nutrientes na coluna da água e na água intersticial de ... - Furg

nutrientes na coluna da água e na água intersticial de ... - Furg nutrientes na coluna da água e na água intersticial de ... - Furg

01.03.2013 Views

NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL DE SEDIMENTOS DE UMA ENSEADA RASA ESTUARINA COM APORTES DE ORIGEM ANTRÓPICA (RS–BRASIL). MARIA DA GRAÇA ZEPKA BAUMGARTEN, LUÍS FELIPE HAX NIENCHESKI & LUCIANA VEECK Fundação Universidade Federal do Rio Grande – Dep. de Química – Lab. de Hidroquímica Caixa Postal 474 – CEP 96201-900 – Rio Grande – RS. dqmmgzb@super.furg.br RESUMO Para investigar a importância da coluna sedimentar nos acréscimos de amônio e de fosfato na enseada Saco da Mangueira, no estuário da Lagoa dos Patos, foram feitas amostragens durante 15 meses na coluna da água e na água intersticial, em três locais que recebem diferentes tipos e intensidades de aportes destes nutrientes. Para a obtenção dos perfis verticais de concentrações na água intersticial, os testemunhos sedimentares amostrados foram fatiados até a profundidade de 38cm. De cada fatia, a água intersticial foi extraída sob atmosfera inerte. Os resultados evidenciaram variações mensais não sazonais. A salinidade entre a coluna da água e a água intersticial apresentou valores com gradiente crescente quando entrou água doce e decrescente quando entrou água salgada no Saco da Mangueira. Na coluna sedimentar com profundidade a partir de 18cm, a água intersticial apresentou-se sempre mixohalina. O enriquecimento na água intersticial em amônio refletiu diretamente a intensidade do aporte de esgotos domésticos oriundos da cidade do Rio Grande, e em fosfato, refletiu a intensidade de rejeitos fosfatados emitidos por indústrias de fertilizantes. A intrusão brusca de águas mixohalinas na coluna sedimentar também causou enriquecimento da água intersticial, porque pode ter favorecido a redissolução e a dessorção de compostos nitrogenados e fosfatados. As concentrações médias de nutrientes na água intersticial foram maiores que as da coluna da água, intensificando-se essas diferenças em cerca de 6 vezes mais para o amônio do que para o fosfato. Quando a água bem salina se fez presente, houve diluição das concentrações de nutrientes. Ficou evidente que as concentrações de amônio e de fosfato na água intersticial são quimioindicadoras das diferentes intensidades, em cada local, de aportes antrópicos diretos e indiretos de compostos nitrogenados e fosfatados. PALAVRAS-CHAVE: nutrientes; água intersticial; estuário; Lagoa dos Patos (Brasil) ABSTRACT Nutrients in the water column and in the pore water of sediments in an estuarine shallow inlet with anthropic inputs (RS – Brazil) The aim of this study is to evaluate of the importance of the sedimentary layers on the ammonium and phosphate inputs to the water column of a shallow inlet near the Rio Grande City. Samples were taken throughout 15 months in the water column and pore water. Three stations of cross-section, with different types of natural/anthropogenic inputs were considered. The vertical profiles of pore water were taken by dividing the cores into slices until 38cm deep. The pore water was drained from each slice under nitrogen atmosphere. Monthly variations were found following a cycle of sea water entrance and exit in the estuary. Concentrations of ammonium and phosphate in the pore water were higher than in the water column, although latter was contaminated by organic matter and inorganic phosphate compounds. The entrance of mixohaline water inputs, which disturb the sedimentary column resulted in desorption and dissolution of nutrients from the pore water to the water column. The increasing of phosphate concentration were greater in the sample site near a fertilizer plant and the increasing of ammonium concentration was greater in the sample station close to Rio Grande City’s sewage. The increasing gradients of concentrations between pore water and water column were around six times greater for ammonium than for phosphate. For salinity, the gradient was positive when the water column had low salinity and vice-versa. There was a dilution of concentrations due to sea water in the sedimentary column’s surface. There is evidence that the concentrations of ammonium and phosphate in the pore water are chemical indicators of different intensities of direct and indirect anthopogenic inputs of nitrogenous and phosphated compounds in each sampling site considered. KEY-WORDS: nutrients; pore water; estuary; Patos Lagoon (Brazil) 1 – INTRODUÇÃO A coluna sedimentar de ambientes aquáticos, principalmente a sua fração orgânica, realiza trocas de nutrientes com a coluna da água sobrejacente. Em geral, os sedimentos não são apenas um depósito de produtos que estão, ou que chegam à coluna da água, mas representam um compartimento que recicla compostos, envolvendo processos biológicos (bioturbação, ação de bactérias oxidantes e redutoras, entre outros), físicoquímicos (adsorção, dessorção), químicos (precipitação, oxidação, redução, complexação) e processos de transporte (difusão, advecção). Nos sedimentos, principalmente a partir da sub-superfície, as condições redutoras são mais freqüentes e intensas do que na coluna da água. Como em ambientes sedimentares redutores é favorecida a redissolução de muitos íons, que então passam a fazer parte da água intersticial, os sedimentos, nesse caso, funcionam como reservatório de espécies dissolvidas para a coluna da água, basicamente através da difusão molecular via água intersticial, que ocorre no sentido do mais concentrado para o menos. Assim, os processos biogeoquímicos que ocorrem nos sedimentos podem alterar a qualidade da água sobrejacente, principalmente quando fatores como a Atlântica, Rio Grande, 23: 101-116, 2001. 101

NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL DE SEDIMENTOS<br />

DE UMA ENSEADA RASA ESTUARINA COM APORTES DE ORIGEM ANTRÓPICA (RS–BRASIL).<br />

MARIA DA GRAÇA ZEPKA BAUMGARTEN, LUÍS FELIPE HAX NIENCHESKI & LUCIANA VEECK<br />

Fun<strong>da</strong>ção Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> – Dep. <strong>de</strong> Química – Lab. <strong>de</strong> Hidroquímica<br />

Caixa Postal 474 – CEP 96201-900 – Rio Gran<strong>de</strong> – RS.<br />

dqmmgzb@super.furg.br<br />

RESUMO<br />

Para investigar a importância <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar nos acréscimos <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> ensea<strong>da</strong> Saco <strong>da</strong> Mangueira, no<br />

estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos, foram feitas amostragens durante 15 meses <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, em três<br />

locais que recebem diferentes tipos e intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aportes <strong>de</strong>stes <strong>nutrientes</strong>. Para a obtenção dos perfis verticais <strong>de</strong><br />

concentrações <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, os testemunhos sedimentares amostrados foram fatiados até a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 38cm. De<br />

ca<strong>da</strong> fatia, a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foi extraí<strong>da</strong> sob atmosfera inerte. Os resultados evi<strong>de</strong>nciaram variações mensais não sazo<strong>na</strong>is. A<br />

salini<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> apresentou valores com gradiente crescente quando entrou <strong>água</strong> doce e<br />

<strong>de</strong>crescente quando entrou <strong>água</strong> salga<strong>da</strong> no Saco <strong>da</strong> Mangueira. Na colu<strong>na</strong> sedimentar com profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> 18cm, a<br />

<strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> apresentou-se sempre mixohali<strong>na</strong>. O enriquecimento <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> em amônio refletiu diretamente a<br />

intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do aporte <strong>de</strong> esgotos domésticos oriundos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong>, e em fosfato, refletiu a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> rejeitos<br />

fosfatados emitidos por indústrias <strong>de</strong> fertilizantes. A intrusão brusca <strong>de</strong> <strong>água</strong>s mixohali<strong>na</strong>s <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar também<br />

causou enriquecimento <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, porque po<strong>de</strong> ter favorecido a redissolução e a <strong>de</strong>ssorção <strong>de</strong> compostos<br />

nitroge<strong>na</strong>dos e fosfatados. As concentrações médias <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foram maiores que as <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong>, intensificando-se essas diferenças em cerca <strong>de</strong> 6 vezes mais para o amônio do que para o fosfato. Quando a <strong>água</strong> bem<br />

sali<strong>na</strong> se fez presente, houve diluição <strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong>. Ficou evi<strong>de</strong>nte que as concentrações <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong><br />

fosfato <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> são quimioindicadoras <strong>da</strong>s diferentes intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em ca<strong>da</strong> local, <strong>de</strong> aportes antrópicos diretos e<br />

indiretos <strong>de</strong> compostos nitroge<strong>na</strong>dos e fosfatados.<br />

PALAVRAS-CHAVE: <strong>nutrientes</strong>; <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>; estuário; Lagoa dos Patos (Brasil)<br />

ABSTRACT<br />

Nutrients in the water column and in the pore water of sediments<br />

in an estuarine shallow inlet with anthropic inputs (RS – Brazil)<br />

The aim of this study is to evaluate of the importance of the sedimentary layers on the ammonium and phosphate inputs to the<br />

water column of a shallow inlet near the Rio Gran<strong>de</strong> City. Samples were taken throughout 15 months in the water column and<br />

pore water. Three stations of cross-section, with different types of <strong>na</strong>tural/anthropogenic inputs were consi<strong>de</strong>red. The vertical<br />

profiles of pore water were taken by dividing the cores into slices until 38cm <strong>de</strong>ep. The pore water was drained from each slice<br />

un<strong>de</strong>r nitrogen atmosphere. Monthly variations were found following a cycle of sea water entrance and exit in the estuary.<br />

Concentrations of ammonium and phosphate in the pore water were higher than in the water column, although latter was<br />

contami<strong>na</strong>ted by organic matter and inorganic phosphate compounds. The entrance of mixohaline water inputs, which disturb<br />

the sedimentary column resulted in <strong>de</strong>sorption and dissolution of nutrients from the pore water to the water column. The<br />

increasing of phosphate concentration were greater in the sample site near a fertilizer plant and the increasing of ammonium<br />

concentration was greater in the sample station close to Rio Gran<strong>de</strong> City’s sewage. The increasing gradients of concentrations<br />

between pore water and water column were around six times greater for ammonium than for phosphate. For salinity, the<br />

gradient was positive when the water column had low salinity and vice-versa. There was a dilution of concentrations due to sea<br />

water in the sedimentary column’s surface. There is evi<strong>de</strong>nce that the concentrations of ammonium and phosphate in the pore<br />

water are chemical indicators of different intensities of direct and indirect anthopogenic inputs of nitrogenous and phosphated<br />

compounds in each sampling site consi<strong>de</strong>red.<br />

KEY-WORDS: nutrients; pore water; estuary; Patos Lagoon (Brazil)<br />

1 – INTRODUÇÃO<br />

A colu<strong>na</strong> sedimentar <strong>de</strong> ambientes aquáticos, principalmente a sua fração orgânica, realiza trocas <strong>de</strong><br />

<strong>nutrientes</strong> com a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> sobrejacente. Em geral, os sedimentos não são ape<strong>na</strong>s um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> produtos<br />

que estão, ou que chegam à colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, mas representam um compartimento que recicla compostos,<br />

envolvendo processos biológicos (bioturbação, ação <strong>de</strong> bactérias oxi<strong>da</strong>ntes e redutoras, entre outros), físicoquímicos<br />

(adsorção, <strong>de</strong>ssorção), químicos (precipitação, oxi<strong>da</strong>ção, redução, complexação) e processos <strong>de</strong><br />

transporte (difusão, advecção).<br />

Nos sedimentos, principalmente a partir <strong>da</strong> sub-superfície, as condições redutoras são mais freqüentes e<br />

intensas do que <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>. Como em ambientes sedimentares redutores é favoreci<strong>da</strong> a redissolução <strong>de</strong><br />

muitos íons, que então passam a fazer parte <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, os sedimentos, nesse caso, funcio<strong>na</strong>m como<br />

reservatório <strong>de</strong> espécies dissolvi<strong>da</strong>s para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, basicamente através <strong>da</strong> difusão molecular via <strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong>, que ocorre no sentido do mais concentrado para o menos. Assim, os processos biogeoquímicos que<br />

ocorrem nos sedimentos po<strong>de</strong>m alterar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> sobrejacente, principalmente quando fatores como a<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 101


