidos (HILL; SCOTT-<br />

MONCRIEFF; MOORE, 2004).<br />

Os níveis de cortisol no plasma ou soro canino são medidos em laboratórios comerciais<br />

através de alguns ensaios, incluindo radioimunoensaio (RIA) e imunoensaio<br />

quimioluminescente competitivo. Ca<strong>da</strong> laboratório deve estabelecer seus próprios valores de<br />

referência, os quais variam ligeiramente entre os laboratórios, mas o nível de cortisol pré-ACTH<br />

normal está entre 13,8 e 137,9 nmol/L; a concentração normal de cortisol pós ACTH está entre<br />

151,75 e 469 nmol/L. A maioria dos cães com hipoadrenocorticismo mostram uma base de<br />

referência dos níveis de cortisol menor que 55,2 nmol/L (LENNON et al., 2007).<br />

Embora o teste de estimulação com ACTH seja o teste “padrão-ouro” para confirmar o<br />

diagnóstico de hipoadrenocorticismo, ele não diferencia os animais com doença de ocorrência<br />

natural primária <strong>da</strong>queles com insuficiência adrenal crônica secundária, como resultado de<br />

disfunção hipofisária crônica ou <strong>da</strong> descontinuação recente <strong>da</strong> administração de glicocorticóide<br />

(CHURCH, 2009).<br />

Estimar a concentração plasmática do ACTH é o meio mais confiável de diferenciação do<br />

hipoadrenocorticismo primário do secundário. Os cães e gatos com hipoadrenocorticismo<br />

primário tem eleva<strong>da</strong> concentração plasmática de ACTH (geralmente maior que 200 pmol/L),<br />

enquanto que os pacientes com hipoadrenocorticismo secundário apresentam valores abaixo<br />

do normal ou indetectáveis (geralmente menor que 5 pmol/L). As amostras necessitam cui<strong>da</strong>do<br />

7


especial, pois o ACTH pode ser facilmente modificado pela proteólise e/ou hemólise após a<br />

coleta. Consequentemente, o veterinário deve ter certeza de que a amostra chegou ao<br />

laboratório de maneira apropria<strong>da</strong> e de que a análise do ACTH foi vali<strong>da</strong><strong>da</strong> especificamente<br />

para a utilização em cães. As concentrações de ACTH endógeno são rápi<strong>da</strong> e drasticamente<br />

suprimi<strong>da</strong>s por qualquer glicocorticóide exógeno. Consequentemente, a determinação de<br />

ACTH endógeno só deverá ser realiza<strong>da</strong> em amostras colhi<strong>da</strong>s antes <strong>da</strong> suplementação com<br />

glicocorticóide (CHURCH, 2009).<br />

A estimativa <strong>da</strong>s concentrações plasmáticas de aldosterona antes e depois <strong>da</strong><br />

administração de ACTH é teoricamente útil na diferenciação do hipoadrenocorticismo atípico<br />

primário e secundário. Embora os testes para determinar a aldosterona não estejam<br />

amplamente disponíveis, eles não são espécie-específicos. Ensaios mais utilizados para<br />

humanos podem ser a<strong>da</strong>ptados para utilização em cães. Os valores absolutos variarão entre<br />

os laboratórios, mas geralmente os valores basais variam entre 5,5 e 265,9 pmol/L, com pós-<br />

ACTH entre 404,4 pmol/L e 1.437,6 pmol/L em cães saudáveis. Cães com<br />

hipoadrenocorticismo primário apresentam concentrações reduzi<strong>da</strong>s de cortisol e aldosterona<br />

antes e depois <strong>da</strong> administração de ACTH. Por outro lado, aqueles com hipoadrenocorticismo<br />

secundário apresentam concentrações relativamente normais de aldosterona. Os cães com<br />

hipoadrenocorticismo primário atípico também apresentam uma resposta indistinguível<br />

<strong>da</strong>queles pacientes com hipoadrenocorticismo secundário. Em contraparti<strong>da</strong>, cães com<br />

concentrações de eletrólitos normais em função de tratamento anterior mostrarão uma resposta<br />

semelhante àquela de cães com hipoadrenocorticismo primário, além de óbvia deficiência<br />

mineralocorticóide (CHURCH, 2009).<br />

2.6 Tratamento<br />

A manifestação clínica predominante <strong>da</strong> crise hipoadrenal agu<strong>da</strong> é o choque, e a terapia<br />

deve estar direciona<strong>da</strong> para a resolução dos fatores que contribuem para o seu<br />

desenvolvimento. O tratamento deve incluir restauração do volume intravascular e<br />

estabelecimento <strong>da</strong> perfusão tecidual normal, identificação e tratamento <strong>da</strong>s arritmias<br />

