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CLÁSSICOS BRASILEIROS BRAZILIAN CLASSICS - Imprensa Oficial

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Não fossem a persistência e a intuição da<br />

historiadora literária Lúcia Miguel Pereira,<br />

além de uma série fortuita de eventos, Manuel<br />

de Oliveira Paiva seria hoje um escritor<br />

desconhecido não só do grande público,<br />

mas mesmo dos professores e estudiosos<br />

de literatura. Morto aos 31 anos de idade e<br />

tendo publicado o seu primeiro romance, A<br />

afilhada, apenas em folhetim, além de alguns<br />

contos esparsos em jornais, seu percurso tinha<br />

tudo para fadá-lo ao anonimato. Resgatado<br />

do limbo, revela-se que seu livro D. Guidinha<br />

do poço, publicado mais de 60 anos depois<br />

de sua morte, pode ser encarado como o<br />

primeiro romance - e um antecipador do<br />

regionalismo brasileiro, obra cuja densidade<br />

só viria a ser superada três décadas mais tarde,<br />

por um Graciliano Ramos. A escrita pioneira<br />

de Oliveira Paiva, contida e despojada, onde<br />

prevalece o discurso indireto livre, é também<br />

marcada pela grande excentricidade e por<br />

uma insubmissão aos valores literários de sua<br />

época, quando valores românticos e realistanaturalistas<br />

estavam plenamente implantados<br />

no romance brasileiro.<br />

Crítica<br />

Principais obras<br />

MANUEL DE OLIVEIRA PAIVA<br />

Fragmento<br />

D. Guidinha do poço<br />

De primeiro havia na ribeira do Curimataú,<br />

afluente do Jaguaribe, uma fazenda chamada<br />

Poço da Moita. Situada no século passado pelo<br />

português Reginaldo Vanceslau de Oliveira,<br />

passou a filhos e netos. Se não fora o desgraçado<br />

acontecimento que serve de assunto principal<br />

dessa narrativa, ainda hoje estaria de pé com<br />

ferro e sinal.<br />

À margem esquerda do impetuoso escoadouro<br />

hibernino, a casa grande amostrava-se num<br />

alto, de onde se enxergava grande distância em<br />

derredor, principalmente pela seca. Durante<br />

o inverno, a superabundância de folhagem<br />

restringia sensivelmente o campo de visão [...].<br />

Poço da Moita por último passara para Margarida,<br />

a primeira neta de Reginaldo, filha do capitãomor,<br />

casada com o major Joaquim Damião de<br />

Barros, um homenzarrão alto e grosso, natural de<br />

Pernambuco — uma boa alma. Viera do Ceará à<br />

compra de cavalos, e por cá se ficou amarrado<br />

aos amores e aos possuídos da muito conhecida<br />

Guidinha do poço. Tinha o preto-do-olho<br />

amarelo, com a menina esverdeada, semelhando<br />

a um tupuru.<br />

A afilhada [em folhetim] (1889); D. Guidinha do poço (1952); A afilhada (1961); Contos (1976).<br />

(1861 – 1892)<br />

Sutileza descritiva<br />

"O que [...] parece constituir a maior excelência desse escritor é a maestria com que fundiu os elementos emocionais<br />

e materiais, isto é, a arte de tornar sugestiva qualquer minúcia, de valer-se de indicações objetivas para reforçar<br />

indiretamente o sentido da narrativa ou insinuar o caráter de uma personagem."<br />

(Lúcia Miguel Pereira, prefácio a D. Guidinha do poço)<br />

A seca como personagem<br />

''Manuel de Oliveira Paiva antecipa a presença de um tema que será um dos tópicos fortes do romance modernista<br />

brasileiro. A seca, no romance, se configura como um pano de fundo, através da presença e da atuação dos retirantes<br />

arranchados na fazenda e das referências à situação geral do campo e das propriedades."<br />

(Domício Proença Filho, prefácio a D. Guidinha do poço)<br />

Clássicos brasileiros<br />

Uma seleção de autores com obras em domínio público<br />

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