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

turbulência e a hidrodinâmica aumentam os intercâmbios químicos entre a <strong>água</strong> e o sedimento, principalmente em<br />

ambientes aquáticos <strong>de</strong> pouca profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Portanto, a avaliação do potencial dos sedimentos no comprometimento, ou <strong>na</strong> melhoria, <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>de</strong>ve enfocar a composição química <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, que é o vetor do<br />

transporte sedimento/<strong>água</strong>. Também, <strong>de</strong>ve ser enfoca<strong>da</strong> a especiação <strong>de</strong> elementos químicos <strong>na</strong> colu<strong>na</strong><br />

sedimentar, <strong>de</strong>lineando-se perfis verticais <strong>de</strong> concentrações e <strong>de</strong>finindo-se quali-quantitativamente o intercâmbio<br />

químico com a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, principalmente <strong>de</strong> compostos que po<strong>de</strong>m comprometer o equilíbrio ecológico do<br />

ambiente aquático.<br />

A investigação espaço-temporal dos aspectos acima citados resulta <strong>na</strong> <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s origens dos<br />

elementos químicos <strong>na</strong> <strong>água</strong> e <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, sendo assim, ain<strong>da</strong> evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s as variações temporais<br />

<strong>na</strong>s intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas origens e, se são antrópicas e/ou <strong>na</strong>turais.<br />

Particularmente, estudos com esse enfoque são necessários serem feitos <strong>na</strong>s ensea<strong>da</strong>s margi<strong>na</strong>is<br />

situa<strong>da</strong>s ao sul do estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos (RS). A maioria <strong>da</strong>s pesquisas hidroquímicas <strong>de</strong>ssas ensea<strong>da</strong>s se<br />

basearam em avaliações <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e composição química <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, ocasião em que se<br />

evi<strong>de</strong>nciaram a contami<strong>na</strong>ção orgânica e o enriquecimento <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> em algumas ensea<strong>da</strong>s receptoras diretas<br />

<strong>de</strong> efluentes domésticos e industriais oriundos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong>, situa<strong>da</strong> às margens <strong>de</strong>ste estuário.<br />

Esses efluentes são lançados sem tratamento (Almei<strong>da</strong> et al. 1993, Baumgarten et al. 1995, Baumgarten et al.<br />

1998 e Baumgarten & Niencheski 1998), principalmente <strong>na</strong>s ensea<strong>da</strong>s que ficam ao sul <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> (“Coroa do<br />

Boi” e “Saco <strong>da</strong> Mangueira”) (Fig. 1).<br />

Segundo esses estudos, nessas ensea<strong>da</strong>s rasas são intensas a instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns compostos<br />

químicos e a dinâmica <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e, qualquer alteração <strong>de</strong> fatores meteorológicos, como chuvas e ventos,<br />

influenciam a composição <strong>da</strong> <strong>água</strong>, pois alteram direta e intensamente a salini<strong>da</strong><strong>de</strong> e a turbi<strong>de</strong>z, respectivamente.<br />

Como continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao atual conhecimento sobre a hidroquímica <strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s ensea<strong>da</strong>s e, visando melhor<br />

i<strong>de</strong>ntificar as origens <strong>da</strong> riqueza <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong>, <strong>de</strong>senvolveu-se o presente estudo no Saco <strong>da</strong> Mangueira. Esta<br />

ensea<strong>da</strong> foi escolhi<strong>da</strong> para esse estudo, porque está sob proteção legal no Plano Diretor <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>de</strong><br />

Rio Gran<strong>de</strong>, que proíbe alterações nessas <strong>água</strong>s (art. n.° 49). Também, já foi enquadrado pela FEPAM (1995)<br />

segundo a legislação ambiental do CONAMA (1986, Resolução n.° 20), como pertencente à Classe B <strong>de</strong> <strong>água</strong>s<br />

salobras, para a qual é previsto que as <strong>água</strong>s somente po<strong>de</strong>rão receber efluentes tratados que não alterem a<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> hidroquímica <strong>da</strong> <strong>água</strong> receptora.<br />

Apesar disso, Baumgarten et al. (1995) constataram que as concentrações médias <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong> do Saco <strong>da</strong> Mangueira foram cerca <strong>de</strong> três vezes maiores do que as <strong>da</strong>s outras áreas rasas ao redor <strong>de</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong>, possivelmente como conseqüência <strong>da</strong>s emissões aéreas e líqui<strong>da</strong>s oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s indústrias <strong>de</strong><br />

fertilizantes, localiza<strong>da</strong>s às suas margens. Entretanto, <strong>de</strong> forma antagônica, os valores máximos ocorreram no<br />

verão, quando as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas indústrias estavam baixas. A hipótese foi <strong>de</strong> que o fósforo que teria chegado à<br />

<strong>água</strong> associado à emissões <strong>de</strong> poeiras industriais, teria ficado armaze<strong>na</strong>do nos sedimentos e dissolvendo-se<br />

posteriormente, em condições ambientais favoráveis, como aumento intenso <strong>da</strong> força iônica <strong>da</strong> <strong>água</strong> mais sali<strong>na</strong><br />

que penetrou <strong>na</strong> ensea<strong>da</strong> no referido verão, e simultâneo aumento <strong>da</strong>s condições redutoras <strong>da</strong> sub-superfície dos<br />

sedimentos.<br />

Assim sendo, o presente estudo preten<strong>de</strong> investigar o papel <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar <strong>na</strong>s alterações <strong>da</strong><br />

composição <strong>da</strong>s <strong>água</strong>s do Saco <strong>da</strong> Mangueira e i<strong>de</strong>ntificar espaço-temporalmente as variações <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong><br />

fosfato <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar <strong>de</strong>ssa ensea<strong>da</strong>, consi<strong>de</strong>rando locais com distintos tipos e<br />

intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aportes <strong>de</strong> origem antrópica. Também, será investigado o processo oposto, ou seja, se estes<br />

aportes resultam em contami<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> local e se esta, então, funcio<strong>na</strong> como<br />

armaze<strong>na</strong>dora, reguladora e/ou fornecedora <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, influenciando seus níveis<br />

tróficos.<br />

2 – ÁREA ESTUDADA<br />

O Saco <strong>da</strong> Mangueira é uma ensea<strong>da</strong> semi-fecha<strong>da</strong> e localiza-se ao sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> (cerca<br />

<strong>de</strong> 180.000 habitantes). Possui 27,2km 2 <strong>de</strong> área e profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> média <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1 metro. Junto às suas<br />

margens, num lado encontram-se bairros e vilas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, incluindo-se vários condomínios verticais; no outro<br />

lado localiza-se o Distrito Industrial (Fig. 1). Almei<strong>da</strong> et al. (1993) constataram que 29% do total dos pontos <strong>de</strong><br />

lançamentos <strong>de</strong> efluentes <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> encontravam-se nessa ensea<strong>da</strong>, incluindo-se nesses, um efluente<br />

doméstico lançado <strong>de</strong> forma oficial, vários clan<strong>de</strong>stinos e alguns pluviais e industriais (indústria <strong>de</strong> pescado, <strong>de</strong><br />

fertilizantes, <strong>de</strong> uma refi<strong>na</strong>ria, <strong>de</strong> frigorífico, indústria <strong>de</strong> refino <strong>de</strong> óleos vegetais), sendo que a maioria <strong>de</strong>sses<br />

efluentes não recebem tratamento, pelo menos não integral.<br />

As <strong>água</strong>s <strong>de</strong>ssa ensea<strong>da</strong> foram caracteriza<strong>da</strong>s como eutróficas (Costa et al. 1981, Persich 1993 e<br />

Baumgarten et al. 1995). A boa aeração <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e, provavelmente, a presença <strong>de</strong> corrente e contracorrente<br />

vin<strong>da</strong>s do eixo do estuário e, ain<strong>da</strong>, as contribuições dos arroios Vieira e Simão, impe<strong>de</strong>m a evolução até<br />

condições anóxicas <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e dos sedimentos <strong>de</strong> superfície (Kantin & Baumgarten 1982).<br />

102<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.


3 – MATERIAIS E MÉTODOS<br />

NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

3.1 – Locais amostrados e periodici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Durante 15 meses, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1994 a setembro <strong>de</strong> 95, usando-se um pequeno barco, foram amostrados<br />

três locais, <strong>de</strong>scritos a seguir, afastados cerca <strong>de</strong> 30 metros <strong>da</strong>s margens do Saco <strong>da</strong> Mangueira (Fig. 1). Em<br />

junho e julho <strong>de</strong> 94 e fevereiro <strong>de</strong> 95 não foram feitas amostragens por problemas técnicos/operacio<strong>na</strong>is.<br />

– local 1: situado <strong>na</strong> margem <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong>, submetido à aportes <strong>de</strong> esgotos domésticos sem<br />

tratamento. Fica relativamente próximo a uma indústria <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> pescado.<br />

– local 2: situado <strong>na</strong> área do <strong>de</strong>ságüe <strong>da</strong> Lagoa Ver<strong>de</strong>, via Arroio Simão. Fica mais afastado <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong> lançamento direto <strong>de</strong> efluentes. É o local mais influenciado pelo aporte <strong>de</strong> <strong>água</strong>s continentais.<br />

– local 3: situado <strong>na</strong> margem oposta à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, perto do Distrito Industrial, on<strong>de</strong> existem três indústrias <strong>de</strong><br />

fertilizantes.<br />

FIGURA 1 – Sul do estuário <strong>da</strong> lagoa dos Patos e os três locais amostrados no Saco <strong>da</strong> mangueira<br />

3.2 – Estratégia <strong>de</strong> amostragem<br />

Colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>: <strong>na</strong> lâmi<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre 0,3 a 1,5m, foram obti<strong>da</strong>s amostras <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>de</strong><br />

superfície e do fundo, usando-se uma garrafa tipo Van Dorn. As amostras foram acondicio<strong>na</strong><strong>da</strong>s em frascos <strong>de</strong><br />

polietileno fechados hermeticamente e resfriados à 5°C até a chega<strong>da</strong> no laboratório, quando foram a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s.<br />

Água <strong>intersticial</strong>: em ca<strong>da</strong> local foi amostrado um testemunho sedimentar <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 40cm <strong>de</strong><br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, usando-se um cano <strong>de</strong> PVC <strong>de</strong> 10cm <strong>de</strong> diâmetro e 2m <strong>de</strong> comprimento, o qual foi enterrado <strong>na</strong><br />

referi<strong>da</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, cui<strong>da</strong>dosamente <strong>de</strong> cima do barco e, retirado sem perturbar o sedimento coletado. No<br />

menor tempo possível, o testemunho foi trazido para o laboratório, hermeticamente fechado <strong>na</strong> posição vertical,<br />

evitando misturas e compactação <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s sedimentares.<br />

No laboratório, o testemunho sedimentar foi cortado (fatiado) <strong>na</strong>s profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> 0,5; 1; 2; 5; 8; 13; 18;<br />

23; 28; 33 e 38cm. De ca<strong>da</strong> fatia <strong>de</strong> sedimento fresco, uma parte <strong>de</strong>stinou-se às análises <strong>da</strong> porosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong><br />

granulometria. A outra parte, <strong>de</strong>stinou-se à extração <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, para o que se usou um espremedor feito<br />

<strong>de</strong> várias placas <strong>de</strong> Teflon® sobrepostas. Ca<strong>da</strong> placa possuía uma cavi<strong>da</strong><strong>de</strong> no centro para acomo<strong>da</strong>r a amostra<br />

<strong>de</strong> sedimento (Balzer 1984). Depois <strong>de</strong> preenchi<strong>da</strong>s com os sedimentos, as placas foram uni<strong>da</strong>s e ve<strong>da</strong><strong>da</strong>s, já<br />

contendo entre elas, filtros <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> celulose com 0,45μm <strong>de</strong> porosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então, gás nitrogênio foi injetado no<br />

conjunto <strong>da</strong>s placas, para que a extração <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> ocorresse sob pressão em ambiente inerte, não<br />

sofrendo alterações <strong>na</strong> sua composição origi<strong>na</strong>l.<br />

Cerca <strong>de</strong> 10ml <strong>de</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foram extraídos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> fatia <strong>de</strong> sedimentos. Esse volume foi recolhido<br />

em frascos acoplados em ca<strong>da</strong> placa do espremedor, sendo as análises feitas imediatamente após a extração.<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 103


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

3.3 – Parâmetros consi<strong>de</strong>rados e métodos<br />

A salini<strong>da</strong><strong>de</strong>, a temperatura, o pH e o potencial <strong>de</strong> oxi-redução (Eh) <strong>da</strong> <strong>água</strong> foram medidos,<br />

respectivamente, com um termosalinômetro Yellow Springs, mo<strong>de</strong>lo 33 SCT e com um potenciômetro<br />

