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CLÁSSICOS BRASILEIROS BRAZILIAN CLASSICS - Imprensa Oficial

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Filho de escravos libertos — apesar disso,<br />

recebeu uma educação aristocrática —, o poeta<br />

Cruz e Sousa inaugurou o movimento simbolista<br />

no Brasil com a publicação de Broquéis.<br />

Referido por epítetos como Poeta Negro, Dante<br />

Negro, Cisne Negro, o poeta já foi comparado<br />

a Mallarmé, Baudelaire, Stefan George e<br />

Lautréamont. Se sua originalidade decorre da<br />

capacidade criativa e da dedicação, as tragédias<br />

da vida também contribuíram para uma poética<br />

simultaneamente pensada e nevrálgica, ou,<br />

como já se disse, selvagem. Com ele, através<br />

de uma desconexão lógica da imaginação e de<br />

uma multiplicidade significativa da linguagem,<br />

a subjetividade se abre, doridamente, a uma<br />

misteriosa violência cósmica e ontológica.<br />

Crítica<br />

Principais obras<br />

CRUZ E SOUSA<br />

(1861 – 1898)<br />

Fragmento<br />

Emparedado<br />

De que subterrâneos viera eu já, de que torvos<br />

caminhos, trôpego de cansaço, as pernas<br />

bambaleantes, com a fadiga de um século,<br />

recalcando nos tremendos e majestosos Infernos<br />

do Orgulho o coração lacerado, ouvindo sempre<br />

por toda a parte exclamarem as vãs e vagas bocas:<br />

Esperar! Esperar! Esperar!<br />

Por que estradas caminhei, monge hirto das<br />

desilusões, conhecendo os gelos e os fundamentos<br />

da Dor, dessa Dor estranha, formidável, terrível,<br />

que canta e chora Réquiens nas árvores, nos mares,<br />

nos ventos, nas tempestades, só e taciturnamente<br />

ouvindo: Esperar! Esperar! Esperar!<br />

Por isso é que essa hora sugestiva era para mim<br />

então a hora da Esperança, que evocava tudo<br />

quanto eu sonhara e se desfizera e vagara e<br />

mergulhara no Vácuo...<br />

Uma vidência singular<br />

"Cruz e Sousa foi a estilização ou reação brasileira diante de um simbolismo eminentemente francês. No processo<br />

dialético da obra do grande poeta negro, está a nota mais tipicamente brasileira de um movimento que era francês.<br />

A condição do etnicamente marginal, do 'emparedado', agravada pelas suas debilidades físicas, outorgou-lhe uma<br />

cosmovisão de tal maneira peculiar que o distancia convenientemente dos seus companheiros franceses. Mesmo dos que,<br />

como Baudelaire, exerceram influência no poeta."<br />

(Eduardo Portella, "Aventura e desengano da periodização literária")<br />

A medida do impossível<br />

"Pelos olhos do símbolo, o poeta visionário penetra no invisível e tenta nomear o que não se pode dizer, mas assim<br />

lança a medida do impossível que, desde o simbolismo, persegue toda grande poesia. Tanto as formas alvas quanto a<br />

noite de Cruz e Sousa se arriscam a preencher esse mesmo vazio, o indizível da experiência simbólica, o oco do olho,<br />

às vezes só silêncio."<br />

(Davi Arrigucci Jr., "A noite de Cruz e Sousa")<br />

Tropos e fantasias (1885); Broquéis (1893); Missal (1893); Evocações (1898); Faróis (1900); Últimos sonetos (1905); Obras<br />

(1943); Sonetos da noite (1958); Obra completa (1961).<br />

Clássicos brasileiros<br />

Uma seleção de autores com obras em domínio público<br />

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