04.04.2013 Views

Antropologia e sexualidade - Miguel Vale de Almeida.pdf

Antropologia e sexualidade - Miguel Vale de Almeida.pdf

Antropologia e sexualidade - Miguel Vale de Almeida.pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que diz que o sexo <strong>de</strong>marca diferentes tipos <strong>de</strong> agência, <strong>de</strong> acção<br />

social subjectivada. Por isso critica agora a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “construção<br />

social”.<br />

Caberia a todo um caleidoscópio teórico subsumível à<br />

expressão “teoria da prática” tentar ultrapassar as limitações da i<strong>de</strong>ia<br />

dos papéis sexuais e do simples construcionismo. Para Collier e<br />

Yanagisako (1987) 17 , as abordagens da prática focam em pessoas reais<br />

fazendo coisas reais; isto combina-se com a noção <strong>de</strong> que o “sistema”<br />

tem um efeito po<strong>de</strong>roso na acção humana; este sistema é visto como<br />

um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, constrangimento e dominação; presta<br />

atenção à construção cultural dos conceitos <strong>de</strong> feminilida<strong>de</strong> e<br />

masculinida<strong>de</strong>, pelo que o sistema <strong>de</strong> dominação <strong>de</strong>ve ser entendido<br />

como sistema cultural; tal como a teoria feminista, a teoria da prática<br />

questiona a partição do sistema em base e superestrutura, socieda<strong>de</strong> e<br />

cultura, doméstico e político, produção e reprodução, como<br />

correspon<strong>de</strong>ndo a <strong>de</strong>terminantes e <strong>de</strong>terminados; e, por fim,<br />

estabelece uma preocupação política, tentando perceber como a<br />

prática reproduz o sistema e como este po<strong>de</strong> ser mudado pela prática.<br />

Os estudos <strong>de</strong> género e <strong>sexualida<strong>de</strong></strong> na antropologia<br />

contemporânea têm, pois, sido permeados quer pela teoria da prática<br />

(<strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> críticas ao marxismo ortodoxo), quer por mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

relação entre estrutura e prática (por exemplo, as obras <strong>de</strong> P.<br />

Bourdieu 18 ou A. Gid<strong>de</strong>ns 19 ), quer pela análise contextual do self, da<br />

17 Collier, J. e Yanagisako, S., orgs., 1987, Gen<strong>de</strong>r and Kinship: Essays Toward a Unified<br />

Analysis, Stanford: Stanford University Press.<br />

18«A somatização progressiva das relações fundamentais que são constitutivas da or<strong>de</strong>m social,<br />

tem por resultado a instituição <strong>de</strong> duas “naturezas” diferentes, isto é, <strong>de</strong> dois sistemas <strong>de</strong><br />

diferenças sociais naturalizadas, simultaneamente inscritas nas hexis corporais, sob a forma <strong>de</strong><br />

duas classes opostas e complementares <strong>de</strong> posturas, formas <strong>de</strong> andar, gestos, etc.» (Bourdieu,<br />

1990:8). Segundo o autor, o dominado não dispõe, para pensar, <strong>de</strong> outra coisa que não os<br />

instrumentos <strong>de</strong> conhecimento que tem em comum com o dominador, e que mais não são do que<br />

a forma incorporada da relação <strong>de</strong> dominação. Daí também que a relação entre dominantes e<br />

dominados não seja simétrica. No processo <strong>de</strong> construção social do género as categorias <strong>de</strong><br />

percepção são construídas em torno <strong>de</strong> oposições que reenviam para a divisão do trabalhos<br />

sexual, estruturando a percepção dos órgãos sexuais e da activida<strong>de</strong> sexual. O corpo biológico<br />

socialmente confeccionado é também um corpo político, uma política incorporada. Cf Bourdieu,<br />

P., 1990, “La domination masculine”, Actes <strong>de</strong> La Recherche en Sciences Sociales, 84: 2-31.<br />

19 Afirmando que hoje a <strong>sexualida<strong>de</strong></strong> e a reprodução já não se estruturam mutuamente como no<br />

passado, Gid<strong>de</strong>ns explicita como a privatização da <strong>sexualida<strong>de</strong></strong> foi feita ao mesmo tempo que a<br />

negação do prazer feminino e a i<strong>de</strong>ia da <strong>sexualida<strong>de</strong></strong> masculina como não problemática, <strong>de</strong>pois<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!