Digimed DMpH-PA, equipados com eletrodos específicos e calibrados. O amônio, o fosfato e o material em<br />

suspensão (MS) foram a<strong>na</strong>lisados pelos métodos <strong>de</strong>scritos em Baumgarten et al. (1996), baseados em<br />

Aminot & Chaussepied (1983). Os <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> ventos e chuvas foram obtidos <strong>na</strong> Estação <strong>de</strong> Meteorologia<br />

<strong>da</strong> FURG.<br />

Nos sedimentos, a porosi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong> pelo método gravimétrico <strong>de</strong> volatilização <strong>da</strong> <strong>água</strong>, e a<br />

granulometria pelo método <strong>de</strong>scrito em Wentworth (1922).<br />

Para as análises estatísticas, usou-se o programa Statistica 5.1 (Stat Soft, Inc. 1996) para os cálculos <strong>da</strong>s<br />

médias, dos <strong>de</strong>svios padrão (Tab. 1) e dos coeficientes <strong>de</strong> correlação linear <strong>de</strong> Pearson e, ain<strong>da</strong>, para as análises<br />

<strong>de</strong> variâncias (ANOVA), pelas quais foram obtidos os valores do F <strong>de</strong> Fisher (Tab. 2). Avaliações post hoc <strong>de</strong><br />

diferenças entre os resultados <strong>da</strong> ANOVA foram feitas pelo Teste <strong>de</strong> Duncan, consi<strong>de</strong>rando-se os seguintes<br />

fatores possíveis <strong>de</strong> gerar diferenciações: locais, profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e meses. Foram consi<strong>de</strong>rados significativos os<br />

coeficientes <strong>de</strong> correlação linear e os resultados <strong>da</strong> ANOVA com nível <strong>de</strong> significância (p) ≤ 0,05. Os coeficientes<br />

significativos foram citados no texto associados com o símbolo r*. Quando necessário, os <strong>da</strong>dos foram<br />

normalizados por funções logarítmicas.<br />

Os gráficos <strong>de</strong> isolinhas apresentados <strong>na</strong>s figuras 3, 5 e 6 foram elaborados no programa Surfer 6.01<br />

(1995).<br />

TABELA 1 – Médias e <strong>de</strong>svios padrão (nos parênteses) <strong>da</strong>s variáveis a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e <strong>na</strong> <strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> fatia <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar no período amostrado (n = tamanho amostral).<br />

104<br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong><br />

(n = 14)<br />

<strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong><br />

(n = 14)<br />

Prof.<br />

(cm).<br />

sup.<br />

fundo<br />

0,5<br />

1<br />

2<br />

5<br />

8<br />

13<br />

18<br />

LOCAL 1 (aportes <strong>de</strong> efluentes domésticos)<br />

Sal<br />

6.6<br />

(8,0)<br />

9,6<br />

(9,0)<br />

7,7<br />

(8,6)<br />

6,2<br />

(7,7)<br />

6,0<br />

(7,5)<br />

6,1<br />

(7,2)<br />

6,4<br />

(6,9)<br />

8,0<br />

(7,0)<br />

9,8<br />

(6,5)<br />

23 11,2 (5,6)<br />

28 12,0 (4,9)<br />

33 13,0 (3,9)<br />

38 13,8 (3,5)<br />

N-NH4 +<br />

( M)<br />

28,6<br />

(14,5)<br />

35,8<br />

(18,5)<br />

228,6<br />

(73,9)<br />

208,7<br />

(140,1)<br />

190,3<br />

(94,6)<br />

166,3<br />

(118,4)<br />

226,2<br />

(197,1)<br />

264,6<br />

(225,9)<br />

398,6<br />

(215,9)<br />

558,5<br />

(167,2)<br />

644,8<br />

(202,7)<br />

801,3<br />

(140,8)<br />

900,5<br />

(183,5)<br />

P-PO4 3-<br />

( M)<br />

5,6<br />

(3,6)<br />

7,3<br />

(3,1)<br />

7,1<br />

(4,9)<br />

5,7<br />

(3,3)<br />

10,5<br />

(7,1)<br />

12,8<br />

(15,8)<br />

31,2<br />

(55,9)<br />

59,3<br />

(67,9)<br />

67,9<br />

(25,6)<br />

92,4<br />

(24,3)<br />

99,9<br />

(25,6)<br />

101,2<br />

(30,3)<br />

104,0<br />

(17,5)<br />

Poros pH<br />

-<br />

-<br />

49,6<br />

(11,4)<br />

47,5<br />

(15,3)<br />

41,3<br />

(5,6)<br />

38,2<br />

(2,8)<br />

39,5<br />

(3,1)<br />

42,2<br />

(4,8)<br />

43,9<br />

(3,2)<br />

46,4<br />

(3,9)<br />

45,5<br />

(6,8)<br />

45,1<br />

(5,1)<br />

44,4<br />

(4,1)<br />

7,5<br />

(0,3)<br />

7,4<br />

(0,3)<br />

7,4<br />

(0,5)<br />

7,4<br />

(0,4)<br />

7,4<br />

(0,3)<br />

7,5<br />

(0,4)<br />

7,4<br />

(0,5)<br />

7,7<br />

(0,5)<br />

7,6<br />

(0,4)<br />

7,7<br />

(0,4)<br />

7,6<br />

(0,4)<br />

7,9<br />

(0,4)<br />

7,6<br />

(0,3)<br />

eH<br />

(mV)<br />

260<br />

(80)<br />

248<br />

(97)<br />

194<br />

(82)<br />

202<br />

(76)<br />

166<br />

(74)<br />

168<br />

(73)<br />

145 (101)<br />

147<br />

(95)<br />

122<br />

(98)<br />

57<br />

(100)<br />

-15<br />

(98)<br />

-78<br />

(60)<br />

-95<br />

(68)<br />

N/P<br />

9,6<br />

(10,4)<br />

4,9<br />

(2,0)<br />

101,9<br />

(138,4)<br />

63,9<br />

(67,8)<br />

22,1<br />

(14,3)<br />

17,6<br />

(10,5)<br />

10,9<br />

(6,5)<br />

6,5<br />

(3,3)<br />

6,9<br />

(2,9)<br />

7,6<br />

(3,0)<br />

7,9<br />

(4,0)<br />

9,4<br />

(3,3)<br />

9,9<br />

(4,1)<br />

MS<br />

(mg/l)<br />

65,1<br />

(62,1)<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.