associa<strong>da</strong>s à hipercalemia, detecção de outros desequilíbrios eletrolíticos, correção <strong>da</strong><br />

hipoglicemia e administração de glicocorticóides (BOYSEN, 2008).<br />

2.6.1 Fluidoterapia<br />

O sucesso na fluidoterapia geralmente é fator decisivo para determinar a sobrevivência do<br />

paciente que apresenta hipoadrenocorticismo agudo. A administração intravenosa rápi<strong>da</strong> de<br />

fluidos deve ser inicia<strong>da</strong> no momento de identificação do choque, não se devendo esperar que<br />

um diagnóstico definitivo seja confirmado. A fluidoterapia agressiva restaura o volume<br />

sanguíneo e melhora a perfusão renal, diminui a concentração sérica de potássio pela diluição<br />

e promoção <strong>da</strong> excreção renal de potássio. Na ausência de doença cardíaca ou de<br />

insuficiência renal agu<strong>da</strong>, é recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> a administração de um quarto a um terço <strong>da</strong> dose<br />

8


calcula<strong>da</strong> para o tratamento do choque (20-30 mL/Kg usando cristalóides isotônicos) em bolus<br />

(durante aproxima<strong>da</strong>mente 10 minutos) enquanto se monitora parâmetros vitais (freqüência<br />

cardíaca, tempo de preenchimento capilar, pressão sanguínea, concentração sérica de lactato,<br />

débito urinário, pressão venosa central). Se os parâmetros vitais do paciente permanecerem<br />

estáveis, 20 a 30 mL/Kg de solução cristalóide isotônica deve ser administra<strong>da</strong>, em bolus até<br />

que a estabili<strong>da</strong>de hemodinâmica seja alcança<strong>da</strong>. Idealmente a ressuscitação deve ser<br />

alcança<strong>da</strong> em 30 minutos <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> do paciente no hospital. Se existir hemorragia<br />

gastrointestinal (identifica<strong>da</strong> em aproxima<strong>da</strong>mente 15% dos cães com hipoadrenocorticismo),<br />

uma transfusão sanguínea deve ser realiza<strong>da</strong> dependendo do hematócrito e <strong>da</strong> resposta inicial<br />

à fluidoterapia. Solução fisiológica tem sido recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> como fluido de escolha para<br />

reposição de volume em pacientes com hipoadrenocorticismo por causa <strong>da</strong> ausência de<br />

potássio e alta concentração de sódio comparado com outros fluidos de reposição. A<br />

desmielinização osmótica tem sido relata<strong>da</strong> em cães hiponatrêmicos após fluidoterapia com<br />

NaCl 0,9%, embora fluidos isotônicos com concentrações de sódio menores possam ser<br />

alternativas racionais no manejo inicial destes pacientes. Por causa <strong>da</strong> hipercalemia ser a<br />

desordem eletrolítica mais ameaçadora, recomen<strong>da</strong>-se a administração de NaCl 0,9% durante<br />

a primeira hora de tratamento do choque e depois substituir por fluido isotônico alternativo<br />

depois de reavaliação <strong>da</strong>s concentrações eletrolíticas do paciente (BOYSEN, 2008).<br />

2.6.2 Correção <strong>da</strong> Hipercalemia e Acidose<br />

O tratamento <strong>da</strong> hipercalemia geralmente se inicia com a fluidoterapia, que diminui as<br />

concentrações séricas de potássio por diluição e por aumento <strong>da</strong> taxa de filtração glomerular.<br />

Além disso, a rápi<strong>da</strong> restauração <strong>da</strong> volemia aju<strong>da</strong> a corrigir a acidose resultante <strong>da</strong> passagem<br />

de potássio para o interior <strong>da</strong>s células, diminuindo a concentração de potássio e elevando o pH<br />

sanguíneo (BOYSEN, 2008).<br />

A acidose associa<strong>da</strong> com a crise adrenal agu<strong>da</strong> é mais resultado de hipoperfusão, com<br />

acidose láctica resultante e decréscimo <strong>da</strong> perfusão renal, do que uma conseqüência dos<br />

efeitos <strong>da</strong> deficiência de aldosterona na excreção de hidrogênio pelos rins. Além disso, a<br />

acidose tende à correção no momento <strong>da</strong> restauração de fluidos e raramente requer tratamento<br />

com bicarbonato de sódio (BOYSEN, 2008).<br />

2.6.3 Correção <strong>da</strong>s Alterações Eletrocardiográficas<br />

A decisão de instituir tratamento de urgência para a hipercalemia deve ser toma<strong>da</strong> uma vez<br />

reconheci<strong>da</strong> eletrocardiograficamente uma situação de cardiotoxici<strong>da</strong>de que ocorre<br />

normalmente quando a concentração de potássio se eleva acima de 7 mEq/L. A toma<strong>da</strong> de<br />

decisão para o tratamento <strong>da</strong> hipercalemia, portanto, deve-se basear na severi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

alterações observa<strong>da</strong>s no eletrocardiograma (ECG) e não no valor <strong>da</strong> concentração deste íon<br />

