CLÁSSICOS BRASILEIROS BRAZILIAN CLASSICS - Imprensa Oficial
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Considerada uma das mais significativas<br />
escritoras do parnasianismo brasileiro, Francisca<br />
Júlia destacou-se na poesia por uma peculiaridade<br />
nem sempre identificada pelos críticos literários:<br />
a presença de elementos simbolistas. A literatura<br />
de seu tempo lhe atribuía destaque, identificando<br />
na obra de Francisca uma dicção não feminina,<br />
já que este gênero de escrita era percebido como<br />
prioritariamente sentimental e esteticamente<br />
inferior. Francisca Júlia publicou, ao longo de<br />
sua vida, quatro livros. No dia do enterro de<br />
seu marido, sua trajetória como escritora foi<br />
repentinamente interrompida pelo suicídio,<br />
deixando em projeto um livro de poesias que<br />
se chamaria Versos áureos. Diante disso, uma<br />
segunda edição de Esfinges (1920) foi organizada,<br />
incluindo no conjunto novos poemas que não<br />
fizeram parte da primeira edição, além de uma<br />
ampla descrição crítica da obra, de caráter mais<br />
biográfico do que analítico, refletindo o impacto<br />
social do gesto extremo da autora.<br />
Crítica<br />
Principais obras<br />
Mármores (1895); Livro da infância (1899); Esphinges (1903); Poesias (1961).<br />
FRANCISCA JÚLIA<br />
(1871 – 1920)<br />
Fragmento<br />
Os argonautas<br />
a Carlos Coelho<br />
Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano.<br />
Os astros e o luar — amigas sentinelas,<br />
Lançam bênçãos de cima às largas caravelas<br />
Que rasgam fortemente a vastidão do oceano.<br />
Ei-los que vão buscar noutras paragens belas<br />
Infindos cabedais de algum tesouro arcano...<br />
E o vento austral que passa em cóleras, ufano,<br />
Faz palpitar o bojo às retesadas velas.<br />
Novos céus querem ver, miríficas belezas;<br />
Querem também possuir tesouros e riquezas<br />
Como essas naus que têm galhardetes e mastros...<br />
Ateiam-lhes a febre essas minas supostas...<br />
E, olhos fitos no vácuo, imploram, de mão postas,<br />
A áurea benção dos céus e a proteção dos astros...<br />
O interessante lado simbolista<br />
"[...] a crítica tem destacado usualmente, seguindo nisso a primeira recepção da sua obra, as características parnasianas<br />
da poesia de Francisca Júlia, deixando em segundo plano aquilo que João Ribeiro notara no prefácio a esse livro<br />
de estreia: a presença de significativos elementos simbolistas. A leitura, hoje, da sua obra, confirma a impressão do<br />
prefaciador. Embora muitos dos seus sonetos estejam entre os mais bem acabados de sua época e muitos deles se<br />
enquadrem nos preceitos da impassibilidade parnasiana (que os melhores parnasianos, como Bilac, sistematicamente<br />
infringiram), é igualmente interessante (e talvez até mais, para o gosto de hoje) a parte da sua obra que se aproxima<br />
da dicção simbolista."<br />
(Paulo Franchetti, Francisca Júlia, 1871-1920)<br />
As novas aptidões femininas<br />
"Uma injusta apreciação, concluída, e mal concluída, da minha atitude crítica contra uma escritora de talento, haviame<br />
perfidamente criado a pequenina fama (de resto, indigna de mim) de homem selvagem que só via nas mulheres as<br />
aptidões inferiores das cozinheiras. E como o homem é de fogo para a mentira, no dizer do fabulista, fui logo definitivamente<br />
julgado e condenado. Há em tudo isto uma grave injustiça. Vivendo nessa pátria que se orgulha dos nomes gloriosos de<br />
Narcisa Amália, Adelina Vieira, Júlia Lopes de Almeida, Zalina Rolim, e Júlia Cortines, eu sentia com ela esse mesmo<br />
nobre orgulho, e ninguém de boa-fé poderia acatar essa dura malevolência contra as minhas verdadeiras opiniões. Por<br />
isso é que a ocasião de apresentar o nome da autora dos Mármores me depara hoje em ensejo feliz de reabilitação no<br />
conceito dos mais opiniáticos."<br />
(João Ribeiro, prefácio de Mármores)<br />
Clássicos brasileiros<br />
Uma seleção de autores com obras em domínio público<br />
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