Prof.<br />

(cm).<br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong><br />

sup.<br />

(n = 14) fundo<br />

0,5<br />

1<br />

<strong>água</strong> 2<br />

<strong>intersticial</strong> 5<br />

(n = 14) 8<br />

13<br />

18<br />

23<br />

28<br />

33<br />

38<br />

Prof<br />

(cm).<br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong><br />

sup<br />

(n = 14) fundo<br />

<strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong><br />

(n = 14)<br />

0,5<br />

1<br />

2<br />

5<br />

8<br />

13<br />

18<br />

23<br />

28<br />

33<br />

38<br />

Sal<br />

4,7<br />

(6,1)<br />

6,8<br />

(6,3)<br />

6,1<br />

(6,6)<br />

4,6<br />

(6,0)<br />

4,6<br />

(6,0)<br />

4,7<br />

(6,0)<br />

4,9<br />

(6,1)<br />

4,7<br />

(6,3)<br />

5,8<br />

(5,8)<br />

6,2<br />

(5,2)<br />

7,1<br />

(4,6)<br />

8,1<br />

(4,3)<br />

8,6<br />

(4,2)<br />

LOCAL 2 (sem aportes antrópicos)<br />

N-NH4 +<br />

( M)<br />

16,6<br />

(15,9)<br />

13,2<br />

(13,3)<br />

184,3<br />

(199,0)<br />

147,5<br />

(104,1)<br />

126,5<br />

(121,7)<br />

148,2<br />

(91,2)<br />

200,1<br />

(149,7)<br />

392,5<br />

(330,3)<br />

437,1<br />

(229,4)<br />

581,9<br />

(248,8)<br />

793,6<br />

(270,2)<br />

828,5<br />

(443,4)<br />

958,1<br />

(401,4)<br />

P-PO4 3-<br />

( M)<br />

1,9<br />

(1,6)<br />

5,5<br />

(8,5)<br />

4,4<br />

(1,7)<br />

3,8<br />

(3,1)<br />

8,8 (14,4)<br />

15,3<br />

(16,7)<br />

18,9<br />

(18,6)<br />

17,9<br />

(16,6)<br />

28,5<br />

(17,6)<br />

42,9<br />

(22,3)<br />

52,3<br />

(28,8)<br />

59,0<br />

(29,5)<br />

58,8<br />

(31,7)<br />

NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

Poros pH<br />

eH<br />

(mV)<br />

285<br />

(68)<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 105<br />

-<br />

-<br />

65,4<br />

(17,1)<br />

65.4<br />

(17,0)<br />

51,4<br />

(16,4)<br />

43,9<br />

(13,4)<br />

31,8 (3,8)<br />

30,3 (4,3)<br />

32,9<br />

(11,4)<br />

43,2<br />

(12,1)<br />

46,0 (9,6)<br />

46,8 (9,6)<br />

51,4<br />

(10,0)<br />

7,5<br />

(0,3)<br />

7,4<br />

(0,3)<br />

7,2<br />

(0,5)<br />

7,2<br />

(0,4)<br />

7,1<br />

(0,6)<br />

7,3<br />

(0,4)<br />

7,4<br />

(0,4)<br />

7,5<br />

(0,2)<br />

7,7<br />

(0,4)<br />

7,7<br />

(0,3)<br />

7,9<br />

(0,2)<br />

8,1<br />

(0,2)<br />

7,7<br />

(0,3)<br />

241<br />

(82)<br />

210<br />

(47)<br />

215<br />

(68)<br />

197<br />

(85)<br />

182<br />

(95)<br />

175<br />

(89)<br />

104<br />

(96)<br />

93<br />

(93)<br />

59<br />

(89)<br />

0<br />

(136)<br />

-105<br />

(83)<br />

-135 (109)<br />

LOCAL 3 (aportes <strong>de</strong> efluentes industriais)<br />

Sal<br />

N-NH4 +<br />

( M)<br />

P-PO4 3-<br />

( M)<br />

Poros<br />

pH eH<br />

(mV)<br />

6,5<br />

(7,3)<br />

24,5<br />

(19,7)<br />

11,4<br />

(10,0)<br />

-<br />

7,7<br />

(0,6)<br />

249 (110)<br />

9,6<br />

(7,6)<br />

27,3<br />

(20,0)<br />

14,2<br />

(11,7)<br />

-<br />

7,5<br />

(0,9)<br />

190<br />

(69)<br />

7,0<br />

(7,1)<br />

6,0<br />

(6,9)<br />

6,0<br />

(6,9)<br />

6,2<br />

(6,7)<br />

6,6<br />

(6,7)<br />

8,4<br />

(5,7)<br />

8,9<br />

(5,3)<br />

8,8<br />

(4,5)<br />

7,9<br />

(3,8)<br />

7,2<br />

(3,1)<br />

6,3<br />

(3,1)<br />

166,9<br />

(166,1)<br />

150,3<br />

(139,9)<br />

172,8<br />

(78,8)<br />

255,1<br />

(140,9)<br />

308,9<br />

(191,3)<br />

403,7<br />

(225,1)<br />

487,2<br />

(177,1)<br />

484,0<br />

(190,1)<br />

484,2<br />

(191,7)<br />

510,5<br />

(189,9)<br />

518,3<br />

(203,1)<br />

19,7 (6,5) 40,1 (8,1)<br />

11,4 (6,5) 38,8 (8,8)<br />

12,5<br />

(13,2)<br />

28,7<br />

(62,7)<br />

34,8<br />

(27,9)<br />

68,1<br />

(44,3)<br />

88,9<br />

(42,1)<br />

103,4<br />

(45,8)<br />

111,4<br />

(33,7)<br />

121,9<br />

(31,7)<br />

133,9<br />

(42,9)<br />

33,3 (5,6)<br />

26,2 (3,3)<br />

25,2 (1,8)<br />

25,1 (2,1)<br />

27,4 (2,5)<br />

27,9 (3,1)<br />

27,5 (2,3)<br />

27,8 (2,8)<br />

29,9 (3,6)<br />

7,4<br />

(0,5)<br />

7,5<br />

(0,4)<br />

7,6<br />

(0,4)<br />

7,7<br />

(0,5)<br />

7,8<br />

(0,5)<br />

7,9<br />

(0,5)<br />

8,0<br />

(0,5)<br />

8,0<br />

(0,5)<br />

8,2<br />

(0,5)<br />

8,5<br />

(0,5)<br />

8,3<br />

(0,5)<br />

162<br />

(52)<br />

176<br />

(79)<br />

160<br />

(42)<br />

168<br />

(53)<br />

142<br />

(61)<br />

133<br />

(45)<br />

103<br />

(59)<br />

58<br />

(83)<br />

2<br />

(80)<br />

-28<br />

(71)<br />

- 86<br />

(98)<br />

N/P<br />

16,2<br />

(15,9)<br />

11,9<br />

(16,5)<br />

52,4<br />

(75,5)<br />

56,0<br />

(45,7)<br />

27,6<br />

(24,9)<br />

20,1<br />

(19,4)<br />

24,9<br />

(24,1)<br />

30,6<br />

(24,7)<br />

22,3<br />

(18,9)<br />

17,2<br />

(11,7)<br />

22,4<br />

(25,2)<br />

15,3<br />

(11,5)<br />

18,7<br />

(15,5)<br />

N/P<br />

5,4<br />

(7,8)<br />

5,3<br />

(9,2)<br />

8,8<br />

(6,2)<br />

37,3<br />

(85,5)<br />

25,3<br />

(31,5)<br />

44,6<br />

(47,4)<br />

30,2<br />

(62,4)<br />

7,4<br />

(4,6)<br />

5,1<br />

(2,3)<br />

5,3<br />

(1,9)<br />

4,9<br />

(2,5)<br />

4,5<br />

(1,8)<br />

4,9<br />

(4,1)<br />

MS<br />

(mg/l)<br />

34,6<br />

(63,1)<br />

MS<br />

(mg/l)<br />

75,0<br />

(79,2)


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A análise dos <strong>da</strong>dos evi<strong>de</strong>nciou claramente gradientes <strong>de</strong> concentrações, que distinguem entre si a colu<strong>na</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>água</strong> e a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar. Portanto, os resultados <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses compartimentos do<br />

ambiente aquático foram interpretados separa<strong>da</strong>mente a seguir. A interface foi interpreta<strong>da</strong> mais associa<strong>da</strong> à<br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> do que à colu<strong>na</strong> sedimentar, porque a partir <strong>da</strong> interface, os gradientes <strong>de</strong> concentrações <strong>de</strong><br />

<strong>nutrientes</strong> se pronunciam mais intensamente.<br />

4.1 – Colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a interface <strong>água</strong>/sedimento (até 0,5 cm <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>)<br />

pH e Eh: os locais apresentaram pH em torno <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> e altos potenciais oxi<strong>da</strong>ntes (Tab. 1), embora<br />

estejam localizados <strong>na</strong>s margens do Saco <strong>da</strong> Mangueira, on<strong>de</strong> a <strong>água</strong> fica mais estag<strong>na</strong><strong>da</strong>, o que po<strong>de</strong>ria ter<br />

gerado condições redutoras e maior aci<strong>de</strong>z.<br />

Salini<strong>da</strong><strong>de</strong> e material em suspensão (MS): os valores <strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> medidos à ca<strong>da</strong> mês apresentaram<br />

diferenças muito significativas (Tab. 2), influencia<strong>da</strong>s pelas chuvas e pelos ventos. O padrão temporal <strong>de</strong> variação<br />

<strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> não foi o mais freqüente neste estuário (<strong>água</strong> doce no inverno e salga<strong>da</strong> no verão; Moller et al.<br />

1991), pois ocorreu uma entra<strong>da</strong> importante <strong>de</strong> <strong>água</strong> salga<strong>da</strong> entre abril e junho <strong>de</strong> 1995, apesar <strong>da</strong>s intensas<br />

chuvas ocorri<strong>da</strong>s em abril (Fig. 2). A alta salinização foi conseqüência <strong>da</strong> ação <strong>de</strong> fortes ventos dos quadrantes sul<br />

e oeste, gerando ressaca e empurrando a <strong>água</strong> salga<strong>da</strong> para <strong>de</strong>ntro do estuário.<br />

Comparando os valores <strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> dos três locais, não foram evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s diferenças significativas<br />

(Tab. 2), embora no local 2 a <strong>água</strong> sali<strong>na</strong> chegou um pouco mais diluí<strong>da</strong> que nos outros locais (Fig. 2), <strong>de</strong>vido a<br />

intensa presença <strong>de</strong> <strong>água</strong>s continentais.<br />

FIGURA 2 – Valores <strong>de</strong> precipitação pluviométrica total <strong>da</strong> sema<strong>na</strong> que antece<strong>de</strong>u a amostragem e valores <strong>da</strong><br />

salini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> d'<strong>água</strong> no local 1 ( ), no local 2 (¡ ) e no local 3 (¢ ). Direção do vento em ca<strong>da</strong><br />

amostragem em ca<strong>da</strong> local: SW = sudoeste; NE = nor<strong>de</strong>ste; SE = su<strong>de</strong>ste; E = leste; SP = sem padrão; W =<br />

oeste.<br />

Em termos <strong>de</strong> variações verticais, os valores <strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> foram muito semelhantes<br />

aos <strong>da</strong> interface (Fig. 3 e Tab. 1), o que evi<strong>de</strong>ncia um importante e relativo equilíbrio entre a <strong>água</strong> e a colu<strong>na</strong><br />

sedimentar superficial dos sais que constituem a salini<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Para o material em suspensão (MS), as concentrações do local 2 também foram menores que nos outros<br />

locais (Tab. 1), <strong>de</strong>vido a sua maior distância dos focos <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> efluentes e ao intenso <strong>de</strong>ságüe que aí<br />

ocorre <strong>de</strong> <strong>água</strong>s continentais com menor turbi<strong>de</strong>z.<br />

106<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.


Profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> (cm)<br />

Local 1<br />

interface<br />

2<br />

5<br />

8<br />

11<br />

14<br />

17<br />

20<br />

23<br />

26<br />

29<br />

32<br />

35<br />

Local 2<br />

interface<br />

NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

38<br />

a m a s o n d j m a m j j a s<br />

2<br />

5<br />

8<br />

1 1<br />

1 4<br />

1 7<br />

2 0<br />

2 3<br />

2 6<br />

2 9<br />

3 2<br />

3 5<br />

3 8<br />

Local 3<br />

in te rfa c e<br />

2<br />

5<br />

8<br />

11<br />

14<br />

17<br />

20<br />

23<br />

26<br />

29<br />

32<br />

35<br />

38<br />

a m a s o n d j m a m j j a s<br />

a m a s o n d j m a m j j a s<br />

FIGURA 3 – Variação mensal <strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar entre agosto/1994 e<br />

setembro/1995<br />

A alta concentração média <strong>de</strong> MS ocorri<strong>da</strong> no local 3 (Tab. 1) foi conseqüência <strong>da</strong> lavagem<br />

pelas chuvas <strong>da</strong>s plantas industriais <strong>de</strong> fertilizantes, o que carreia para as <strong>água</strong>s <strong>da</strong>s margens a poeira<br />

oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s emissões aéreas <strong>de</strong>ssas indústrias. Essas poeiras provêm <strong>da</strong> moagem e do processo<br />

ácido <strong>da</strong> dissolução <strong>da</strong> rocha fosfata<strong>da</strong> (fluorapatita), usa<strong>da</strong> como uma <strong>da</strong>s principais matérias prima<br />

<strong>de</strong> fósforo.<br />

Nos três locais, as menores concentrações <strong>de</strong> MS associaram-se significativamente às maiores<br />

salini<strong>da</strong><strong>de</strong>s (n = 29. Local 2: r*= -0,4. Local 3: r* = -0,8), conseqüência <strong>de</strong> que a <strong>água</strong> salga<strong>da</strong> é pobre em<br />

suspensões. No local 1, embora a correlação entre as concentrações <strong>de</strong> MS e a salini<strong>da</strong><strong>de</strong> também tenha sido<br />

inversa, não foi significativa (r = -0,2) <strong>de</strong>vido a intensa contribuição em <strong>de</strong>tritos orgânicos contidos nos efluentes<br />

domésticos lançados nessa área, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> <strong>água</strong> mais sali<strong>na</strong>.<br />

Nutrientes <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>: as variações mensais <strong>na</strong>s concentrações foram mais significativas para o amônio<br />

do que para o fosfato (Tab. 2), porque com a presença <strong>de</strong> <strong>água</strong>s sali<strong>na</strong>s houve alta diluição do amônio.<br />

Entretanto, para ambos <strong>nutrientes</strong>, não ficou <strong>de</strong>finido um padrão sazo<strong>na</strong>l <strong>na</strong>s concentrações.<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 107<br />

ups)


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

TABELA 2 – Sumário dos resultados <strong>da</strong> ANOVA para os efeitos dos fatores <strong>de</strong> variação dos resultados (• * • 0,05<br />

= diferenças significativas)<br />

108<br />

Variável Fator <strong>de</strong> variação F ρ (nível)<br />

salini<strong>da</strong><strong>de</strong> meses 03,84 0,000 *<br />

locais 00,02 0,8800<br />

Colu<strong>na</strong> amônio meses 02,53 0,008 *<br />

<strong>da</strong> <strong>água</strong> locais 04,00 0,023 *<br />

fosfato meses 00,68 0,7850<br />

locais 16,69 0,000 *<br />

salini<strong>da</strong><strong>de</strong> meses 23,33 0,000 *<br />

locais 00,92 0,3300<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s 05,68 0,000 *<br />

Água amônio meses 03,71 0,000 *<br />

<strong>intersticial</strong> locais 00,87 0,4100<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s 39,87 0,000 *<br />

fosfato meses 00,93 0,5250<br />

locais 22,41 0,000 *<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s 41,75 0,000 *<br />

Comparando-se os locais, foram significativamente diferentes as concentrações <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong> fosfato <strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> local. Além disso, as médias nos três locais (Tab. 1) foram maiores que as já registra<strong>da</strong>s no ca<strong>na</strong>l do estuário<br />

+ 3-<br />

<strong>da</strong> Lagoa dos Patos (<strong>de</strong> 1 a 5μM N-NH4 e em torno <strong>de</strong> 1μM P-PO4 - Baumgarten et al. 1995). Também foram<br />

maiores que as cita<strong>da</strong>s <strong>na</strong> bibliografia como normais em estuários não contami<strong>na</strong>dos (Aminot & Chaussepied<br />

1983; Day et al. 1987 e Froelich 1988). Isso enfatiza a eutrofia do Saco <strong>da</strong> Mangueira, já anteriormente<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> (Persich 1993 e Baumgarten et al. 1995).<br />

Nos locais 1 e 3, as médias <strong>de</strong> amônio foram em torno do dobro <strong>da</strong>s médias do local 2. Para o fosfato,<br />

foram entre dois a cinco vezes maiores que a média do local 2 (Tab. 1). Portanto, esse local foi o menos<br />

contami<strong>na</strong>do dos três locais, o que é atribuído à sua maior distância <strong>da</strong>s fontes antrópicas <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong>.<br />

Os valores médios <strong>da</strong>s razões entre as concentrações <strong>de</strong> amônio e as <strong>de</strong> fosfato (N/P) <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong><br />

nos locais 1 e 2 foram relativamente normais, ou seja, cerca <strong>de</strong> 10 (Fraser & Wilcox 1979) até 16 (Redfield 1958)<br />

(Tab. 1). Isso evi<strong>de</strong>ncia que nesses locais, embora a origem dos aportes <strong>de</strong>sses <strong>nutrientes</strong> seja diferente<br />

(antrópica no local 1 e <strong>na</strong>tural no local 2), nem o nitrogênio e nem o fósforo distinguem-se como fatores limitantes<br />

<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> fotossintética, consi<strong>de</strong>rando que é <strong>na</strong> proporção entre 10 a 16 <strong>de</strong> nitrogênio para 1 <strong>de</strong> fósforo que,<br />

basicamente, os produtores primários requerem em termos <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> para seus processos metabólicos.<br />

Os resultados mostram que o mais importante aporte <strong>de</strong> amônio para o Saco <strong>da</strong> Mangueira, seja direto<br />