(MEEKING, 2007).<br />

9


A hipercalemia modera<strong>da</strong> poderá ser trata<strong>da</strong> através <strong>da</strong> administração de fluidos de forma<br />

a diluir o potássio no sangue , além <strong>da</strong> administração de insulina e de dextrose. A insulina, na<br />

dose de 0,25 UI/Kg estimula a entra<strong>da</strong> de potássio nas células, iniciando-se este efeito em<br />

torno de 15 minutos após sua administração e prolongando-se durante 6 horas. Paralelamente,<br />

a dextrose deve ser administra<strong>da</strong> na dose de 2 gramas por uni<strong>da</strong>de de insulina (25% num<br />

bolus inicial e 75% em infusão contínua durante pelo menos 6 horas) de forma a contrariar os<br />

efeitos hipoglicemiantes do hormônio (MEEKING, 2007).<br />

Quando existe toxici<strong>da</strong>de severa associa<strong>da</strong> à hipercalemia mesmo após a fluidoterapia,<br />

deve-se associar a administração endovenosa de gluconato de cálcio a 10% (0,5 a 1,5 mL/Kg<br />

durante 2 horas). O gluconato de cálcio tem efeito contrariando temporariamente (cerca de 30<br />

a 60 minutos) os efeitos <strong>da</strong> hipercalemia no tecido de condução cardíaca, funcionando assim<br />

como um cardioprotetor, não tendo assim nenhum efeito nos níveis de potássio. Além disso,<br />

um bom monitoramento é necessário, uma vez que um excesso de cálcio também pode<br />

provocar alterações cardíacas severas (MEEKING, 2007).<br />

2.6.4 Correção do Desequilíbrio Eletrolítico<br />

Após a correção <strong>da</strong> hipovolemia grave através de fluidoterapia, os glicocorticóides devem<br />

ser administrados. Uma vez que a fluidoterapia intravenosa apropria<strong>da</strong>, isola<strong>da</strong>mente é<br />

bastante efetiva na resolução <strong>da</strong>s manifestações clínicas mais graves <strong>da</strong>s crises addisonianas,<br />

o tratamento com glicocorticóide pode ser postergado por várias horas se necessário. A menos<br />

que seja administra<strong>da</strong> dexametasona, a terapia com glicocorticóides deve ser adia<strong>da</strong> até que<br />

se complete o teste de resposta ao ACTH, pois outros glicocrticóides interferem na dosagem<br />

de cortisol. Deve-se aplicar um glicocorticóide de ação rápi<strong>da</strong>, por via intravenosa. Succinato<br />

sódico de hidrocortisona ou fosfato de hidrocortisona (cortisol) provavelmente são os melhores<br />

glicocorticóides para o tratamento inicial, em especial porque também tem ação<br />

mineralocorticóide. A hidrocortisona deve ser administra<strong>da</strong> em infusão contínua na taxa de 0,3<br />

mg/kg/h, ou na forma de bolus intravenoso inicial de 5mg/kg (administrado em 5 minutos),<br />

seguido por 1 mg/kg/6h. Como alternativa, é possível utilizar fosfato sódico de dexametasona<br />

(0,1 a 0,2 mg/kg, via intravenosa) ou succinato sódico de prednisolona (1 a 2 mg/kg, via<br />

intravenosa), caso não haja disponibili<strong>da</strong>de de hidrocortisona. O tratamento subseqüente<br />

consiste na aplicação subcutânea de dexametasona em intervalos de 12 horas, ou de<br />

prednisolona a ca<strong>da</strong> 6 horas, até que o tratamento oral com prednisona (0,4 a 0,6 mg/Kg/dia)<br />

seja tolerado. A dose de prednisona oral deve ser reduzi<strong>da</strong> depois de sete a dez dias para uma<br />

dose de manutenção de, aproxima<strong>da</strong>mente, 0,2 mg/Kg/dia e, em segui<strong>da</strong>, ajusta<strong>da</strong> de acordo<br />

com a necessi<strong>da</strong>de de controlar os sinais clínicos. Deve-se aumentar a dose de glicocorticóide<br />

aos cães com hipoadrenocorticismo quando há estresse ou doença concomitante (PANCIERA,<br />

2007).<br />

Como as alterações eletrolíticas são rapi<strong>da</strong>mente corrigi<strong>da</strong>s com a administração<br />

intravenosa de salina normal, e não há disponibili<strong>da</strong>de de uma preparação mineralocorticóide<br />

