CLÁSSICOS BRASILEIROS BRAZILIAN CLASSICS - Imprensa Oficial
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Em meio à massa de livros similares que<br />
uma época produz, surgem, eventualmente,<br />
algumas obras inconformistas que primam pela<br />
diferença. Nascidas à margem do que vige de<br />
mais preponderante, essas escritas se direcionam<br />
para o futuro, que, reconhecendo seu valor,<br />
passa a acolher as inovações instauradas. Esse é<br />
exatamente o caso de Memórias de um sargento<br />
de milícias, o romance que, reagindo contra<br />
o romantismo, inaugura a literatura urbana<br />
brasileira através de uma aventura picaresca<br />
acontecida no princípio do século XIX no Rio de<br />
Janeiro. Manuel Antônio de Almeida se aproveita<br />
de tudo o que é popular. Seus personagens são<br />
mendigos, cegos, soldados, barbeiros, comadres,<br />
mestres de rezas, meirinhos... saídos diretamente<br />
da vivacidade típica da sociedade média da<br />
época. Simultaneamente, há uma utilização<br />
dos elementos linguísticos correspondentes aos<br />
tipos que habitam seu romance, operacionando<br />
toda uma rede de brasileirismos, modismos,<br />
ditos populares, frases feitas etc., além de um<br />
vasto repertório de músicas, danças e costumes<br />
do povo nacional às vésperas da Independência<br />
do país.<br />
Crítica<br />
Principais obras<br />
MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA<br />
Memórias de um sargento de milícias (1855); Dois amores (1861).<br />
(1831 – 1861)<br />
Fragmento<br />
Memórias de um sargento de milícias<br />
Lá para as bandas do mangue da Cidade Nova<br />
havia, ao pé de um charco, uma casa coberta de<br />
palha da mais feia aparência, cuja frente suja e<br />
testada enlameada bem denotavam que dentro<br />
o asseio não era muito grande. Compunhase<br />
ela de uma pequena sala e um quarto; toda<br />
a mobília eram dois ou três assentos de pau,<br />
algumas esteiras em um canto, e uma enorme<br />
caixa de pau, que tinha muitos empregos; era<br />
mesa de jantar, cama, guarda-roupa e prateleira.<br />
Quase sempre estava vazia essa casa fechada, o<br />
que a rodeava de um certo mistério. Esta sinistra<br />
morada era habitada por uma personagem<br />
talhada pelo molde mais detestável; era um<br />
caboclo velho, de cara hedionda e imunda,<br />
e coberto de farrapos. Entretanto, para a<br />
admiração do leitor, fique-se sabendo que este<br />
homem tinha por ofício dar fortuna!<br />
Original e extraordinário<br />
"Em 1852, levado pelo seu trabalho de jornalista em busca de assunto, forçado pelas exigências da publicação<br />
periódica, mas dominando agilmente essas condições, Manuel Antônio de Almeida iniciava em folhetins semanais do<br />
Correio Mercantil as suas Memórias de um sargento de milícias. Estes folhetins iriam constituir um dos romances mais<br />
interessantes, uma das produções mais originais e extraordinárias da ficção americana."<br />
(Mário de Andrade, "Memórias de um sargento de milícias")<br />
À frente de seu tempo<br />
"É original como nenhum outro dos até então e ainda imediatamente posteriores, aparecidos, pois foi concebido e<br />
executado sem imitação ou influência de qualquer escola ou corrente literária que houvesse atuado a nossa literatura, [...].<br />
Em pleno romantismo, aqui sobre-excessivamente idealista, romanesco e sentimental também em excesso, o romance de<br />
Manuel de Almeida é perfeitamente realista, ainda naturalista, muito antes do advento, mesmo na Europa, das doutrinas<br />
literárias que receberam estes nomes."<br />
(José Veríssimo, História da literatura brasileira)<br />
Clássicos brasileiros<br />
Uma seleção de autores com obras em domínio público<br />
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