(compostos amoniacais solúveis) ou indireto (<strong>de</strong>composição <strong>da</strong> matéria orgânica), ocorre <strong>na</strong> área do local 1,<br />

<strong>de</strong>vido aos lançamentos <strong>de</strong> efluentes sem tratamento, clan<strong>de</strong>stinos <strong>na</strong> maioria dos casos, oriundos <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong>.<br />

Quanto ao fosfato, o excessivo aporte no local 3 foi bem evi<strong>de</strong>nciado pelas baixas razões N/P (Tab. 1), o<br />

que sugere fortemente que a principal origem <strong>de</strong> fósforo para o Saco <strong>da</strong> Mangueira são as indústrias <strong>de</strong><br />

fertilizantes que situam-se <strong>na</strong>s proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse local. As emissões lança<strong>da</strong>s por estas indústrias são ricas em<br />

fósforo, <strong>de</strong>vido a per<strong>da</strong>s no processamento industrial <strong>da</strong> rocha fosfata<strong>da</strong> (cuja composição tem até 39% <strong>de</strong> P2O5)<br />

e <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> fertilizantes (Soria & Chavarria 1978). As poeiras contendo compostos fosfatados <strong>de</strong>positam-se<br />

nos sedimentos, on<strong>de</strong> estes compostos po<strong>de</strong>m se hidrolizar e redissolver, gerando mais fosfato dissolvido. Estas<br />

indústrias também têm efluentes líquidos que, embora oficialmente sejam consi<strong>de</strong>rados pluviais, por eles escorrem<br />

as <strong>água</strong>s <strong>da</strong> chuva que lavaram a planta industrial, enriquecendo-se nos compostos ou elementos químicos acima<br />

referidos. Visualmente, foram percebidos <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> poeiras <strong>de</strong> fertilizantes <strong>na</strong>s valetas que servem <strong>de</strong> percurso<br />

para esses efluentes hídricos <strong>de</strong>saguarem no Saco <strong>da</strong> Mangueira.<br />

A partir <strong>de</strong>ssas indústrias também po<strong>de</strong> haver algum aporte <strong>de</strong> nitrogênio, via emissões aéreas, para as<br />

<strong>água</strong>s do local 3, principalmente a partir <strong>de</strong> rejeitos <strong>da</strong> fabricação <strong>de</strong> fertilizantes dos tipos mono e diamônio<br />

fosfato. Mas, muito do nitrogênio (talvez a maior parte) assim carreado, po<strong>de</strong> estar <strong>na</strong> forma tóxica <strong>de</strong> NH3, sendo<br />

emitido como gás ou adsorvido em micro partículas químicas – aerossóis (Soria & Chavarria 1978). A ionização<br />

<strong>de</strong>sse gás <strong>na</strong> <strong>água</strong> e sua transformação em nutriente (amônio) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito do nível <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>z <strong>da</strong> <strong>água</strong><br />

receptora. Reforçando a hipótese <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> aporte <strong>de</strong> amônio, cita-se como exemplo a amostragem feita em<br />

junho <strong>de</strong> 95, quando o vento sudoeste carreou a fumaça <strong>da</strong>s indústrias <strong>de</strong> fertilizantes para as proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do<br />

local 3, tor<strong>na</strong>ndo amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> muito alto (cerca <strong>de</strong> 64μM), assim como o fosfato (32μM).<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.


NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

4.2 – Gradientes <strong>de</strong> concentrações <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> interface<br />

Fosfato: nos três locais, as concentrações médias <strong>de</strong>finiram relativamente fracos gradientes crescentes no<br />

sentido <strong>da</strong> interface, evi<strong>de</strong>nciando um relativo equilíbrio <strong>de</strong> fosfato entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a interface <strong>da</strong> colu<strong>na</strong><br />

sedimentar (Tab. 1).<br />

As concentrações <strong>de</strong> fosfato no fundo <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> foram mais aproxima<strong>da</strong>s <strong>da</strong>quelas <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>da</strong><br />

interface do que <strong>da</strong>s concentrações <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>de</strong> superfície, o que foi resultado <strong>da</strong> contribuição <strong>da</strong> colu<strong>na</strong><br />

sedimentar.<br />

Em termos comparativos, as médias <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> superfície <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> foram menores do que a<br />

<strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> interface em: 2,3 vezes no local 2; 1,6 vezes no local 3 e 1,3 vezes no local 1 (Tab. 1). Isso<br />

evi<strong>de</strong>nciou dois aspectos.<br />

O primeiro <strong>de</strong>sses aspectos é que, on<strong>de</strong> não há fontes antrópicas significativas e diretas <strong>de</strong> fósforo, como<br />

no local 2, estabelece-se entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a interface um gradiente <strong>de</strong> concentrações <strong>de</strong> fosfato<br />

levemente mais intenso do que nos outros locais. Assim generalizando, a colu<strong>na</strong> sedimentar <strong>de</strong> locais não<br />

contami<strong>na</strong>dos é o principal fornecedor <strong>de</strong> fosfato para os produtores primários, principalmente para o fitobentos,<br />

via <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> através <strong>de</strong> difusão molecular entre diferentes compartimentos líquidos.<br />

O segundo aspecto é que, em ambientes como o local 1 e, principalmente o local 3, os aportes antrópicos<br />

diretos <strong>de</strong> fosfato para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e indiretos <strong>de</strong> compostos sólidos fosfatados sedimentáveis, resultam num<br />

maior equilíbrio <strong>da</strong>s concentrações entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a <strong>água</strong> <strong>da</strong> interface. Isso diminui a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

difusão molecular para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e, por conseqüência, <strong>da</strong> contribuição <strong>de</strong> fosfato pela colu<strong>na</strong> sedimentar,<br />

on<strong>de</strong> há então, um maior armaze<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> fósforo junto aos sedimentos superficiais. Com relação a isso,<br />

Esteves (1998) <strong>de</strong>stacou a possível remoção por precipitação do excesso <strong>de</strong> fosfato <strong>de</strong> origem antrópica <strong>da</strong><br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, o que po<strong>de</strong> ocorrer por adsorção física ou química <strong>de</strong>sse nutriente em hidróxidos férricos e/ou <strong>de</strong><br />

alumínio <strong>de</strong> muito baixa solubili<strong>da</strong><strong>de</strong> e em argilas. Esse tipo <strong>de</strong> remoção é possível ser um processo importante no<br />

estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos, tendo em vista a relativa riqueza em ferro nos sedimentos finos (França 1998).<br />

Portanto, o processo <strong>de</strong> tampo<strong>na</strong>mento e relativa constância <strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> fosfato <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>de</strong><br />

estuários, citado por Liss (1976) e por Froelich (1988), po<strong>de</strong> estar ocorrendo intensamente no Saco <strong>da</strong> Mangueira,<br />

o que po<strong>de</strong>ria explicar a constatação já anteriormente referi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> que não foram significativas as diferenças <strong>na</strong>s<br />

concentrações mensais <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> (Tab. 2), apesar dos aportes a partir <strong>da</strong>s indústrias <strong>de</strong><br />

fertilizantes não serem constantes ao longo do tempo.<br />

Amônio: nos três locais, os gradientes <strong>de</strong> concentrações entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> interface<br />

foram sempre crescentes e intensos. Em geral, as concentrações <strong>de</strong> amônio foram cerca <strong>de</strong> seis vezes maiores<br />

do que as <strong>de</strong> fosfato.<br />

Portanto, houve uma intensa e constante contribuição <strong>de</strong> amônio <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong>, seja por difusão molecular, seja pela liberação e advecção <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>. Baumgarten et al (1995)<br />

constataram que a ressuspensão dos sedimentos <strong>na</strong>s ensea<strong>da</strong>s do estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos aumenta muito a<br />

liberação <strong>de</strong> amônio para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>. Por outro lado, Zarzur (2001) comentou o alto enriquecimento em<br />

amônio <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> nessas ensea<strong>da</strong>s em períodos <strong>de</strong> calmarias, quando há aumento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

microbia<strong>na</strong> <strong>de</strong>compositora <strong>na</strong> interface, resultando em posteriores incrementos nos aportes <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> para a<br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>.<br />

Em termos comparativos, as médias <strong>de</strong> amônio <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> foram menores do que a média <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong> <strong>da</strong> interface em 11 vezes no local 2; 8 vezes no local 1 e 7 vezes no local 3.<br />

Da mesma forma como para o fosfato, a maior diferença <strong>de</strong> concentrações entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a<br />

<strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> interface do local 2 sugere que, como esse local tem pouca poluição orgânica, o principal<br />

aporte <strong>de</strong> amônio para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> provêm <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, sendo então esse amônio, e mais o nitrato<br />

<strong>de</strong>le formado por oxi<strong>da</strong>ção (nitrificação) <strong>na</strong> interface, disponibilizados para os produtores primários. Assim, dos<br />

três locais estu<strong>da</strong>dos, a difusão <strong>de</strong> amônio para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> a partir <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, possivelmente, é<br />

a mais intensa em função <strong>da</strong> tendência ao equilíbrio iônico entre os compartimentos aquáticos.<br />

Nos locais 1 e 3, as menores diferenças <strong>na</strong>s referi<strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> amônio sugerem que as<br />

intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> difusão molecular a partir <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar são menores que no local 2, porque nesses locais<br />

o fluxo <strong>de</strong> amônio via <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> é um pouco mais inibido ou controlado pelo enriquecimento <strong>de</strong> amônio<br />

diretamente para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, conseqüência <strong>de</strong> ambos locais serem próximos <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> efluentes.<br />

Nos locais 1 e 3, embora os gradientes tenham sido menos intensos, foram formados por concentrações muito<br />

mais eleva<strong>da</strong>s do que no local 2.<br />

No local 1, o enriquecimento <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foi proporcio<strong>na</strong>l ao <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, <strong>de</strong>vido<br />

aos intensos aportes <strong>de</strong> matéria orgânica protéica bio<strong>de</strong>gradável <strong>de</strong> origem doméstica, a qual se <strong>de</strong>posita junto<br />

aos sedimentos, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>. Isso representa uma intensa fonte indireta <strong>de</strong> amônio para a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>,<br />

<strong>de</strong>vido a alta regeneração bioquímica do nitrogênio orgânico (amonificação). A muito alta razão N/P <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>da</strong><br />

interface do local 1 (Tab. 1) corrobora com essa hipótese.<br />

A riqueza <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> interface do local 1 ocorreu apesar <strong>de</strong> vários processos causarem o consumo<br />

<strong>de</strong>sse nutriente, <strong>de</strong>stacando-se o transporte <strong>de</strong> amônio por advecção ou por difusão molecular para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 109


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

<strong>água</strong> mais diluí<strong>da</strong>. Também, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a oxi<strong>da</strong>ção bioquímica do amônio à nitrato (nitrificação), pois<br />

Aller & Benninger (1981) concluiram que isso po<strong>de</strong> consumir até cerca <strong>de</strong> 20% do amônio formado <strong>na</strong> interface.<br />

Ain<strong>da</strong>, como mais um processo <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> amônio <strong>de</strong>staca-se a sua alta assimilação pelo microfitobêntos, o<br />

que tem uma gran<strong>de</strong> importância <strong>na</strong> reciclagem <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> do estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos (Zarzur 2001).<br />

No local 3, a contami<strong>na</strong>ção em amônio foi menor do que no local 1, tanto <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> como <strong>na</strong><br />

<strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> interface. Além disso, a maior granulometria dos sedimentos do local 3 (Fig. 4) facilita a difusão<br />

para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> do amônio formado <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar. As menores razões N/P <strong>na</strong> interface <strong>de</strong>sse local<br />

refletem o predomínio <strong>de</strong> fosfato em relação ao amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>.<br />

110<br />

Sedimentos finos (%)<br />

Meses <strong>de</strong> coleta (94/95)<br />

novembro ¡ <strong>de</strong>zembro ✱ janeiro<br />

FIGURA 4 – Perfis verticais do percentual <strong>de</strong> sedimentos finos ( < 63 µm) <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar (médias e<br />

intervalos <strong>de</strong> confiança; • • 0,05)<br />

4.3 – Água <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar<br />

pH, Eh e porosi<strong>da</strong><strong>de</strong>: foram peque<strong>na</strong>s as diferenças entre os valores <strong>de</strong> pH comparando os três locais e as<br />

distintas profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar (Tab. 1), embora no local 3, o pH elevou-se com o aumento <strong>da</strong><br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, provavelmente <strong>de</strong>vido a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> conchas soterra<strong>da</strong>s e em<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição.<br />