10


injetável de curta ação, o tratamento mineralocorticóide específico é adiado até que seja<br />

possível a administração oral de fludrocortisona (0,01 mg/Kg, duas vezes ao dia). A<br />

hidrocortisona apresenta alguma ativi<strong>da</strong>de mineralocorticóide e, por esta razão, é o<br />

glicocorticóide preferido para a reposição. A administração de pivalato de desoxicorticosterona,<br />

um mineralocorticóide injetável de longa ação, deve ser reserva<strong>da</strong> para depois <strong>da</strong> definição do<br />

diagnóstico, embora haja relato de que sua administração é segura em cães com função<br />

adrenal normal. A concentração sérica de eletrólitos deve ser monitora<strong>da</strong> e os ajustes <strong>da</strong> dose<br />

de mineralocorticóide devem ser realizados de acordo com a necessi<strong>da</strong>de (PANCIERA, 2007).<br />

Independente <strong>da</strong> terapia crônica que o animal receba, o objetivo do tratamento é que o<br />

paciente esteja clinicamente normal e saudável, com parâmetros sanguíneos dentro <strong>da</strong><br />

normali<strong>da</strong>de. Por isso, é particularmente importante a monitoração do peso do animal e<br />

prescrição de medicação de acordo com o mesmo, à medi<strong>da</strong> que o paciente recupere o peso<br />

perdido. Uma vez que o paciente se estabilize em uma terapia crônica, a freqüência de<br />

reavaliação do quadro clínico e exames laboratoriais pode reduzir para 3 a 4 vezes ao ano.<br />

Entretanto, se o quadro clínico e laboratorial do paciente não evolui adequa<strong>da</strong>mente com o<br />

tratamento, este deve ser reavaliado com maior freqüência a partir do acompanhamento com<br />

exames bioquímicos. Anormali<strong>da</strong>des no equilíbrio eletrolítico indicam que a dose de<br />

mineralocorticóides precisa ser ajusta<strong>da</strong>. Além disso, a ocorrência de vômito, diarréia, anorexia<br />

ou letargia sugere que a dose de glicocorticóide precisa ser aumenta<strong>da</strong> (KLEIN; PETERSON,<br />

2010b).<br />

Os cães com hipoadrenocorticismo apresentam reduzi<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de para manter o<br />

equilíbrio de sal e água. Assim, nunca devem ser alimentados com uma dieta restrita em sal.<br />

De fato, adicionar uma pequena quanti<strong>da</strong>de de sal à dieta pode ser útil para manter a<br />

concentração de sódio circulante (CHURCH, 2009).<br />

2.7 Prognóstico<br />

O prognóstico a longo prazo para animais com hipoadrenocorticismo, uma vez que a crise<br />

adrenal seja controla<strong>da</strong>, é excelente. Com reposição de glicocorticóides e/ou<br />

mineralocorticóides, espera se que os cães desempenhem seu estilo de vi<strong>da</strong> normal. A<br />

importância <strong>da</strong> terapia por to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do animal deve ser ressalta<strong>da</strong> para o proprietário, além do<br />

potencial aumento gradual <strong>da</strong> suplementação com glicocorticóide durante situações de<br />

estresse tais como hospitalização ou viagens (GRECO,2007).<br />

3 Conclusão<br />

O hipoadrenocorticismo primário, que consiste em um distúrbio endócrino na produção de<br />

glicocorticóides e/ou mineralocorticóides, é uma doença pouco comum em cães ou<br />

possivelmente sub-diagnostica<strong>da</strong> por conta de sua apresentação multissistêmica. As principais<br />

manifestações clínicas são: letargia, fraqueza, anorexia, vômitos e per<strong>da</strong> de peso, que estão<br />

11


elaciona<strong>da</strong>s a alterações no trato gastrointestinal e no estado mental sendo confundi<strong>da</strong>,<br />

muitas vezes com falência renal primária. A doença apresenta evolução crônica com<br />

manifestações agu<strong>da</strong>s conheci<strong>da</strong>s como crises addisonianas que são recorrentes e podem<br />

conduzir o animal a óbito caso não sejam corrigi<strong>da</strong>s a tempo por causa do desequilíbrio<br />

hidroeletrolítico (principalmente hiponatremia e hipercalemia) e do quadro de choque<br />

hipovolêmico que se instalam. A suspeita se baseia no histórico, nas manifestações clínicas e<br />

nos exames clínicos de rotina. O diagnóstico definitivo é alcançado através do teste de<br />

estimulação com hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) que avalia a habili<strong>da</strong>de do córtex <strong>da</strong><br />

adrenal em produzir cortisol em resposta a um estímulo máximo. O prognóstico é excelente<br />

com reposição contínua de glicocorticóides e/ou mineralocorticóides e monitoração para<br />

prevenção de crises addisonianas.<br />

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