04.04.2013 Views

Antropologia e sexualidade - Miguel Vale de Almeida.pdf

Antropologia e sexualidade - Miguel Vale de Almeida.pdf

Antropologia e sexualidade - Miguel Vale de Almeida.pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

precoce ou tardia, experiência sexual igualmente precoce ou tardia,<br />

precocida<strong>de</strong> encorajada ou não, segregação dos sexos ou educação<br />

mista, divisão do trabalho entre os sexos ou activida<strong>de</strong>s comuns. Em<br />

Sex and Temperament… (1935) a antropóloga liga a questão da<br />

personalida<strong>de</strong>-base e do temperamento à atribuição sexuada das<br />

emoções. Entre os Arapesh nota que tanto homens como mulheres<br />

apresentam personalida<strong>de</strong>s que ela chama maternais nos seus aspectos<br />

parentais e femininas nos seus aspectos sexuais. Diz não ter<br />

encontrado a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o sexo seja uma força impulsionadora forte,<br />

quer para os homens quer para as mulheres. Pelo contrário, entre os<br />

Mundugumor verificou que tanto homens como mulheres se<br />

<strong>de</strong>senvolviam como indivíduos duros, agressivos e “positivamente<br />

sexuados”, com um mínimo <strong>de</strong> aspectos maternais da personalida<strong>de</strong>.<br />

Entre os Tchambuli julgou encontrar uma inversão das atitu<strong>de</strong>s<br />

sexuais da nossa cultura, com as mulheres dominando, “impessoais”,<br />

“gestoras”, e os homens como menos responsáveis e mais<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes emocionalmente (1935).<br />

Todavia, para Mead o limite da diversida<strong>de</strong> é a fronteira<br />

anatómica entre os sexos, o que já se notava em Malinowski. Isto<br />

porque nenhum dos dois consegue sair das fronteiras da família<br />

biológica como unida<strong>de</strong> básica natural e social, na qual uma divisão<br />

do trabalho entre homens e mulheres é necessária e inevitável (Weeks<br />

1985: 107) 8 . Isto não retira valor à principal conquista <strong>de</strong> Mead: para<br />

comprovar a plasticida<strong>de</strong> humana, ela <strong>de</strong>monstra que as emoções<br />

sexuadas são construções sociais. Fê-lo perante uma conjuntura, no<br />

Oci<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> surgimento da adolescência e da absorção das mulheres<br />

no mercado <strong>de</strong> trabalho no período da segunda gran<strong>de</strong> guerra. A<br />

distinção entre sexo e género era, a partir daqui, possível: «É-nos<br />

permitido, a partir <strong>de</strong> agora, afirmar que os traços <strong>de</strong> carácter que<br />

qualificamos como masculinos ou femininos são (...) <strong>de</strong>terminados<br />

pelo sexo <strong>de</strong> forma tão superficial como a roupa (...) resultado <strong>de</strong> um<br />

condicionamento social (...) Admitida a plasticida<strong>de</strong> da natureza<br />

humana, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provêm as diferenças que constatamos entre os tipos<br />

<strong>de</strong> temperamentos consignados pelas diversas socieda<strong>de</strong>s, seja a todos<br />

os seus membros, seja respectivamente a cada sexo? (...) esta<br />

diversida<strong>de</strong> assenta sobre o quê? Já não e possível, à luz dos factos,<br />

8 Weeks, J., 1985, Sexuality and its Discontents: Meanings, Myths, and Mo<strong>de</strong>rn Sexuality,<br />

Londres: Routledge.<br />

10

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!