O Eh <strong>de</strong>cresceu com a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos três locais. Na maioria <strong>da</strong>s amostragens nos locais 1 e 2 foi<br />

constata<strong>da</strong> uma total condição redutora a partir dos 18cm <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar. Isso po<strong>de</strong> resultar <strong>na</strong> diminuição<br />

<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> vegetal, porque a <strong>de</strong>composição <strong>da</strong> matéria orgânica soterra<strong>da</strong> abaixo <strong>da</strong> sub-superfície gera<br />

gases reduzidos como o sulfídrico, o metano e a amônia, que po<strong>de</strong>m provocar a morte <strong>de</strong> rizomas e raízes <strong>de</strong><br />

macrófitas aquáticas. Por isso, nesses substratos aquáticos, predomi<strong>na</strong>ntemente proliferam vegetais flutuantes ou<br />

fitobentos que vivem <strong>na</strong> interface (Esteves 1998).<br />

A porosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a retenção <strong>de</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foi bem menor no local 3 do que nos outros, apesar dos<br />

seus sedimentos serem mais arenosos, e assim, menos reativos. Segundo Suguio (1973), apesar do tamanho <strong>da</strong>s<br />

partículas, teoricamente, não influenciarem <strong>na</strong> porosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>na</strong> prática, os sedimentos grosseiros po<strong>de</strong>m possuir<br />

menor porosi<strong>da</strong><strong>de</strong> que os mais finos, <strong>de</strong>vido as diferenças <strong>na</strong> disposição, <strong>na</strong> orientação dos grãos e pela maior<br />

cimentação ou preenchimento dos interstícios.<br />

Salini<strong>da</strong><strong>de</strong>: comparando-se os três locais, não foram evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s diferenças significativas <strong>na</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong> (Tab. 2), à exemplo do que foi observado <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>. Entretanto, os resultados mensais<br />

diferenciaram-se, embora não <strong>de</strong>finiu-se um padrão sazo<strong>na</strong>l <strong>na</strong>s variações <strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> (Tab. 2; Fig. 2).<br />

Em termos <strong>de</strong> perfil vertical, as salini<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>na</strong>s diferentes profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s também<br />

apresentaram diferenças significativas. A partir <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 18cm <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, houve uma maior integração<br />

<strong>da</strong>s variações sali<strong>na</strong>s ocorri<strong>da</strong>s <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> ao longo do tempo, pois quando ocorreu <strong>água</strong>s doces ou<br />

mixohali<strong>na</strong>s <strong>na</strong> superfície (Fig. 3), o gradiente <strong>de</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> foi crescente <strong>na</strong> direção <strong>da</strong>s maiores profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

evi<strong>de</strong>nciando o aprisio<strong>na</strong>mento e a diluição <strong>da</strong> <strong>água</strong> salga<strong>da</strong> que havia entrado em anterior regime <strong>de</strong> enchente no<br />

estuário.<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.


NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

Com <strong>água</strong>s muito sali<strong>na</strong>s <strong>na</strong> superfície (abril a junho/95) o gradiente salino inverteu, ficou <strong>de</strong>crescente e,<br />

assim, a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s continuou com características mixohali<strong>na</strong>s, chegando a<br />

salini<strong>da</strong><strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> 20 no local 1. Isso foi conseqüência <strong>de</strong> que aí os sedimentos começaram a ficar mais finos<br />

e as cama<strong>da</strong>s sedimentares mais compacta<strong>da</strong>s, embora o percentual <strong>de</strong> finos nunca ultrapassou 60% (Fig. 4),<br />

favorecendo a diminuição do transporte difusivo e advectivo, tor<strong>na</strong>ndo os processos mais lentos e mo<strong>de</strong>rados.<br />

Nutrientes <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar: repetindo-se o que foi observado <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, as<br />

variações <strong>na</strong>s concentrações mensais não apresentaram um padrão sazo<strong>na</strong>l, sendo as diferenças mais<br />

significativas para o amônio do que para o fosfato (Tab. 2). Entretanto, comparando-se os três locais, o padrão foi<br />

contrário, pois foram as concentrações <strong>de</strong> fosfato <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, e não as <strong>de</strong> amônio, que mais diferenciaram<br />

significativamente os locais entre si.<br />

Quanto às concentrações <strong>de</strong> ambos <strong>nutrientes</strong> <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>de</strong> diferentes profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ocorreram<br />

diferenças significativas (Tab. 2). Estabeleceram-se gradientes crescentes <strong>de</strong> concentrações à medi<strong>da</strong> que<br />

aumentou a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, embora esses gradientes formaram-se por diferentes amplitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> concentrações, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do local e do período amostrado (Figs. 5 e 6).<br />

Profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar (cm)<br />

Local 1<br />

interface<br />

2<br />

5<br />

8<br />

11<br />

14<br />

17<br />

20<br />

23<br />

26<br />

29<br />

32<br />

35<br />

38<br />

Local 2<br />

interface<br />

2<br />

5<br />

8<br />

11<br />

14<br />

17<br />

20<br />

23<br />

26<br />

29<br />

32<br />

35<br />

a m a s o n d j m a m j j a s<br />

38<br />

a m a s o n d j m a m j j a s<br />

Local 3<br />

in te rfa ce<br />

2<br />

5<br />

8<br />

11<br />

14<br />

17<br />

20<br />

23<br />

26<br />

29<br />

32<br />

35<br />

38<br />

a m a s o n d j m a m j j a s<br />

Concentração (μM)<br />

3-<br />

FIGURA 5 – Variação mensal do fosfato (µM P-PO4 ) <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar entre agosto/1994<br />

e setembro/1995.<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 111


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

112<br />

Profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar (cm)<br />

Local 1<br />

In te rfa ce<br />

2<br />

5<br />

8<br />

11<br />

14<br />

17<br />

20<br />

23<br />

26<br />

29<br />

32<br />

35<br />

38<br />

Local 2<br />

in terfa ce<br />

2<br />

5<br />

8<br />

11<br />

14<br />

17<br />

20<br />

23<br />

26<br />

29<br />

32<br />

35<br />

38<br />

Local 3<br />

in te rfac e<br />

2<br />

5<br />

8<br />

1 1<br />

1 4<br />

1 7<br />

2 0<br />

2 3<br />

2 6<br />

2 9<br />

3 2<br />

3 5<br />

3 8<br />

A M A S O N D J M A M J J A S<br />

a m a s o n d j m a m j j a s<br />

A M A S O N D J M A M J J A S<br />

Concentração (μM)<br />

+<br />

FIGURA 6 – Variação mensal do amônio (µM N-NH4 ) <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar entre agosto/1994<br />

e setembro/1995.<br />

Fosfato: pelo Teste <strong>de</strong> Duncan constatou-se que as concentrações <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> ao longo <strong>da</strong> colu<strong>na</strong><br />

sedimentar distinguiram-se em dois grupos, <strong>de</strong>limitados pela profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 5cm, a partir <strong>da</strong> qual, houve um<br />

intenso acréscimo <strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> fosfato.<br />

Como o local 1 e, particularmente o local 3 estão mais próximos <strong>da</strong>s fontes antrópicas <strong>de</strong> fosfato do que o<br />

local 2, a conseqüência foi que apresentaram as maiores médias <strong>de</strong>sse nutriente <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> (Tab. 1). Em<br />

janeiro <strong>de</strong> 95 salientaram-se intensos picos <strong>na</strong>s concentrações <strong>de</strong> fosfato, especialmente no local 1.<br />

No local 3, as concentrações foram muito altas, embora mais homogêneas ao longo dos meses, sendo<br />

que os máximos valores também ocorreram em janeiro. Entre março e julho <strong>de</strong> 95, a <strong>água</strong> salga<strong>da</strong> penetrou até<br />

cerca <strong>de</strong> 20cm <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar diluindo as concentrações <strong>de</strong> fosfato <strong>de</strong>sse local (Fig. 5).<br />

Os picos <strong>na</strong>s concentrações <strong>de</strong> fosfato coincidiram, em geral, com os mais intensos potenciais redutores.<br />

No local 1, mesmo <strong>na</strong>s cama<strong>da</strong>s logo abaixo <strong>da</strong> sub-superfície <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, em janeiro <strong>de</strong> 95 os valores<br />

<strong>de</strong> Eh foram em torno <strong>de</strong> –200mV, conseqüência <strong>da</strong> diminuição dos nível <strong>da</strong> lâmi<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e do aumento <strong>na</strong><br />

estag<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>s <strong>água</strong>s do Saco <strong>da</strong> Mangueira nessa época (cerca <strong>de</strong> 0,4m no local 1), porque foi um período <strong>de</strong><br />

fracos índices pluviométricos. O resultado foi um muito forte odor <strong>de</strong> sulfetos nos sedimentos sub-superficiais do<br />

local 1, maior do que nos outros locais.<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.


NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

Quanto à influência <strong>da</strong> condição redutora nos aumentos <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, Esteves (1998)<br />

enfatiza que a presença <strong>de</strong> sulfetos indica a <strong>de</strong>composição a<strong>na</strong>eróbica <strong>da</strong> matéria orgânica e a redução do sulfato<br />

<strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar abaixo <strong>da</strong> sub-superfície. Os sulfetos reagem com os íons ferrosos (que antes estariam<br />

formando o fosfato ferroso dissolvido), precipitando sob a forma <strong>de</strong> sulfeto ferroso insolúvel (FeS), o que favorece<br />

a permanência e o enriquecimento <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> do fosfato dissolvido que sobrou após a precipitação do<br />

FeS. Esse autor também comenta que a condição redutora favorece intensamente a redissolução e <strong>de</strong>ssorção dos<br />

compostos fosfatados que antes estavam associados ao ferro insolúvel (ou hidróxido férrico) por adsorção química<br />

e física.<br />

Quanto à maior homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> ocorrência <strong>da</strong>s altas concentrações <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar<br />

do local 3 em relação ao local 1, essa po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>da</strong> à maior intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> e constância <strong>de</strong> aportes <strong>de</strong> fósforo<br />

<strong>de</strong> origem antrópica, <strong>da</strong> mesma forma como relatado para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> nesse local.<br />

No local 2, as médias para o fosfato <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foram bem menores do que nos locais 1 e 3, não<br />

se manifestando picos <strong>na</strong>s concentrações em janeiro <strong>de</strong> 95, porque os seus sedimentos não estavam tão<br />

enriquecidos por fósforo <strong>de</strong> origem antrópica como estavam os dos outros locais.<br />

Nos três locais, como a cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar apresentou alto potencial oxi<strong>da</strong>nte,<br />

funcionou como uma barreira <strong>da</strong> liberação/difusão do fosfato <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, já que<br />

condições oxi<strong>da</strong>ntes não favorecem a permanência do fosfato dissolvido. Essa barreira, normalmente, é mais<br />

intensa quando há estag<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, resultando em fracos intercâmbios iônicos e favorecendo o<br />

aumento <strong>da</strong> condição redutora no interior <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, embora <strong>na</strong> interface, permaneça um potencial<br />

oxi<strong>da</strong>nte.<br />

Este padrão <strong>de</strong>stacou-se em janeiro <strong>de</strong> 95, principalmente no local 3, on<strong>de</strong> a colu<strong>na</strong> sedimentar teve um<br />

papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no armaze<strong>na</strong>mento do fósforo. Nesse caso, as cama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maior profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong><br />

sedimentar pu<strong>de</strong>ram fornecer gra<strong>da</strong>tivamente por redissolução <strong>de</strong> compostos precipitados, o fosfato para a <strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong> e <strong>da</strong>í, o fosfato migrou para a interface, on<strong>de</strong> tornou-se novamente insolúvel em função <strong>da</strong>s condições<br />

oxi<strong>da</strong>ntes aí presentes.<br />

Entretanto, quando há bioturbulência e/ou ressuspensões dos sedimentos <strong>na</strong> interface, há quebra <strong>da</strong><br />

referi<strong>da</strong> barreira e o fosfato <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar abaixo <strong>da</strong> sub-superfície po<strong>de</strong> se difundir ou haver a advecção<br />

para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>de</strong>ssa <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> mais rica em fosfato, disponibilizando esse nutriente mais<br />

intensamente para os produtores primários. É <strong>de</strong>ssa forma que o fósforo antrópico que <strong>de</strong>posita-se <strong>na</strong> colu<strong>na</strong><br />

sedimentar sob forma <strong>de</strong> partículas minerais e <strong>de</strong>tríticas, como ocorrido no local 3, <strong>de</strong>pois que se redissolve, po<strong>de</strong><br />

contribuir para o processo conhecido como “fertilização inter<strong>na</strong>”, enriquecendo a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>. Os <strong>nutrientes</strong><br />

oriundos <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar representariam a “carga inter<strong>na</strong> nutritiva” do sistema aquático (Esteves 1998).<br />

Portanto, se os sedimentos do local 3 tivessem um maior percentual <strong>de</strong> finos, e assim, fossem <strong>de</strong> mais<br />

fácil ressuspensão, como são os do local 1 e, principalmente os do local 2, a barreira <strong>da</strong> interface po<strong>de</strong>ria ser mais<br />

facilmente rompi<strong>da</strong>, liberando para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> muito rica em fosfato, mais intensamente<br />

do que ocorre <strong>na</strong> condição real.<br />

Amônio: seguindo o mesmo padrão do fosfato, foram significativas as diferenças entre as concentrações <strong>da</strong> <strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong> <strong>na</strong>s diferentes profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s (Tab. 2) e distinguiram-se dois grupos. Entretanto para o amônio, a<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar limitante dos referidos grupos <strong>de</strong> concentrações foi um pouco maior: 8cm.<br />

As eleva<strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong>s maiores profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar foram<br />

conseqüência <strong>da</strong> menor assimilação pelos produtores primários e do aumento <strong>da</strong> compactação e <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

química dos sedimentos, o que conservou o amônio formado e tornou menor o intercâmbio e a difusão molecular<br />

<strong>de</strong>sse nutriente para a interface.<br />

Comparando os locais estu<strong>da</strong>dos, as concentrações <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> não se distinguiram<br />

significativamente (Tab. 2), conseqüência <strong>da</strong>s altas variâncias dos resultados. Entretanto, nos locais 1 e 2 as<br />

concentrações foram maiores (Fig. 6).<br />

No local 1, o enriquecimento <strong>de</strong> amônio po<strong>de</strong> ter sido favorecido pela sedimentação e soterramento dos<br />

<strong>de</strong>tritos orgânicos <strong>de</strong> diversas origens antrópicas que chegam à esse local junto com os efluentes não tratados.<br />

Assim, a matéria orgânica residual, que não se <strong>de</strong>gradou <strong>na</strong> superfície, po<strong>de</strong> ter sofrido uma gradual e mais lenta<br />

<strong>de</strong>composição por bactérias a<strong>na</strong>eróbicas <strong>na</strong>s cama<strong>da</strong>s sedimentares, gerando amônio (amonificação),<br />

enriquecendo muito a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maior profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No local 2, foram inespera<strong>da</strong>s as altas concentrações <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> (médias máximas<br />

+<br />

chegaram até 958μM N-NH4 a partir <strong>de</strong> 30cm <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar) (Tab. 1 e Fig. 6), <strong>de</strong>vido a<br />

que esse local é menos impactado por aportes <strong>de</strong> origem antrópica. Os núcleos <strong>de</strong> concentrações que se<br />

formaram, dispersaram-se quando <strong>água</strong>s sali<strong>na</strong>s e, <strong>na</strong>turalmente mais pobres em amônio, entraram <strong>na</strong> colu<strong>na</strong><br />

sedimentar, causando diluições (a partir <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 95). Os acréscimos <strong>de</strong> amônio <strong>de</strong>sse local resultaram em<br />

maiores razões N/P <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar com profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> maior que 8cm, em comparação com os outros<br />

locais.<br />

Como a origem dos acréscimos no local 2 não parece ser a partir <strong>de</strong> efluentes domésticos ou industriais,<br />

outras causas po<strong>de</strong>m ser aventa<strong>da</strong>s. Numa primeira hipótese, o aumento <strong>de</strong> amônio po<strong>de</strong>ria ser conseqüência <strong>da</strong><br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 113


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

<strong>de</strong>scompactação <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar <strong>de</strong>vido a forte penetração <strong>de</strong> <strong>água</strong>s mixohali<strong>na</strong>s (outubro a <strong>de</strong>zembro/94 –<br />

Fig. 4). O choque iônico assim causado, po<strong>de</strong> ter favorecido a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos orgânicos<br />

nitroge<strong>na</strong>dos residuais, origi<strong>na</strong>dos <strong>da</strong> abun<strong>da</strong>nte vegetação <strong>de</strong>sse local, gerando amônio num processo <strong>na</strong>tural do<br />

ambiente. Também, o choque iônico po<strong>de</strong> ter provocado a <strong>de</strong>ssorção do amônio, tendo em vista que Libes (1992)<br />

<strong>de</strong>stacou que uma significativa quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> amônio po<strong>de</strong> estar armaze<strong>na</strong><strong>da</strong> por retenção e/ou adsorção em<br />

sedimentos finos <strong>de</strong>positados.<br />

Como as máximas concentrações <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> do local 2 ocorreram <strong>na</strong>s profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar on<strong>de</strong> havia intensa condição redutora, foi favoreci<strong>da</strong> a manutenção do amônio formado.<br />

Além disso, nessa ocasião a temperatura ambiental estava alta por ser verão, o que favoreceu o metabolismo<br />

celular dos microorganismos <strong>de</strong>compositores e, assim, a conseqüente amonificação a<strong>na</strong>eróbica nos sedimentos<br />

redutores (Caetano et al. 1997).<br />

Uma outra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar do local 2 é a redução bioquímica do<br />

nitrato. Esteves (1998) <strong>de</strong>screve esse processo como “amonificação do nitrato”. Segundo Libes (1992), o nitrato<br />

po<strong>de</strong> servir como aceptor <strong>de</strong> elétrons e fonte <strong>de</strong> oxigênio para microorganismos a<strong>na</strong>eróbicos durante a<br />

<strong>de</strong>composição <strong>de</strong> compostos orgânicos residuais <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar (respiração nitrato), po<strong>de</strong>ndo ser gerado<br />

amônio por excreção <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>compositores. Estes processos po<strong>de</strong>m acontecer com este nutriente, além <strong>de</strong><br />

outro processo conhecido como <strong>de</strong>nitrificação, que transforma o nitrato diretamente em nitrogênio molecular (N2).<br />

O nitrato po<strong>de</strong> ter uma maior significância como fonte <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar inter<strong>na</strong> do local 2<br />

do que nos outros locais estu<strong>da</strong>dos, tendo em vista que, segundo Day et al. (1987), particularmente em locais<br />

como o local 2, on<strong>de</strong> há intensa vegetação submersa <strong>na</strong> primavera e início do verão, é favoreci<strong>da</strong> a oxige<strong>na</strong>ção<br />

por fotossíntese <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e <strong>da</strong> interface. Assim, em ambos compartimentos ambientais, há intensa<br />

formação do nitrato por nitrificação do amônio, o qual por sua vez se formou pela <strong>de</strong>composição <strong>da</strong> matéria<br />

orgânica (amonificação aeróbica) <strong>na</strong> interface, junto às raízes. O nitrato formado se difun<strong>de</strong> para as maiores<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, num processo <strong>de</strong> equilíbrio iônico, on<strong>de</strong> ocorreria a sua redução até amônia,<br />

além <strong>de</strong> N2.<br />

Quanto ao local 3, as concentrações médias <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> não intensificaram-se tanto<br />

como nos outros locais (Tab. 1, Fig. 6), <strong>de</strong>vido ao provável maior intercâmbio com a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> motivado pela<br />

maior granulometria dos sedimentos <strong>de</strong>sse local. Entretanto, a causa principal foi o pouco aporte <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica, resultando numa menor intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos processos aeróbicos ou não, geradores <strong>de</strong> amônio em to<strong>da</strong> a<br />

colu<strong>na</strong> sedimentar.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong><br />

As variações mensais <strong>de</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> não apresentaram sazo<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

As maiores concentrações <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> e as menores salini<strong>da</strong><strong>de</strong>s relacio<strong>na</strong>ram-se ao aumento do índice<br />

pluviométrico, quando mais <strong>nutrientes</strong> <strong>de</strong> origem antrópica foram carreados para o Saco <strong>da</strong> Mangueira. A<br />

presença <strong>da</strong> <strong>água</strong> salga<strong>da</strong> causou diluição <strong>da</strong>s concentrações, principalmente <strong>de</strong> amônio. Mesmo assim, as<br />

concentrações <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> são quimioindicadores dos aportes diretos <strong>de</strong>sses<br />

<strong>nutrientes</strong> à partir <strong>de</strong> efluentes não tratados, mas também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ram <strong>da</strong>s contribuições <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar,<br />

via <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>.<br />

O Saco <strong>da</strong> Mangueira tem aporte excessivo <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> sua área lateral que fica mais próxima à Rio<br />

Gran<strong>de</strong> (local 1), o que faz com que aí o fosfato seja mais limitante do que o nitrogênio para a produção primária.<br />

Na margem oposta (local 3), há excessivo aporte <strong>de</strong> fosfato, conseqüência <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong><br />

fertilizantes. Proporcio<strong>na</strong>lmente à estes aportes, acentua-se a eutrofização.<br />

O local 2, por ser o mais afastado <strong>da</strong>s fontes <strong>de</strong> origem antrópica no Saco <strong>da</strong> Mangueira, somente po<strong>de</strong>rá<br />

ser um local referência (controle) em estudos nessa ensea<strong>da</strong>, porque apresentou concentrações médias <strong>de</strong><br />

fosfato e em amônio <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>, levemente mais altas do que as registra<strong>da</strong>s anteriormente em outras<br />

ensea<strong>da</strong>s menos contami<strong>na</strong><strong>da</strong>s (exemplo o Saco do Martins e Saco do Justino), as quais, portanto, são mais<br />

indica<strong>da</strong>s como locais referência para estudos no estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos.<br />

Colu<strong>na</strong> sedimentar<br />

A salini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> não apresentou variações sazo<strong>na</strong>is <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s. A partir <strong>da</strong> interface, os<br />

gradientes <strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> foram crescentes com o aumento <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, quando entrou<br />

<strong>água</strong> doce no Saco <strong>da</strong> Mangueira e, <strong>de</strong>crescentes quando entrou <strong>água</strong> salga<strong>da</strong>. Na colu<strong>na</strong> sedimentar com<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> maior que 18cm, a <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> apresentou-se predomi<strong>na</strong>ntemente mixohali<strong>na</strong>.<br />

As concentrações mensais <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> também não apresentaram uma<br />

variação sazo<strong>na</strong>l <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>. Quando a <strong>água</strong> marinha se fez presente <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar, houve diluição <strong>da</strong>s<br />

concentrações <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong>, principalmente no local 3, on<strong>de</strong> a maior granulometria dos sedimentos favoreceu a<br />

mistura <strong>da</strong>s <strong>água</strong>s <strong>na</strong>s cama<strong>da</strong>s mais superficiais <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar.<br />

114<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.


NUTRIENTES NA COLUNA DA ÁGUA E NA ÁGUA INTERSTICIAL<br />

Os gradientes <strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong> fosfato foram sempre crescentes no sentido <strong>da</strong>s<br />

maiores profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A amplitu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foi cerca <strong>de</strong> 6 vezes maior<br />

do que a amplitu<strong>de</strong> registra<strong>da</strong> para o fosfato.<br />

As concentrações médias <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> interface foram entre 7 a 11 vezes maiores<br />

que as <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>. Para os fosfato, as concentrações médias <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong> interface foram<br />

ape<strong>na</strong>s entre 1,3 a 2,3 vezes maiores que as <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>. Isso implica em que a colu<strong>na</strong> sedimentar<br />

<strong>de</strong>stacou-se como uma importantíssima fonte <strong>de</strong> amônio para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> do Saco <strong>da</strong> Mangueira, via <strong>água</strong><br />

<strong>intersticial</strong>.<br />

Para o fosfato, a colu<strong>na</strong> sedimentar, principalmente <strong>na</strong>s cama<strong>da</strong>s mais superficiais oxi<strong>da</strong>ntes, funcionou<br />

como armaze<strong>na</strong>dora <strong>de</strong> compostos fosfatados <strong>de</strong> origem antrópica, formando uma barreira para a liberação <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> rica em <strong>nutrientes</strong>. Isso ocorreu principalmente no local 3, on<strong>de</strong> o rompimento <strong>de</strong>ssa barreira por<br />

fatores como hidrodinâmica, bioturbulência, entre outros, aumentou a contribuição <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar para a<br />

colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> em fosfato <strong>de</strong> origem antrópica.<br />

A intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> contribuição por difusão <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> a partir <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>água</strong>, parece ser mais ou menos inibi<strong>da</strong> pelo aumento dos aportes <strong>de</strong> origem antrópica <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong> fosfato,<br />

diretamente sob forma dissolvi<strong>da</strong> para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> dos locais 1 e 3, respectivamente, diminuindo a diferença<br />

entre os compartimentos ambientais. A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta inibição baseia-se <strong>na</strong> tendência ao equilíbrio iônico e,<br />

especialmente para o fosfato, resultando num processo <strong>de</strong> tampo<strong>na</strong>mento entre a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e a colu<strong>na</strong><br />

sedimentar superficial ao longo do tempo.<br />

A colu<strong>na</strong> sedimentar do local 2 <strong>de</strong>stacou-se dos outros locais como supridora <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> para a colu<strong>na</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>água</strong>, principalmente amônio. Consi<strong>de</strong>rando que <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar <strong>de</strong>sse local os aportes <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica <strong>de</strong> origem antrópica são mais escassos, o enriquecimento <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>da</strong>s suas<br />

cama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maior profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar (>8cm), possivelmente ocorreu por processos <strong>na</strong>turais<br />

(redução do nitrato, e/ou <strong>de</strong>ssorção do amônio adsorvido, e/ou <strong>de</strong>composição a<strong>na</strong>eróbica <strong>da</strong> matéria orgânica<br />

vegetal residual soterra<strong>da</strong>).<br />

Isso evi<strong>de</strong>ncia que as concentrações <strong>de</strong> amônio e <strong>de</strong> fosfato <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>de</strong> cama<strong>da</strong>s<br />

sedimentares mais superficiais (< 8cm <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>) é que são melhores quimioindicadores dos aportes <strong>de</strong><br />

matéria orgânica bio<strong>de</strong>gradável <strong>de</strong> origem antrópica e <strong>de</strong> compostos fosfatados emitidos sob forma <strong>de</strong> partículas.<br />

No local 1, os intensos acréscimos <strong>de</strong> amônio <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong>, provavelmente tiveram origem a partir<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>composição e <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> amonificação <strong>na</strong> matéria orgânica presente nos efluentes domésticos não<br />

tratados lançados nessa área. No local 3, os acréscimos <strong>de</strong> fosfato <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> foram proporcio<strong>na</strong>is à<br />

dissolução <strong>de</strong> compostos fosfatados emitidos por indústrias <strong>de</strong> fertilizantes.<br />

As altas concentrações <strong>de</strong> amônio e fosfato <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>de</strong> cama<strong>da</strong>s sedimentares a partir <strong>da</strong> subsuperfície<br />

po<strong>de</strong>m ter influência no enraizamento em maiores profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> alguns vegetais que procuram<br />

<strong>nutrientes</strong>, principalmente em locais <strong>de</strong> fraco aporte direto <strong>de</strong> fosfato para a colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong>.<br />

Recomen<strong>da</strong>ções para estudos complementares<br />

A partir <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação qualitativa que foi feita nesse estudo dos processos que ocorrem com o nitrogênio<br />

e com o fósforo <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>água</strong> e <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> do Saco <strong>da</strong> Mangueira, a quantificação <strong>de</strong>sses processos<br />

<strong>na</strong>s ensea<strong>da</strong>s rasas <strong>de</strong>sse estuário se faz necessária (taxas <strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> difusão, advecção).<br />

Em estudos no Saco <strong>da</strong> Mangueira <strong>de</strong>vem ser avalia<strong>da</strong>s distintamente as três áreas que foram<br />

diferencia<strong>da</strong>s no presente estudo em termos <strong>de</strong> reserva <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong>, <strong>da</strong> granulometria dos sedimentos e <strong>da</strong><br />

hidrodinâmica. Também, nessa ensea<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> são necessários estudos <strong>da</strong>s taxas <strong>de</strong> sedimentação, direção e<br />

intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> circulação <strong>da</strong>s <strong>água</strong>s e níveis <strong>de</strong> matéria orgânica.<br />

O significativo efeito <strong>da</strong> salini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong>s variações <strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> <strong>na</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> dos<br />

primeiros 8cm <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> sedimentar po<strong>de</strong>rá ser mais exaustivamente avaliado em menor espaço <strong>de</strong> tempo. As<br />

amostragens <strong>da</strong> <strong>água</strong> <strong>intersticial</strong> <strong>de</strong>vem ser feitas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, em regime <strong>de</strong> vazante e <strong>de</strong> enchente no<br />

estuário.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Aos técnicos químicos José Van<strong>de</strong>rlen Miran<strong>da</strong> e a Lúcia Bohmer. Ao condutor do Barco Moralles <strong>da</strong><br />

FURG, Sr. Paulo Are<strong>de</strong>.<br />

LITERATURA CITADA<br />

ALLER, RC & LK BENNINGER. 1981. Spatial and temporal patterns of dissolved ammonium, manganese, and silica fluxes from<br />

bottom sediments of Long Island Sound, USA. J. Mar. Res., 39 (2): 295-313.<br />

ALMEIDA, MTA, MGZ BAUMGARTEN & RMO RODRIGUES. 1993. I<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s possíveis fontes <strong>de</strong> contami<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>s<br />

<strong>água</strong>s que margeiam a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong>-RS. Série Documentos Técnicos 06 - Oceanografia. FURG. Rio Gran<strong>de</strong>. 34 p.<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001. 115


BAUMGARTEN, MZB et al<br />

AMINOT, A & M CHAUSSEPIED. 1983. Manuel <strong>de</strong>s a<strong>na</strong>lyses chimiques en milieu marin. CNEXO. Brest. 395p.<br />

BALZER, W. 1984 Organic matter <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>tion and biogenic element cycling in a nearshore sediment (Kiel Bight). Limnol.<br />

Oceanogr., 29 (6): 1231-1246.<br />

BAUMGARTEN, MGZ, LFH NIENCHESKI & KN KUROSHIMA. 1995. Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s <strong>água</strong>s estuari<strong>na</strong>s que margeiam o<br />

município do Rio Gran<strong>de</strong> (RS – Brasil): <strong>nutrientes</strong> e <strong>de</strong>tergente dissolvidos. Atlântica, 17, número único. Ed. FURG. Rio<br />

Gran<strong>de</strong>: 17-34.<br />

BAUMGARTEN, MGZ, JMB ROCHA & LFH NIENCHESKI. 1996. Manual <strong>de</strong> análises em Oceanografia Química. Ed. FURG.<br />

143p.<br />

BAUMGARTEN, MGZ & LFH NIENCHESKI. 1998. Avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> hidroquímica <strong>da</strong> área portuária <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> – RS. Série Documentos Técnicos 09 – Oceanografia. Ed. FURG. Rio Gran<strong>de</strong>. 66p.<br />

BAUMGARTEN, MGZ, CEA AZNAR, JMB ROCHA, MTA ALMEIDA & PG KINAS. 1998. Contami<strong>na</strong>ção química <strong>da</strong>s <strong>água</strong>s<br />

receptoras do principal efluente doméstico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> (RS). Atlântica, 20. Ed. FURG. Rio Gran<strong>de</strong>: 35-54.<br />

CAETANO, M, M FALCÃO & MJ BEBIANNO. 1997. Ti<strong>da</strong>l flushing of ammonium, iron and manganese from inter-ti<strong>da</strong>l sediment<br />

pore waters. Mar. Chem., 58. Elsevier Science B.V.: 203-211.<br />

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). 1986. Decreto nº 88.351 <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1983. Art.20.<br />

Resolução n. o 20 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986. DOU <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> julho.<br />

COSTA NR, MGZ BAUMGARTEN, R KANTIN, JR BAPTISTA & LF NIENCHESKI. 1981 Poluição orgânica <strong>da</strong>s <strong>água</strong>s que<br />

ro<strong>de</strong>iam a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong>. Eng. Sanit., 21 (2): 222-31.<br />

DAY Jr, JW, CAS HALL, WM KEMP & A YANEZ-ARANCIBIA. 1987 Estuarine chemistry. In: Estuarine Ecology. Cap. 3. Ed.<br />

Wiley. New York: 79-143.<br />

ESTEVES, FA. 1998 Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Limnologia. 2ª ed. Ed. Interciências Lt<strong>da</strong>.. Rio <strong>de</strong> Janeiro. 602p.<br />

FRASER, TH & WH WILCOX. 1979. Enrichment of a subtropical estuary with nitrogen, phosphorus and silica. In: Neilson, B.,<br />

Cronin. (ed.). Estuaries and Nutrients. Clinfton, N.J.: Huma<strong>na</strong> Press: 481-489.<br />

FROELICH, PN. 1988. Kinetic control of dissolved phosphate in <strong>na</strong>tural rivers and estuaries: a primer on the phosphate buffer<br />

mechanism. Limnol. and Ocean., 33 (4). Part 2. July: 649-667.<br />

FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (FEPAM). 1995. Portaria SSMA n°7. Norma Técnica 003/95.<br />

Enquadramento dos recursos aquáticos <strong>da</strong> parte sul do estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos. DOU, 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1995.<br />

KANTIN, R & MGZ BAUMGARTEN. 1982. Observações hidrológicas no estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos: os elementos <strong>nutrientes</strong><br />

dissolvidos. Atlântica, 5 ( 1 ):76-92.<br />

LIBES, SM. 1992. A introduction to marine biogeochemistry. John Wiley & Sons, Inc. Singapore. Copyright. 734 p.<br />

LISS, PS. 1976. Conservative and non conservative behaviour of dissolved constituints during estuarine mixing. In: Burton, JD<br />

& PS Liss. Estuarine chemistry, cap. 4. Aca<strong>de</strong>mic Press, London: 93-127.<br />

MOLLER Jr., OO, PSG PAIM & ID SOARES. 1991. Facteurs et mecanismes <strong>de</strong> la circulation <strong>de</strong>s eaux <strong>da</strong>ns le estuaire <strong>de</strong> la<br />

Lagune dos Patos (RS, Bresil). Bull. Inst. Géol. Bassin d’Aquitaine. Bor<strong>de</strong>aux, n°49:15-21.<br />

PERSICH, GR. 1993. Ciclo anual do fitoplâncton e alguns parâmetros abióticos no Saco <strong>da</strong> Mangueira, estuário <strong>da</strong> Lagoa dos<br />

Patos. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. FURG. 120p.<br />

REDFIELD, AC. 1958. The biological control of chemical factor in the environment. Am. Scient. 46: 205-26.<br />

SORIA, FL & JM CHAVARRIA. 1978. Técnicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensa <strong>de</strong>l medio ambiente. Vol. 2 . Editorial Labor S/A. Calabria: 235-39.<br />

STAT SOFT, INC. 1996 Statistics for Windows (Computer Program Manual). Tulsa, Ok. 74104: Stat Soft, Inc., 2300. East 14 th<br />

Street.<br />

SUGUIO, K. 1973. Introdução à sedimentologia. São Paulo, Edgard Blucher, Ed. <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. 316p.<br />

SURFER VERSION 6.01. 1995 Surface mapping system. Gol<strong>de</strong>n software, Inc, 809. 14 th Street. gol<strong>de</strong>n, Colorado, 80401 –<br />

1866.<br />

ZARZUR, S. 2001. Fluxos e regeneração bêntica <strong>de</strong> <strong>nutrientes</strong> <strong>na</strong>s áreas rasas do estuário <strong>da</strong> Lagoa dos Patos. Dissertação<br />

<strong>de</strong> Mestrado. FURG. 125p.<br />

WENTWORTH, CK. 1922. A scale of gra<strong>de</strong> and class terms for clastic sediments. Jour<strong>na</strong>l of Geology, 30:377-392.<br />

Submetido: 14/12/2000<br />

Aceito: 18/07/2001<br />

116<br />

Atlântica, Rio Gran<strong>de</strong>, 23: 101-116, 2001.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!